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O ator em crise

Al Pacino se destaca em adaptação de Philip Roth que estreia nos cinemas

"O Útimo Ato", de Barry Levinson, narra depressão de intérprete veterano. Filme é inspirado no livro "A Humilhação"

02/04/2015 - 04h01min

Atualizada em: 02/04/2015 - 04h01min


Daniel Feix
Daniel Feix
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Califórnia Filmes / Divulgação
Al Pacino em O Último Ato

Podia ser Dustin Hoffman, podia ser Robert De Niro. Mas o diretor Barry Levinson escolheu Al Pacino para pôr no espelho em sua adaptação de A Humilhação, novela publicada por Philip Roth em 2009. O filme, que no Brasil ganhou o título de O Último Ato, estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros.

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A trama narra a crise criativa de um veterano ator que entra em depressão ao se dar conta de que, aos poucos, foi perdendo o talento (daí o paralelo com os nomes citados na abertura deste texto). A imagem do intérprete à frente do espelho é literal: em uma das primeiras sequências do longa, ele olha para a própria imagem e questiona sua capacidade de encarnar outra pessoa.

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Trata-se de um homem solitário. Mas que recebe carinho dos fãs - como uma jovem, filha de colegas em projetos de décadas passadas. Ela tem a metade da idade dele. É homossexual. Contudo, sente-se atraída pelo gênio decadente.

Quem a interpreta é Greta Gerwig, a protagonista de Frances Ha (2012), aqui no papel de uma persona um tanto mais complexa do que aquela que fez seu hype no circuito alternativo. O Último Ato, de todo modo, é de Al Pacino. Até porque o espectador enxerga a garota pelos olhos dele - com as características de personalidade que ele vislumbra nela, às vezes contraditórias, noutras exageradas, nem sempre com coerência evidente à primeira vista.

Outros filmes sobre o ator em crise: Birdman
E mais: Mapas para as Estrelas, de Cronenberg
E Acima das Nuvens, com Juliette Binoche

A dupla engata um romance, o que permite ao velho ator experimentar sensações diferentes, sexuais inclusive, e assim compensar as frustrações. A interpretação de Pacino é corajosa. Foge do registro realista, o que nem sempre dá certo, até porque algumas situações são propositalmente ridículas e outras, algo esquizofrênicas, à medida que temperam crises existenciais com uma comicidade nem sempre adequada.

Não que o veterano Levinson, vencedor do Oscar por Rain Man (1988), diretor de vários outros bons filmes (Sleepers, Bom Dia Vietnã, Mera Coincidência), tenha errado a mão. Quando surge da interação de seus dois atores principais, o humor flui bem - mérito intransferível da direção de cena. Para além do ótimo entrosamento entre ambos, há esse jogo rico entre o que é real e o que, sutilmente, o espectador é levado a entender como algo representativo da visão do protagonista. A condução de algumas sequências, é necessário apontar, também é digna de nota - o final impactante, por exemplo.

Se não alcança a força dramática de outros títulos recentes que abordam crises de atores (são vários, como Birdman, Acima das Nuvens e Mapas para as Estrelas), O Último Ato tem como trunfo esse hábil passeio entre a realidade e a ilusão de uma mente atormentada. Mente de Al Pacino, o que não é pouca coisa.

Philip Roth no cinema
> Indicado ao Oscar de roteiro adaptado, Paixão de Primavera (1969) é uma adaptação de Adeus, Columbus. Em 1972, foi a vez de Complexo de Portnoy ganhar as telas, em filme bastante críticado à época. Ambos foram protagonizados por Richard Benjamin.

> The Ghost Writer virou um telefilme em 1984, protagonizado por Claire Bloom, futura mulher de Roth (eles ficaram juntos de 1990 a 1995).

> Nos anos 2000, foi a vez das adaptações de A Marca Humana (que virou Revelações, de 2003, com Anthony Hopkins e Nicole Kidman) e O Animal Agonizante (batizado Fatal, de 2008, com Ben Kingsley e Penélope Cruz).

> Em 2016, está prevista a estreia da adaptação de Pastoral Americana, que deverá ser dirigido pelo ator Ewan McGregor e ter nos papéis principais Dakota Fanning e Jennifer Connelly.

Al Pacino em boa fase
> O ator surgiu para o mundo no clássico O Poderoso Chefão (1972). Foi uma escolha pessoal do diretor Francis Ford Coppola para o papel de Michael Corleone.

> Em quatro anos, acumulou quatro indicações ao Oscar, pelos dois primeiros O Poderoso Chefão (o segundo é de 1974), além de Sérpico (1973) e Um Dia de Cão (1975). Só ganharia a estatueta na oitava indicação, em 1993, por Perfume de Mulher.

> Depois, foram alguns papéis elogiados (Fogo Contra Fogo, de 1995, Advogado do Diabo, de 1997, e O Informante, de 1999) e, na sequência, outros nem tanto (O Articulador, de 2002, O Novato, de 2003, e Tudo por Dinheiro, de 2005). Ruim mesmo foram escolhas como Contato de Risco (2003), 88 Minutos (2007) e Cada um Tem a Gêmea que Merece (2011).

> Mas a fase atual é novamente boa: foi indicado ao Globo de Ouro pelo pepel-título no telefilme Phil Spector (2013), de David Mamet, e muito elogiado no ainda inédito no Brasil Salomé (2013), que protagoniza e também dirige.


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