Dia das Crianças
Confira 7 mitos sobre os dinossauros
Os dinossauros eram lentos e grandes? Tinham cérebros pequenos e eram estúpidos? Paleontólogo convidado por ZH tira as dúvidas
O lançamento nacional de Jurassic World em DVD e Blu-Ray (os discos chegaram às lojas na semana passada) abre um novo mercado para o quarto filme da cinessérie sobre dinossauros. Nos cinemas, o sucesso de público foi do tamanho de um titanossauro: com US$ 1,6 bilhão faturados ao redor do mundo, tornou-se a terceira maior bilheteria da história.
A exemplo do que aconteceu com os três títulos anteriores, houve alguma polêmica, entre paleontólogos, quanto à veracidade e à plausibilidade. Não é demérito exclusivo dos longas produzidos por Steven Spielberg a partir dos livros de Michael Crichton.
Durante décadas, a ficção cometeu equívocos ou ajudou a perpetuar erros consumados pelos primeiros homens que estudaram os dinossauros. Para esclarecer sete dos principais mitos sobre esses animais, ZH convidou o biólogo e paleontólogo Marco Brandalise de Andrade, professor da PUCRS. Ele é o autor dos textos abaixo.
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1. Arqueólogos pesquisam coisas antigas, como fósseis e os dinossauros
Arqueólogos realmente trabalham com o estudo de "coisas" antigas, mas quem pesquisa dinossauros é o paleontólogo, que também estuda o passado e a evolução de outros seres vivos (animais, plantas, micro-organismos). O arqueólogo pesquisa o passado dos seres humanos, a origem de nossa sociedade e cultura.
Alguns temas podem ser estudados por arqueólogos e paleontólogos em conjunto, mas cada um trabalha dentro de sua especialidade. Por exemplo, quando a domesticação teve início é um tema para ambos os especialistas, pois o paleontólogo vai estar preocupado com os animais que eram usados para esse fim, e os arqueólogos pesquisarão como isso foi feito pelos humanos.
O mito nasce do desconhecimento sobre essas áreas de atuação. No Brasil, poucos livros didáticos e escolas adotam essas especialidades em seu currículo. É uma pena, pois a paleontologia é perfeita para a introdução aos estudos das ciências, no 5º ano, permitindo entender como se dá a formulação e o teste de hipóteses. E a arqueologia é perfeita para introduzir a pesquisa em história, também no 5º ano, abrindo caminho para o estudo dos principais grupos sociais e do povoamento das Américas.
2. "Humanos conviveram com dinossauros"
Dinossauros surgiram e se extinguiram muito antes dos humanos - muito tempo antes dos primeiros hominídeos "descerem das árvores" e adotarem o bipedalismo, ou seja, o que chamamos "caminhar de pé".
Como sabemos disso? Com a ajuda de duas especialidades das geociências: estratigrafia (estudo dos estratos e camadas do registro geológico) e geocronologia (estudo da idade das rochas). Os métodos estratigráficos funcionam tão bem que usamos eles para encontrar petróleo, e os especialistas nesta área estão entre os profissionais mais bem pagos no mundo! Graças à estratigrafia e à geocronologia, sabemos com bastante precisão a idade da Terra, todas as principais fases do registro geológico e quando aconteceram, e quem conviveu com quem. E é por isso que sabemos, sem dúvida, que humanos e T-rex nunca conviveram, pois estão em camadas muito distantes no tempo.
Esse mito talvez tenha nascido com a publicação de histórias sobre dinossauros, em especial O Mundo Perdido. Isso é, no entanto, uma injustiça com o autor, pois na história não há viagem para o passado, e sim para um local especial no tempo presente, no qual humanos e dinossauros teriam persistido. De qualquer forma, diversos filmes e histórias de "ficção científica" foram na onda da vida no passado ou da viagem no tempo, misturando humanos e dinossauros, passando a fazer parte do inconsciente coletivo da nossa sociedade e perpetuando o erro.
Mas vale dizer que as aves são descendentes dos dinossauros. Então, podemos afirmar que humanos sempre conviveram com dinossauros. Deixando mais claro: os únicos dinossauros que os humanos conheceram diretamente e com os quais sempre conviveram são as aves.
3. "A grande salada de dinossauros"
Era de se esperar que este mito já estivesse extinto, mas um número enorme de pessoas chama praticamente todos os animais (ou répteis) do passado de dinossauros. Isso talvez facilite a compreensão da vida no passado para as pessoas, mas a verdade é que o passado inclui uma gigantesca diversidade de espécies.
Algumas pessoas acham que isso é uma visão didática, pois evita a necessidade de aprender muitos nomes novos. Mas chamar todos esses animais de dinossauros é trocar uma rica visão do passado por uma visão bem simplista, pobre e limitada.
O termo "dinossauro" foi criado no século 19 por Sir Richard Owen, pesquisador e curador do Museu de História Natural de Londres, para definir um grupo específico de animais que era bem diferente de todos os outros animais. Dinossauros têm uma combinação de características próprias na bacia, no crânio e no pescoço que não são compartilhadas por nenhum grupo de animais atuais ou fósseis. Essas características permaneceram presentes em quase todos os dinossauros ao longo de sua história evolutiva.
Vários outros grupos de animais frequentemente são chamados de dinossauros, como lagartos, crocodilos e até mesmo alguns mamíferos. Há também diversos outros grupos de animais que se extinguiram e não deixaram qualquer espécie ou linhagem descendente (mas podem ser parentes de espécies atuais). Alguns exemplos são o dimetrodonte (parente distante dos mamíferos, nem pode ser considerado como um réptil), os mesossauros, ictiossauros e plesiossauros (répteis marinhos). Os pterossauros (répteis alados) são casos especiais, pois são os primos mais próximos dos dinossauros - mas mesmo assim não são dinossauros.
4. "Na natureza, a sobrevivência é dos mais fortes! Por isso os dinossauros dominaram o mundo! Mais forte = melhor!"
Como estabelecido pela teoria da seleção natural, de Charles Darwin, "a sobrevivência é dos mais aptos", não dos mais fortes. No senso comum, aptidão é frequentemente entendido como força. Errado. Aptidão, neste sentido, refere-se à capacidade de um organismo em gerar descendência. Traduzindo: ter filhos saudáveis, também capazes de gerar outros filhotes. "Força" pode se traduzir em alto custo energético, o que nem sempre é bom para um indivíduo ou para uma espécie.
Animais como a pulga, a barata, o carrapato, a formiga, o pernilongo e o beija-flor são excepcionalmente fracos, se considerada a sua força muscular bruta. Se a sobrevivência fosse do "mais forte", as plantas e micro-organismos já teriam desaparecido do planeta há muito tempo. Na verdade, alguns dos organismos mais bem adaptados e adaptáveis são vírus, bactérias e parasitas.
Outra confusão comum é achar que todos os seres do passado não eram adaptados o suficiente e que só os organismos atuais são adaptados e evoluídos. Não é bem assim. Tire um leão da savana africana e troque ele de lugar com uma onça. O leão, na floresta amazônica, provavelmente vai morrer de fome, desidratação ou de alguma doença, o mesmo acontecendo com a onça na savana africana. Cada organismo selvagem em geral está bem adaptado ao seu ambiente, e não a outros ambientes.
O planeta Terra mudou muito em sua história, com alterações no clima, complexidade ecológica, distribuição de continentes, ciclos de maré, nível dos oceanos, composição de atmosfera (oxigênio e gás carbônico) e até mesmo na duração do dia. Parece seguro afirmar que uma grande parcela de espécies atuais jamais se adaptaria a qualquer período do mundo passado. O mesmo provavelmente aconteceria com as espécies do passado, se pudéssemos trazê-las ao presente.
5. "Todos os dinossauros eram grandes, lentos e arrastavam a cauda. Tinham cérebros pequenos e eram estúpidos"
Esse é um erro que nasceu com as primeiras interpretações científicas, permeou a ciência e se espalhou amplamente por Hollywood. Isso porque o modelo de comparação para a vida, a fisiologia e o comportamento dos dinossauros sempre foi o dos répteis atuais. Progressos em campos como anatomia e histologia ajudaram a compreender os dinos e corrigir diversos erros. Um importante passo foi dado com trabalhos das décadas de 1980 e 1990, quando passamos a ver esses animais como dinâmicos e ativos.
Quanto às caudas... bem, é simples. Conhecemos milhares de trilhas de pegadas de dinossauros e nenhuma delas mostra a marca da cauda sendo arrastada. Dinossauros têm espinhos neurais nas vértebras que são bem desenvolvidos, fortes e resistentes.
Sabemos que essa região da coluna (dorsal) na qual estão os espinhos neurais é rica em tendões. Esses tendões são perfeitamente capazes de manter uma longa cauda fora do chão, sem gasto de energia por uso da musculatura. No caso dos dinossauros bípedes (que caminham nas patas traseiras), a cauda serve para contrabalançar o peso do corpo. No caso dos saurópodes, a cauda contrabalança e ajuda a sustentar o longo pescoço.
E o cérebro? Em biologia, o tamanho do cérebro é um indicador de capacidade de raciocínio. Mas aqui é necessária uma distinção: não é o tamanho total do cérebro que conta, mas o do cérebro em relação ao tamanho do corpo. Isso pode ser calculado por peso ou volume, mas sempre de modo proporcional. Humanos, golfinhos e morcegos, por exemplo, possuem cérebros proporcionalmente muito desenvolvidos em relação ao tamanho do corpo. Répteis, anfíbios e peixes não. Diversos dinossauros tinham cérebros grandes, mas corpos muito grandes.
Outra medida importante é o desenvolvimento de determinadas áreas do cérebro. O raciocínio é determinado por dobras anteriores da região mais anterior, os chamados lobos olfativos do telencéfalo. Um determinado animal pode ter outras áreas bem desenvolvidas (por exemplo, relacionadas à memória, ao equilíbrio ou ao raciocínio espacial) combinadas com lobos olfativos pobremente desenvolvidos, resultando em um cérebro grande, mas sem qualquer destaque em termos de inteligência. Outro condicionante é comportamental e ecológico: os vertebrados predadores têm uma maior necessidade de lidar com planejamento do que seus parentes herbívoros, o que tem relação com a organização de uma estratégia de caça. Quer identificar um animal inteligente? Encontre um animal que brinca. A brincadeira é uma atividade que exercita a inteligência, o raciocínio e a memória.
Bem, voltando aos dinossauros. Em geral, predadores mais avançados tinham cérebros proporcionalmente mais desenvolvidos. Bons exemplos são o velociraptor, o oviraptor e o troodon. E os que tinham cérebros proporcionalmente pequenos? Bem, esses teriam, sim, menor capacidade de raciocínio, mas isso não significa que fossem estúpidos.
Lagartixas e serpentes têm cérebros pequenos e conseguem demonstrar um bocado de perspicácia, bem como comportamentos complexos. Considerando o tamanho e a estrutura do cérebro, é seguro afirmar que os dinos de forma geral deviam apresentar inteligência e comportamento bem mais elaborados do que peixes e anfíbios atuais, equivalentes ou superiores aos de serpentes, lagartos e crocodilos. Em alguns casos, sua capacidade de raciocínio deveria ser equivalente a de algumas aves atuais.
6. "O dinossauro gritador"
Se você já viu um dinossauro na telinha ou na telona, sabe que a presença deles é acompanhada por um imenso rugido: ROOAAAAAARRRR! A realidade, porém, é provavelmente bem menos impressionante.
A vocalização, em qualquer grupo animal, se dá principalmente com os seguintes fins: a) expressão de dor, sofrimento ou frustração; b) demarcação de território; c) atração de parceira para reprodução; d) dissuasão ou submissão; e) em filhotes, para pedir comida ou alguma forma de atenção dos pais. Aves, primatas, felinos, búfalos etc. emitem som para cumprir todas estas funções.
A dissuasão é um caso especial. Ocorre quando um animal ruge para intimidar outro, em geral da mesma espécie, protegendo seu território, fêmea ou alimento. A dissuasão por vocalização em geral é observada em mamíferos, mas não exclusivamente. As cascavéis usam seu chocalho para produzir um som forte, exclusivamente para dissuadir um predador ou outro animal que a coloque em perigo. É uma ameaça ou, ocasionalmente, um blefe. Porém, répteis em geral tendem a realizar a dissuasão por meios visuais. Jacarés e víboras-mocassim abrem a boca e simulam mordidas. Teius e iguanas "chicoteiam" suas caudas.
Em qualquer caso, não há predadores que avisem: "Minha presa, prepare-se que eu vou atacar". Predadores atacam em silêncio. Nenhum avisa a presa. Talvez o único exemplo de algo parecido seja o dos lobos e das hienas. Estes são predadores que vivem em sociedade e se utilizam de uma estratégia de grupo para isolar, cercar e cansar a presa.
Na natureza, um rugido anuncia a posição do animal, em geral afugentando presas que estão perto e atraindo predadores que estão longe. Os animais modernos não fazem vocalizações à toa. O mesmo deveria ocorrer com os dinossauros.
Um dado curioso: a ciência nos mostra que existe um parentesco entre dinossauros com aves (que são suas descendentes) e os crocodilianos (como crocodilos e jacarés).
Tanto aves recém-nascidas quanto filhotes de crocodilianos piam. É bastante seguro dizer que dinossauros - assim como aves e crocodilos - piassem para se comunicar com os seus pais, em especial durante o nascimento. Esse comportamento encontra ainda suporte nos achados fósseis, pois sabemos que diversos dinossauros construíam ninhos (semelhantes aos de aves como o avestruz) e pelo menos algumas espécies tinham cuidado com os seus filhotes (por exemplo, o maiasaura e o oviraptor).
7. Um tempo comum a todos
São frequentes ficções nas quais dinossauros de diferentes épocas estão juntos. Quando falamos que os dinossauros viveram no passado, criamos uma fatia espaço-temporal em nossos cérebros e enfiamos os dinossauros todos ali, no mesmo lugar. Como se fosse uma gaveta. Daí descobrimos que o "passado" (Era Mesozóica, na verdade) era composto por três Períodos: Triássico, Jurássico e Cretáceo, e cada época tinha os seus dinossauros. Pronto, agora dividimos nossos dinossauros em três gavetas. Já é uma visão mais correta, mas infelizmente paramos por aí.
A verdade é que cada período desses representa um universo de muitos milhões de anos, e cada milhão de anos representa fauna e flora diferentes. Para guardarmos apenas os dinossauros, precisaríamos no mínimo de umas cem gavetas, em três grandes móveis (chamados de Triássico, Jurássico e Cretáceo).
Para guardar a história dos animais, precisaríamos de uma 600 gavetas, enquanto a história da vida toda exigiria mais de 2 mil. A história dos hominídeos, em comparação, poderia ocupar, desde seu início mais promordial, 1/3 de uma gaveta. Os humanos mesmo caberiam confortavelmente dentro de um kinder ovo, e toda a nossa sociedade se encaixaria com folga dentro do furo de um botão de roupa, nessa mesma gaveta. Cada dinossauro viveu em seu tempo e seu local. Às vezes descobrimos dinossauros juntos, às vezes não.
As cinco espécies de dinossauros encontradas no Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul foi uma espécie de berço dos dinossauros há centenas de milhões de anos. Da região, dinos migraram para o mundo inteiro.
Das 21 espécies de dinossauros até hoje descobertas e oficialmente documentadas no Brasil, cinco foram encontradas no Estado: Staurikosaurus pricei, Guaibasaurus candalariensis, Saturnalia tupiniquim, Unaysaurus tolentinoi e Pampadromaeus barberenai.
Para conhecer cada um deles, ZH preparou um presente especial para esse dia das crianças: cinco games. O prêmio é conhecer como esses dinos provavelmente se pareciam e várias outras informações que os paleontólogos já descobriram sobre eles.
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