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App do ano

Snapchat ganha adeptos vendendo ideia de privacidade com mensagens que se apagam

Aplicativo recebe quase 100 milhões de novos snapchatters por dia

14/08/2015 - 23h54min

Atualizada em: 14/08/2015 - 23h54min


Greyce Vargas
Greyce Vargas
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Omar Freitas / Agencia RBS
A estudante de nutrição Isadora de Almeida utiliza o app desde a hora em que acorda

Se você notou que os jovens que povoavam o Facebook andam sumidos, saiba que tem outro espaço da internet onde eles estão deixando rastros. Ou melhor, não estão deixando rastros por lá. Com a promessa de apagar as mensagens assim que são vistas, o Snapchat é o lugar onde a gurizada escolheu montar acampamento agora.
O aplicativo nasceu em 2011, mas só em 2014 é que os brasileiros começaram a baixá-lo massivamente. E, agora, em 2015, a empresa comemorou um dado que comprova isso: são quase 100 milhões de usuários ativos por dia.

No país, o app já é um dos 10 mais baixados entre quem tem Android e IOS como sistema operacional do celular (é o sexto colocado na loja da Apple e o nono na Google Play). Nos Estados Unidos, o movimento de migração começou um pouco antes. Por lá, o Snapchat fechou 2014 como a terceira rede social preferida de quem tem entre 18 e 34 anos, na esteira de Facebook e Instagram e deixando para trás os consagrados Twitter, Vine e Tumblr. Entre o público mais jovem, a curva de crescimento mira as estrelas. Até junho deste ano, o número de usuários dobrou em relação ao ano anterior só entre os norte-americanos.

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O que explica tamanho crescimento? A privacidade, dizem os mais experientes. Ver e mostrar a vida como ela é, aponta quem navega há pouco tempo. Para quem não o conhece, explicamos: o Snapchat é um aplicativo em que as mensagens são produzidas em formato de vídeo ou foto. É possível fazer post de duas formas: para usuários selecionados (que poderão ver o vídeo ou a foto uma única vez, por, no máximo 10 segundos, sem poder sequer salvar a postagem) ou público (o que deixará a mensagem visível por 24 horas).

- A vigilância constante que a presença da família impõe no Facebook incomoda quem deseja ser mais despretensioso. O Facebook virou o espaço da vida editada. Há um ar de espontaneidade no Snapchat, com vídeos e fotos imperfeitos, na maioria das vezes, que seriam "impublicáveis" no Facebook. Além disso, o "grandão das redes" cria uma timeline que deixa o passado à mostra e o Snapchat só mira o presente - explica Ludmila Lupinacci, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS.

É a promessa do "queime depois de ler" que tem conquistado tanta gente. No início, o #mandanudes (solicitações de imagens íntimas, em que a pessoa aparece nua ou seminua) estava entre os mais pedidos. Aos poucos, segundo a pesquisadora, os sexting (junção das palavras de sex e texting que significa a troca de conteúdos eróticos através de celulares), foram dando espaço a novos tipos de publicações, mais descompromissadas e menos sexuais.

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Para Natalia Pegoraro,  gestora de conteúdo da agência Goya, a ideia de privacidade que o aplicativo concebe é relativa.

- O Snapchat é uma rede bem mais fechada do que outras, por isso dá essa sensação de segurança ao usuário. É isso que motiva, principalmente, os jovens, a publicarem coisas mais "cruas", ao vivo. Isso faz mais sentido para o público, parece mais real, e derruba a forma consagrada de produções que são planejadas, produzidas, editadas e, então, postadas - diz.

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O Snapchat é um mix do que existe e, ao mesmo tempo, diferente de tudo o que está disponível. Assim como o Facebook, a rede atualiza e aproxima os usuários. Como o Twitter, só pensa no que está acontecendo agora. Privilegia imagens e vídeos curtos, tal qual a proposta do Instagram. No entanto, não dá chances para que os arquivos sejam consultados depois da postagem.

- Uso o Snapchat como um diário, um miniblog. Há uma troca muito legal com meus amigos. Eu posso contar ali o que eu fiz na academia, alguma comida legal que preparei e as novidades da minha empresa. O Snapchat já é a rede que eu mais uso. O Facebook não tem mais graça - conta a publicitária Bruna Guaragna, 25 anos.

Bruna usa o app como um miniblog e planeja criar uma conta para sua empresa

Contato direto com "famosos"

Na página do Facebook de Gabriela Pugliesi, há posts novos todos os dias. Nenhum dá dimensão da rotina da blogueira fitness como seus Snaps. Os seguidores pedem para ela falar do fim do relacionamento: ela conta. Pedem dicas para cuidar do cabelo: ela mostra. Querem saber o que ela come no café da manhã: ela filma.

Atualização do Snapchat permite troca de mensagens em texto e vídeo

O mesmo acontece com Dr. Barakat. O médico especialista em endocrinologia é conhecido por ser o "guia nutricional" de algumas celebridades. A própria Pugliesi já foi cliente dele. Aos 53 anos, ele não faz parte da maioria que cria um novo perfil no aplicativo. Ainda assim, é seguido por quase 15 mil pessoas. Desde a hora em que acorda, Mohamad Barakat dá início à transmissão. Lá estão vídeos preciosos para os seguidores: o lanche da escola da filha, dicas de alimentação, as consultas com pacientes conhecidas.

- No início, não dei dimensão para o retorno que viria e mostrava muitos momentos que deveriam ser privados, como a escola da minha filha. Com isso, tive que mudá-la de colégio porque me alertaram que a coloquei em perigo - conta - Hoje, ainda que eu mostre o dia a dia da minha família, meu Snapchat é uma forma de praticar medicina preventiva. Eu mostro para as pessoas que alimentação saudável é uma coisa boa, a importância dos exercícios. As pessoas estão interessadas nisso, estão carentes desse tipo de informação. Faço até o "50 tons de bronca", em que xingo os seguidores porque não estão cuidando da própria saúde.

Por que vale a pena baixar o Snapchat

Ainda que tudo pareça muito informal, há quem diga que o futuro da comunicação passa pelo aplicativo. A CNN e o Buzzfeed aproveitaram as mais recentes atualizações do Snapchat para ocupar espaços fixos na tela principal do aplicativo. A primeira faz posts especiais sobre reportagens do dia. O segundo mostra os bastidores da redação.

- O Snapchat é diferente de tudo com o que estamos acostumados. É uma rede mais íntima, onde as coisas ocorrem sem ensaio. Não há muita possibilidade de edição, o que parece estranho para as marcas, mas é na vida real que as pessoas estão interessadas, há identificação com o que não parece não ter passado pelo processo estratégico - analisa Domingos Secco Júnior, fundador da Alright Media, empresa especializada em distribuição de mídia e conteúdo.

Seria o novo Facebook?

Desde que o Facebook ganhou notoriedade, diz-se que o fim da rede está próximo. Quando o Instagram entrou para a lista dos mais baixados nos mobiles, não tardou para ser adquirido pelo Facebook. Depois de negarem, em 2013, uma oferta de US$ 3 billhões da empresa de Zuckerberg, os criadores do Snapchat, Evan Spiegel, 24 anos, e Bobby Murphy, 26 anos, foram chamados de arrogantes - hoje, mesmo sem gerar receita, especialistas estimam que o app vale cerca de US$ 10 bilhões. Atualmente, 60% do público do Snapchat tem entre 13 e 25 anos. Os chamados millennials são, em geral, a parte mais preciosa de uma rede social.

- Quando nasceu, em 2004, o Facebook era povoado apenas por universitários. Foi o que o tornou "viral". O mesmo acontece agora com o Snapchat - explica Secco.

Saiba o que especialistas projetam para o futuro do Facebook e do WhatsApp

É difícil dizer que o crescimento do app pode significar o início do fim da era do Facebook, presente em 97% dos celulares do mundo. Mas o Snap pode terminar 2015 em 20% dos mobiles ativos. O crescimento pode ser medido pelo aumento nas atualizações do aplicativo. A estudante de nutrição Isadora de Almeida está há dois anos no Snap. Há um, ela só tinha a opção de enviar para contatos específicos seus vídeos e fotos, e eles só podiam visualizar uma vez a mensagem. Uma das atualizações mais comemoradas foi a opção de postagem pública, em que todos os contatos adicionados podem assistir aos conteúdos durante 24 horas. Mas o app não vive só de elogios.

- Podemos construir um chat a partir de uma nova mensagem. Mas a conversa é apagada assim que rolamos a tela para o lado - conta a estudante de 21 anos.

Uma das mais recentes atualizações tornou o app "mais barato", uma vez que passou a consumir menos dados de internet.

- Demora muito para carregar, apresenta erros misteriosos e tranca o tempo todo - reclama o estudante de Engenharia de Produção Arthur Graziadio, 19 anos.

Sem promessa de privacidade

A sensação de privacidade é destaque para os usuários, afinal quem recebe só tem 10 segundos para visualizar e, depois, "adeus mensagem!". Entretanto, Isadora e Arthur já foram notificados pelo Snapchat de que outros usuários fizeram um screenshot (cópia da tela do celular) de suas postagens. Eram amigos que usaram as imagens em outras redes sociais no dia do aniversário. Os criadores não prometem privacidade. Focam no conteúdo sobre o presente, ao vivo. Nem a ideia de rede fechada, afinal, pode garantir que os usuários estão ali em segurança.

 

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1. O aplicativo, que é gratuito, pode ser baixado nas lojas da Apple, Google e Windows.

2. Considerado de uso fácil e prático. Basta um toque na tela para tirar uma foto.

3. Mantendo o dedo pressionado na tela, o app registra 10 segundos em vídeo

4. As últimas atualizações diminuíram o consumo de dados do app. Novos recursos foram inseridos, como a inserção de emojis nos posts.

5. A área principal do aplicativo, em que estão as atualizações mais recentes são mostradas, se chama Histórias.

6. Discover é a área em que o aplicativo destaca conteúdos de canais parceiros, como o Buzzfeed, a CNN e a National Geographic.

7. O app não conta o número de postagens, mas o número de segundos registrados pelos contatos.

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