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De fora da área

Guilherme Becker: Klopp e o Dortmund

Na terra do Borussia, repórter de ZH constata a orfandade de uma torcida fanática com a saída de seu treinador

21/04/2015 - 05h02min

Atualizada em: 21/04/2015 - 05h02min


SASCHA SCHUERMANN / AFP

Fazia frio nos arredores do Westfalendstadion em 4 de abril. Um dos derradeiros finais de semana gelados deste início de primavera na Alemanha. Em meio a uma multidão de torcedores em amarelo e preto, antes do clássico diante do Bayern de Munique, questionei alguns deles sobre uma possível saída do técnico Jürgen Klopp ao fim da temporada. Eles não falaram nada.

Não falaram nada não porque não tinham o que falar. Eles sabiam que essa possibilidade - confirmada na semana passada pelo próprio treinador - era plausível. Mas preferiram apenas me encarar, de maneira amigável e sorriso tímido, como se eu fosse um estranho no ninho - o que de fato era verdade -, desviando a atenção, tamanha a absurda e insensata questão, e logo mudando a pauta: "Götze e Lewandowski deveriam ser proibidos de jogar!" Ao que outro rebateu: "Sonhei que seria 2 a 1 para nós." Sobre Klopp, nada.

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São nesses momentos que é possível perceber o tamanho de Klopp para o Borussia Dortmund. A história começa em 2005, quando o BVB (diz-se BÊ-FAU-BÊ), fundado em 1909, viveu sua pior crise. Resultado: política de austeridade, com investimento nas categorias de base e em jogadores baratos. E o que Klopp tem a ver com isso? Bastante evidente: em 2008, aos 40 anos, um técnico jovem e ansioso por uma oportunidade assinava um contrato para um projeto que uma cidade inteira abraçou.

Jürgen Klopp vendeu uma ideia. Dortmund comprou a ideia. Com ele - e os dirigentes e os jogadores e os mais de 100 mil sócios -, as arquibancadas do Westfalenstadion têm, hoje, a impressionante média de público superior a 80 mil pessoas por jogo. Foi o passo certo, na direção certa, na hora certa.

Fez-um time. Um time bom e com custo acessível, dada a importância do Borussia para Dortmund. Em campo, a política que Klopp implantou foi a do futebol veloz, vertical, com trocas rápidas de passes, pressão na saída de bola adversária e contra-ataques mortais. Moldou a cara - por meio de um projeto - de uma torcida fanática que buscava títulos. Desta forma, conquistou duas vezes a Bundesliga, em 2011 e em 2012, uma vez a Copa da Alemanha, em 2012 (5 a 2 sobre o Bayern na final), duas Supercopas da Alemanha e chegou à final da Liga dos Campeões (derrota para o Bayern).

Um clube que já era importante voltou a ter a sua devida importância não somente na industrial Dortmund. Talentoso para treinar, hábil nas palavras, acho que Klopp é o próximo da fila para assumir a seleção alemã, assim que Joachim Löw deixar o cargo. Quando, não sei. Merecidamente, sem dúvidas.


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