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De Fora da Área

Vinícius Fernandes: o Inter não perdeu para ele mesmo

Jornalista rechaça a tese de que o time gaúcho foi derrotado por seus erros, lembrando que o clube mexicano investiu R$ 75 milhões

24/07/2015 - 09h30min

Atualizada em: 24/07/2015 - 09h30min


ALFREDO ESTRELLA / AFP

Quando rumava ao Beira-Rio para assistir ao primeiro jogo da semifinal da Copa Libertadores logo fui avisado pelo taxista que, mesmo gremista, tomou a liberdade de apostar num placar assim que me viu de jaqueta colorada: "3 a 0 fácil para o Inter hoje", cravou o homem, sem titubear. Perguntei-lhe a razão para tamanha convicção num time que cambaleava há algumas rodadas no torneio nacional. "Time mexicano não faz frente", respondeu.

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A máxima de que equipes mexicanas se fragilizam em momentos de decisão imperou nas redes sociais entre o apito final da partida contra o Santa Fe e o pontapé inicial do jogo de semana passada. E a velha máxima sugeria que só havia um adversário capaz de tirar a taça do Inter: o próprio. E ano após ano essa certeza se reproduz, mesmo num momento crítico do futebol brasileiro, onde a Seleção enfrenta uma crise de identidade e os clubes sequer conseguiram ficar entre os quatro melhores da última da Libertadores. Na ocasião, muito se questionou o nível técnico da edição vencida pelo San Lorenzo, mas pouco se problematizou a atuação pífia dos seis clubes que representavam o Brasil.

Este ano o receituário se repetiu: de setores da crônica esportiva e da torcida partiram críticas que justificavam a derrota nas escolhas de Diego Aguirre e na preparação programada com a direção. Análises que, talvez inconscientemente, ignoraram o fato de que o Inter enfrentou anteontem um time que tirou R$ 75 milhões dos cofres para contratar. A verdade é que ninguém na América Latina sacudiu tanto o mercado quanto o Tigres nos últimos meses.

Somaram-se a um elenco que só havia perdido uma partida na Libertadores o francês Andre Pierre Gignac, os mexicanos Jurgen Damm e Javier Aquino e o nigeriano Ikechukwu Uche - este último ainda não estreou. O trio colocou os antigos titulares Guerrón, Esqueda e Álvarez no banco de reservas antes mesmo do primeiro treino. Talvez os colorados não soubessem com quem estavam topando, mas o matreiro Tuca Ferretti sabia que tinha em mãos potencial suficiente para derrubar o Inter. E derrubou com quatro gols. Dois deles com participação direta dos recém contratados.

Damm infernizou a vida de Geferson, e William certamente verá a imagem de Aquino nos seus próximos pesadelos. Os velocistas mexicanos só tinham olhares para Gignac, que, com a naturalidade de quem vive há três anos em Monterrey, fez o que quis com Ernando em 180 minutos. Que esta Libertadores não seja lembrada como "aquela que o Inter tinha tudo para vencer". Não tinha. Faltou coletividade para superar um belo adversário, que enfrentará outro bom time na final. O 7 a 1 é o resultado de anos de prepotência futebolística e alterar este quadro exige uma mudança cultural não só de quem produz futebol, mas também quem consome e repercute.


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