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Debate

Há limites para o comportamento de professores em sala de aula?

Entre o repúdio e o desagravo, piada contada por professor de Direito acende debate sobre onde termina o profissional e começa o indivíduo

24/04/2015 - 20h28min

Atualizada em: 24/04/2015 - 20h28min


Fernanda Grabauska
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Uma declaração em tom de piada feita por um professor de Direito da PUCRS causou cisão entre os alunos do curso. Enquanto alguns se revoltaram e deram ampla divulgação nas redes sociais à afirmação de que "as leis são como mulheres, foram feitas para serem violadas", outros foram solidários ao professor Fábio Melo de Azambuja, defendendo-o como um docente "maravilhoso e querido por todos", nas palavras de uma estudante.

A discrepância e a confusão causadas pelas palavras do professor Azambuja partem, justamente, da violação de um pressuposto de sua atividade profissional. De acordo com várias teorias da docência, mais notadamente a do professor Paulo Freire, o professor, uma vez incorporado à atividade de ensinar, não pode mais fazer diferenciação entre os juízos que emite em sua atividade profissional e suas opiniões de foro privado.

- Isso tem a ver com a função do sujeito professor. Quando ele assume os preceitos do seu conhecimento, ele se assume dentro dessa postura e isso faz parte do cotidiano dele. Nesse caso, a pesquisa é a pessoa, não há distinção entre o que se ensina e o que se opina - afirma a professora da Faculdade de Educação da UFRGS Cintia Inês Bolls.

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E é essa relação dialógica que torna necessário o debate sobre os limites do comportamento dos professores em sala de aula. Uma vez que o ato de ensinar não é solitário - quando um professor ensina, não importa se no jardim de infância ou no doutorado, suas ideias estão em movimento e são sujeitas a interpretações dos olhares, dos ouvidos e dos sentimentos de cada um dos alunos -, é natural que alguns estudantes entendam mais o discurso como um ensinamento ou como uma opinião. Assim, alguns entenderam o comentário de Azambuja como uma apologia ao estupro feita por um professor e outros, como uma brincadeira feita por uma pessoa.

- Mas não há como dizer "agora quem vai falar é o professor", "agora quem vai falar sou eu" - contrapõe Cintia.

De acordo com recomendações da Unesco, a própria formação acadêmica do professor deve ser estruturada de modo que a ética profissional ultrapasse sua função social e se manifeste também na vida pessoal.

Em meio à discussão, a postagem que originou a polêmica já alcançou quase 130 compartilhamentos. Pressionada por providências por seu Diretório Central Estudantil, a PUCRS, em nota, disse que "os fatos já estão sendo averiguados pela Faculdade de Direito, que irá ouvir o professor e, conforme as informações coletadas, tomar as medidas cabíveis para o caso. A PUCRS e a Faculdade de Direito não compactuam com qualquer manifestação ofensiva". O professor Azambuja disse que "o assunto já está encerrado na faculdade" e não quis comentar o caso.

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*Zero Hora


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