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Operação Radioatividade

Presidente licenciado da Eletronuclear teria recebido R$ 4,5 milhões de propina

O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva foi preso na manhã desta terça-feira, no Rio de Janeiro

28/07/2015 - 11h10min

Atualizada em: 28/07/2015 - 11h10min


FÁBIO MOTTA / ESTADÃO CONTEUDO
Agentes da Polícia Federal estiveram no prédio da Eletronuclear, no centro do Rio de Janeiro

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Preso na manhã desta terça-feira na 16ª fase da Operação Lava-Jato, o presidente licenciado da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, teria recebido R$ 4,5 milhões de propina em contratos da Andrade Gutierrez e da Engevix, de acordo com as informações da Polícia Federal.

Em coletiva de imprensa em Curitiba, a PF detalhou a Operação Radioatividade, deflagrada na manhã desta terça-feira. A nova fase da Lava-Jato investiga envolvidos na construção de Angra 3. Além das empresas Camargo Correa, UTC, Techint Engenharia, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Odebrecht e EBE, a Engevix, que possui contratos com a Eletronuclear, também foi alvo das investigações.

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De acordo com a PF, Othon Luiz Pinheiro da Silva teria negociado um esquema de cartas marcadas com empresas que entraram em licitações para a construção de Angra 3. Um dos fatores que mais impressionaram os investigadores foi o fato de pagamentos terem sido efetuados pela Andrade Gutierrez mesmo após a prisão de executivos de outras empresas, em dezembro de 2014.

A empresa de Othon da Silva, a Aratec Engenharia, "recebeu pagamentos vultuosos" também de empresas que compõem o Consórcio Angramon. A Aratec recebeu no mesmo período pagamento das empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix, ambas com contratos com a Eletronuclear, por meio de empresas intermediárias CG Consultoria, JNobre Engenharia, Link Projetos e Participações Ltda. e a Deutschebras Comercial e Engenharia Ltda., "algumas com características de serem de fachada".

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"No caso mais claro, foi constatado que a empresa CG Consultoria, Construções e Representação Comercial Eireli recebeu entre 2009 e 2012 R$ 2,9 milhões da Construtora Andrade Gutierrez e transferiu, entre 2009 a 2014, R$ 2,7 milhões para a Aratec. A CG Consultoria não tem qualquer empregado e na prática, descontados os custos tributários, repassou o recebido pela Andrade Gutierrez à Aratec, empresa controlada por Othon Luiz", apontou o juiz federal Sérgio Moro, que determinou a prisão temporária do presidente licenciado da Eletronuclear.

"A JNobre Engenharia e Consultoria Ltda., que tem o mesmo endereço que a CG Consultoria, depositou R$ 792,5 mil nos anos de 2012 a 2013 na conta da Aratec Engenharia. Nestes mesmos anos, recebeu R$ 1,4 milhão da Andrade Gutierrez. A aparente utilização dessas empresas como intermediárias de repasses também é evidenciada pela análise dos pagamentos individualizados. A título de exemplo, a CG Consultoria recebeu da Andrade Gutierrez, em 03/2012 e 06/2012, R$ 300 mil em cada um desses meses e repassou R$ 220 mil em cada um desses mesmos meses à Aratec Engenharia (evento 25, out12 e out13). Em 08/2011, a CG recebeu também R$ 300 mil da Andrade Gutierrez e repassou em 09/2011 R$ 220 mil à Aratec."

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Segundo despacho do magistrado, em abril de 2009, tendo recebido da Andrade R$ 300 mil e repassado R$ 250 mil à Aratec em maio de 2009. A Deutschebras recebeu, em novembro de 2014, R$ 330 mil da Andrade Gutierrez e, em dezembro de 2014, repassou R$ 252.300 para a Aratec.

Além do almirante, foi preso o empresário Flávio Barra, presidente global da Andrade Gutierrez, ambos no Rio de Janeiro. A PF cumpre, ainda, cinco mandados de condução coercitiva, além de 23 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo.

Executivo diz que mensagens eram "anotações pessoais a si mesmo dirigidas"

Serão encaminhados para prestarem esclarecimentos na Polícia Federal executivos ligados a grandes empreiteiras, citados na delação premiada de Dalton Avancini, da Camargo Corrêa: Renato Ribeiro Abreu, Fábio Adriano Gandolfo, da Oderbrecht, Petrônio Braz Junior, da Queiroz Galvão, Ricardo Ourique Marques, da Techint Engenharia e Carlos Peixoto, da Engevix.

Principal alvo desta fase da investigação, a Eletronuclear foi criada em 1997 para operar e construir usinas termonucleares e responde hoje pela geração de cerca de 3% da energia elétrica consumida no país. Othon Luiz Pinheiro da Silva estava à frente da empresa desde 2005.

A Andrade Gutierrez disse que está acompanhando a 16ª fase da Operação Lava-Jato e destaca que sempre esteve à disposição da Justiça. Seus advogados estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar.

Na 15ª fase da operação, realizada no início de julho, o ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada foi preso preventivamente no Rio de Janeiro. Ele havia sucedido no cargo a Nestor Cerveró, que também está detido em decorrência das apurações da Lava-Jato. O foco da etapa foi o pagamento de propinas na diretoria Internacional da Petrobras.


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