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Opinião

Felipe Dalcarobo: "eu quero que nunca se esqueça"

É preciso rever nossa relação com o trabalho com foco nas prioridades na vida

28/08/2015 - 18h21min

Atualizada em: 28/08/2015 - 18h21min


Felipe Dalcarobo
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Mais do que trocar tempo por dinheiro, trabalhar deve ser o seu jeito de transformar vidas. Osho era um gato vira-latas laranjinha listrado, de 20 meses de idade, igual àquele do pacote de ração. Todos os dias me recebia ansioso ao abrir a porta, ao chegar no fim do dia. Era hora do passeio de 10 a 30 minutos. Sim, ele tinha uma guia com peitoral, igual aos cachorros do condomínio. Na última quinta-feira, antes de apagar as luzes para dormir, procurei o Tony, nosso outro gato, que estava dormindo dentro de uma caixa de papelão escondida no escritório. Talvez o único objeto que ainda tenha o cheiro do seu mestre felino. Reconheci a mensagem em seus pequenos olhos e concordei: sentimos muito a falta dele.

Hoje faz 10 dias que a leucemia resumiu sua breve existência conosco. Ele se foi e deixou muita saudade. Ao contrário do senso comum, era um gato muito carinhoso. Parece que sentia: quando algo não ia bem, aparecia para nos fazer companhia.

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Isso me faz lembrar do quanto somos treinados durante nossa vida a pensar em nossa satisfação em primeiro lugar, sem nos preocuparmos desinteressadamente pela situação dos demais. Qual foi a última vez que você parou tudo para escutar - sem distrações - o problema de alguém?

Queremos melhores condições de trabalho, aumento de salário, benefícios e participação nos lucros. Mais clientes, mais lucros, aumentar nossa fatia de mercado. Também queremos elogios, recomendações, curtidas e compartilhamentos. Fim da corrupção, redução de impostos, do dólar e dos juros. Que o mundo gire ao redor para se alinhar com nossos desejos. O problema é que também há tantos outros querendo tudo isso - quem deve ser atendido primeiro?

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Ghandi já dizia: olho por olho só vai deixar o mundo cego. Estamos em um momento de olhar mais para o lado - e para baixo - do que para cima. O mundo não foi feito para ser gasto, mas compartilhado. Feliz de quem age em prol de uma causa, do líder que serve a seu propósito e a quem dele se beneficia.

É uma questão de atitude, não de cargo ou hierarquia. Seja o CEO ou o zelador, para ele nenhum trabalho é baixo, tampouco difícil demais. Aquele que tem a coragem de assumir essa posição é lembrado. Todos sabem quando não está, sente-se sua falta - muita falta. Esse alguém é você? Você deixa saudade ao sair de casa, do trabalho, da reunião de amigos ou do almoço de domingo?

É preciso rever nossa relação com o trabalho. Largar mão da obrigação - você não é obrigado a trabalhar. Devemos sempre buscar fazer o melhor possível, não pelo medo de ficar para trás, pelos louros do reconhecimento, da meta batida, pela excelência ou conformidade - mas porque é o único jeito de não desperdiçarmos o precioso tempo que nos foi dado. Sempre há uma alternativa para quem se propõe genuinamente a realizar seu propósito.

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Responda rápido: o melhor chefe que você teve foi aquele que se importava mais com o próprio sucesso ou com você?

Enquanto termino este texto, observo o Tony descansando. Penso que dentro de mais alguns dias sua pequena mente ronronante já se esqueça da ausência do irmão que partiu. Até lá, todos os cheiros ainda teimosos nos objetos do apartamento já terão se esgotado. A vida segue e é bom para lembrar que no fim das contas ninguém se arrepende da conta que não pagou no dia ou do relatório que atrasou, mas lembra para sempre daquele dia que poderia ter se esforçado um pouco mais para fazer a diferença e viver por mais tempo na lembrança de alguém.

Felipe Dalcarobo escreve mensalmente em Zero Hora.

*Zero Hora


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