Série Meu Filho Tem um Problema
Saiba como a anorexia se manifesta em crianças e adolescentes
Distúrbio, que tem como característica uma preocupação excessiva em perder peso, é a doença psiquiátrica que mais mata
Alguns se recusam a comer certos alimentos. Outros adoram repetir o prato. E ainda tem aqueles que costumam pular refeições. Crianças e adolescentes lidam de diversas formas com a alimentação. Se, em muitos casos, as fases ruins mudam com o passar dos anos, em outros, é preciso ficar mais atento.
Quando certos comportamentos se tornam exagerados e vêm acompanhados de outros sinais, como mudanças bruscas de humor, problemas de convívio social, excesso de exercícios ou perda de peso evidente, é preciso levantar a hipótese de a criança estar sofrendo de um transtorno alimentar.
Leia o relato da mãe de uma adolescente diagnosticada com anorexia
O principal deles, a anorexia, é a doença psiquiátrica que mais mata no mundo. Causa mais estragos, inclusive, que a depressão. Dados internacionais estimam que os transtornos alimentares podem afetar até 10% dos jovens, um número que tem crescido ao longo dos últimos anos, conforme publicação da revista da Academia Americana de Pediatria.
Especialistas explicam como a anorexia se manifesta em crianças e adolescentes:
No Brasil, faltam estudos específicos, mas, na prática clínica, a tendência se repete.
- A incidência de anorexia, que está relacionada com uma preocupação intensa com ganho de peso e uma perturbação significativa da imagem corporal, tem crescido muito entre jovens nas últimas décadas. Isso é extremamente preocupante, pois ela pode interferir seriamente no desenvolvimento físico e intelectual de crianças e adolescentes - destaca a psiquiatra Luiza Heberle, da equipe do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS.
Conheça os sinais, tratamentos e saiba o que fazer
São crianças e adolescentes que manifestam um temor obsessivo de aumentar de peso. Deixam de se alimentar, dormem mal, escondem alimentos, contabilizam calorias e, por vezes, recorrem a remédios e outras medidas mais extremas, como forçar o vômito.
Eles transferem para a alimentação não só os problemas relacionados a sua imagem corporal, mas também outros conflitos com os quais, pela imaturidade ou pelo despreparo, não sabem lidar. São distúrbios da mente com reflexos severos para o corpo.
Danos físicos e intelectuais
Um estudo conduzido pelo Renfrew Center Foundation - centro de pesquisas sobre distúrbios alimentares -, nos Estados Unidos, estimou que 20% das pessoas que sofrem de anorexia morrem prematuramente por complicações da doença, como suicídio ou problemas cardíacos. Nos jovens, os reflexos do transtorno são ainda mais avassaladores.
Esse é um momento da vida marcado pelo crescimento físico e pelo aprimoramento intelectual, em que os ossos crescem, o cérebro ganha massa, e o coração bombeia mais forte para alimentar essas mudanças. Quando o aporte de calorias é reduzido drasticamente durante esses processos, o corpo fica mais suscetível a danos físicos e intelectuais, como osteoporose e problemas cognitivos. Por isso, pais devem ficar atentos aos primeiros sinais da doença.
Estudo descobre ligação entre anorexia e hiperatividade
A perda de 15% da massa corporal já pode ser sintoma de anorexia. Mas há outros indícios mais sutis, como a baixa autoestima, ansiedade em excesso e o pensamento fixo em emagrecer. Isso porque mais da metade dos anoréxicos apresenta, também, outros transtornos psiquiátricos, como a depressão ou o transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
Problema está relacionado a fatores biológicos e ambientais
Especialistas ainda não sabem ao certo quais fatores desencadeiam a anorexia entre adolescentes e crianças. Conforme uma investigação realizada por cientistas britânicos no hospital Great Ormond Street, em Londres, a doença está vinculada, ao menos parcialmente, a fatores genéticos. Mas a herança biológica não é a única responsável pela manifestação do distúrbio, explica o psiquiatra da infância e adolescência e membro do programa de Transtornos Alimentares do Centro de Atenção Psicossocial do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Victor Mardini:
- Uma interação de fatores de risco biológico, ambiental e psicológico, aliada à pressão cultural atual com ênfase no "ideal de magreza", está fortemente associada aos quadros de anorexia.
Mardini destaca, ainda, que problemas relacionados ao ambiente familiar, como pais muito exigentes e perfeccionistas ou o distanciamento afetivo entre pais e filhos, podem colaborar com o aumento de casos de anorexia. Em muitas situações, a negação à comida pode ser uma forma de a criança manifestar sua insatisfação com o que ocorre ao seu redor.
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Para a mãe de Fernanda, que relata o problema da filha no início desta reportagem, um conjunto de situações dentro e fora de casa levou a jovem a desenvolver a doença. E foi preciso uma forte intervenção da família e de especialistas para que o desfecho de sua história não fosse trágico.
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