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Operação Lava-Jato

Banqueiro obteve cópia de delação premiada feita por Cerveró na cadeia

André Esteves não queria que o nome do BTG Pactual fosse envolvido nas investigações do escândalo bilionário de corrupção na Petrobras e em outras empresas

25/11/2015 - 15h56min

Atualizada em: 25/11/2015 - 15h56min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Esteves é também acionista da Sete Brasil, uma das empresas investigadas pela Operação Lava Jato

Suspeito de tentar evitar o acordo de delação premiada de Nestor Cerveró sobre irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e de tentar facilitar uma possível fuga do Brasil do ex-diretor da Petrobras em troca de silêncio, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, obteve - no que o Ministério Público Federal classifica como um fato de espantosa gravidade - o rascunho da delação, feito de dentro da cela onde está recolhido Cerveró em Curitiba (PR).

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Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o banqueiro exibiu o documento para o senador Delcídio Amaral (PT-MS) sem a mínima preocupação de explicar como o obteve. Os dois foram presos nesta quarta-feira pela Operação Lava-Jato, juntamente com o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira, e o advogado do petista, Edson Ribeiro. A obtenção do rascunho é detalhada em gravação telefônica feita por Bernardo, filho de Cerveró, em prévia combinação com o MPF. Veja abaixo:

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Delcídio: Ele (André) disse não, Delcídio, não tem problema nenhum, oh, eu tô interessado, eu preciso resolver isso, oh, o meu banco (BTG Pactual) é enorme, se eu tiver problema com o meu banco eu tô fudido. Só para (distoriar) vai que você não conhece essa história, oh, eu quero ajudar, quero atender o advogado, quero atender a família, ajudo, sou companheiro. (...) Ele trouxe um paper, aquele paper.

Edson: Hum!

Delcídio: É, do Nestor. Mas com anotações que suponho têm a ver com as do Nestor. Vocês chegaram a ter acesso a algum documento assim?

Edson: Eu não, você viu?

Bernardo: Ele fazia, mas ficava com ele na cela.

Delcídio: Pois é, então ou alguém reproduziu isso.

Bernardo: Esse, esse que é o lance... o que foi vazado a gente acha que pode ter sido vazado ali de dentro. (Alberto, outro delator) Yousseff na cela com ele, uma coisa assim.

Delcídio: Como chegou a isso eu não sei te dizer. Não sei... fiquei na minha... e eu fingi surpresa. Porra André, você conseguiu isso? E aí ele mostrou o paper com anotações. Então, por exemplo, ele foi virando as páginas e eu fui vendo... No paper que você me mandou tem lá por exemplo: o Jorge Lúcio, Jader (Barbalho) e Renan (Calheiros). Aí tem uma anotação que eu suponho que é do Nestor.

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Janot afirma, em documento enviado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, que existe um "canal de vazamento na Operação Lava-Jato que municia pessoas em posição de poder com informações do complexo investigatório".

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"É induvidoso que esse documento está em poder de André Esteves e Edson Ribeiro, bem como, a esta altura, muito provavelmente, também do senador Delcídio Amaral, ou ao menos à sua disposição. (...) Sempre houve a suspeita, com efeito, de que existia canal (de vazamento) nesses moldes (...) para manter pessoas poderosas informadas dos desdobramentos, permitindo-lhes tentar, em determinadas situações, exercer influência sobre a formação do conjunto probatório" - ressaltou Janot.

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O objetivo do banqueiro, diz o procurador-geral, é preservar sua posição influente e evitar que o nome do BTG Pactual seja envolvido nas investigações da Lava-Jato. Para isso, Adriano Esteves financiaria o que fosse necessário, inclusive a fuga de Cerveró do país.

O acordo seria dissimulado sob a aparência de um contrato de prestação de serviços de advocacia entre o advogado Edson Ribeiro e Esteves e/ou o Banco BTG Pactual. Ribeiro receberia o valor e repassaria os recursos para a família de Cerveró aos poucos.


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