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Por que a chegada da menopausa não significa o fim da vida sexual feminina

Especialistas falam como driblar alguns efeitos da etapa que marca o fim do ciclo reprodutivo da mulher

29/05/2015 - 18h01min

Atualizada em: 29/05/2015 - 18h01min


Arte de Gonza Rodriguez / Especial

Se você já passou dos 40 anos e está insatisfeita com sua vida sexual, pense antes de culpar a menopausa que se aproxima. A solução tem muito menos a ver com a queda dos hormônios do que se costuma imaginar. Especialistas garantem que, se o sexo era satisfatório antes dessa etapa, a tendência é de que a chegada da menopausa (a última menstruação) não interfira na qualidade das relações.

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Para José Maria Soares Junior, supervisor do setor de ginecologia endócrina e climatério do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), fatores ambientais e comportamentais estão diretamente relacionados ao rumo que tomará a vida sexual da mulher depois dos 40 anos.

- A sexualidade é um assunto bem complexo, porque não se trata somente da parte hormonal. Envolve também a questão psíquica da paciente. Não é só relacionamento, mas também o estado emocional da mulher. Muitas atravessam problemas profissionais ou relacionamentos que não dão certo nesse período. Outras veem os filhos saírem de casa ou retornar ao lar, algo que tem sido uma constante na nossa população. Então, tudo isso influencia - diz o ginecologista.

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A questão de a queda dos hormônios não carregar tanta influência na vida sexual após a menopausa foi ressaltada por um estudo publicado recentemente no Journal of Sexual Medicine, publicação da Sociedade Internacional de Medicina Sexual. Os pesquisadores Andrea Burri, Peter Hilpert e Timothy Spector acompanharam por quatro anos um grupo de 507 mulheres britânicas, 178 em pré-menopausa (período definido como os anos antes da última menstruação) e 329 em pós-menopausa (os anos logo após o último ciclo menstrual). Ao final da pesquisa, o percentual daquelas que relataram algum tipo de disfunção sexual era praticamente o mesmo nos períodos pré e pós-menopausa: 22% e 23%.

No estudo, desejo e excitação foram apontados como principais condicionantes do declínio da função sexual, antes ou depois da menopausa.

A sexóloga Lúcia Pesca lembra que, segundo um estudo revolucionário publicado em 2001, da psiquiatra canadense Rosemary Basson, os desejos sexuais feminino e masculino são diferentes. A médica concluiu que diversos fatores - e não necessariamente o desejo - podem motivar a mulher a entrar em uma transa, como, por exemplo, o sentimento pelo parceiro. Tudo isso deve ser levado em conta e relembrado nesse período de transição do ciclo reprodutivo.

- O que quer dizer isso: a mulher entra na relação sem muita vontade. E a que lê isso pensa: "Mas, então, quer dizer que eu tenho de entrar na relação sem tesão?". A questão é que, às vezes, tu entras em uma relação por outras motivações que não o desejo sexual. Daí a mulher começa a transar, ela se excita pelo que ambos estão fazendo e a partir daí despertam os hormônios dentro dela, o desejo. Então, primeiro ela se excita para depois ter desejo. O homem precisa primeiro ter desejo para depois se excitar - explica Lúcia.

Segundo a sexóloga, a maneira como a própria mulher encara sua sexualidade muitas vezes a impede de ser feliz na cama.

- Como a vida inteira pensamos que precisávamos ter primeiro desejo para entrarmos em uma relação sexual, no momento em que alguma coisa hormonal, comportamental ou emocional influencia, a mulher pensa: "Eu não tenho tesão. Então, não vou entrar (na relação), porque não vou me violentar". Com isso, ela vai deixando o próprio desejo de lado. Quando chega na menopausa, e realmente tem uma interferência dos hormônios, esse ranço é corroborado: o de que a mulher sem desejo sexual não pode transar - afirma.

As condições de saúde da mulher também são fator importante no pós-menopausa, ressalta a ginecologista Maria Celeste Osório Wender:

- Inúmeros fatores interferem (na sexualidade). Desde questões que envolvem autoestima, saúde em geral, ingestão de medicamentos, o parceiro, como era a vida sexual dessa mulher no momento pré-menopausa.

A transformação

FASE DE TRANSIÇÃO - Surgimento dos primeiros sintomas, que podem ocorrer de dois a sete anos antes da última menstruação. Ciclo menstrual alterado. Sangramentos frequentes ou com atraso. A quantidade do fluxo menstrual também pode se modificar, para mais ou para menos. Ondas de calor, irritabilidade e alterações de sono podem ser associados a esse período.

ENTRE 48 E 50 ANOS - Em média, é nesse período que ocorre a última menstruação, ou seja, a menopausa propriamente dita. A mulher só vai ter certeza de que passou pela menopausa após um ano sem menstruar.

PÓS-MENOPAUSA INICIAL - Até cinco anos após a última menstruação: a mulher ainda pode apresentar sintomas como irritabilidade, alterações de sono e ondas de calor.

PÓS-MENOPAUSA TARDIA - Entre cinco e 10 anos após a última menstruação: os sintomas mais comuns associados a essa fase são o ressecamento vaginal e a osteoporose.

Climatério é definido como a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. Tem início desde quando os ovários sutilmente reduzem sua função (cerca de 40 anos), até os 65 anos.

 


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