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De Fora da Área

Carlos Etchichury: o 31º técnico de Roger

Editor-chefe do Diário Gaúcho relata convívio com treinador do Grêmio na época em que ambos participaram de time de vôlei em escola da Capital

09/10/2015 - 06h03min

Atualizada em: 09/10/2015 - 06h03min


Carlos Etchichury
Carlos Etchichury
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Diego Vara / Agencia RBS

Roger Machado teve 30 técnicos em 15 anos de carreira. E aprendeu com todos - com alguns, o que fazer no comando de uma equipe; com outros, o que não fazer. Quem contou isso foi o próprio Roger, segunda passada, no Bem Amigos, da SporTV.

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Pois apresento o 31º técnico do Roger. É o treinador que, provavelmente, o influenciou como profissional e como homem. Trata-se de Tamay Camargo, professor de educação física e técnico de vôlei do Colégio Piratini, no coração do bairro Auxiliadora.

Alunos do Piratini, Roger, 14 anos, e eu, 15 anos, éramos treinados por ele.

À beira da quadra, Tamay, rosto crispado, não admitia derrotas, mesmo diante de equipes superiores.

- O jogo só acaba quando o adversário faz o último ponto do último set. Não desistam! - esbravejava nos intervalos de partidas complicadas, aos gritos, gesticulando com as duas mãos, olhos arregalados, um tigre de brabo.

Exigente e disciplinador, Tamay era um misto de Felipão e Bernardinho. Comandava treinos intensos na quadra de concreto do Piratini, simulando situações de jogos. Após as partidas, ganhando ou perdendo, havia uma palestra. Algumas se encerravam já com as luzes dos ginásios apagadas. Nos triunfos, éramos convidados a entender o que havia nos levado à vitória. Nas derrotas, refletíamos sobre as causas do fracasso. Sempre rigoroso, mas sempre fraterno, Tamay nos proporcionava análises complexas que começavam nas quadras, mas avançavam para aspectos filosóficos, políticos e sociais. O clima era de pai educando os filhos.

Com 1m75cm (baixinho para os padrões do vôlei), Roger

tornava-se gigante. Para desespero dos adversários, saltava muito e era ambidestro - atacava bem tanto com a direita quanto com a esquerda, um inferno para os bloqueios. Mas havia algo que incomodava o sanguíneo Tamay. Roger era quieto, introspectivo. Ouvia mais do que falava. Entrava mudo, saía quieto.

Recentemente, quando falou sobre o Tamay para um amigo em comum, Roger lembrou dos conselhos que, hoje, o influenciam na sua relação com os atletas:

- Mesmo sendo um esporte escolar, quando treinávamos ele (Tamay) era muito exigente. Uma frase que ele sempre dizia, e até hoje eu nunca esqueci, repito em alguns momentos para os atletas: "Falando a gente mantém o sistema nervoso central ativo. Quando, dentro de quadra, tu estiver se comunicando com o teu colega, orientando algum posicionamento, automaticamente tu estarás concentrado no jogo".

Perdi o contato com o Roger, mas é um orgulho vê-lo como treinador e cidadão.


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