Economia



Sinal da crise

Metalúrgicos perdem 53,8 mil empregos no RS em um ano

Redução afeta segmentos metalmecânico, siderúrgico e de petróleo, que respondem por um terço do total de vagas da indústria no Estado

23/11/2015 - 03h04min

Atualizada em: 23/11/2015 - 03h04min


Cadu Caldas
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Ronald Mendes / Agencia RBS

A crise derreteu vagas nos segmentos metalmecânico, siderúrgico e de petróleo, que representam cerca de um terço dos empregos na indústria de transformação do Estado. São 53,8 mil empregos a menos em 12 meses. É o equivalente à população de municípios como Nova Prata e São Sebastião do Caí somadas. Além da quantidade, são profissionais qualificados, com bons salários. Um segmento promissor encolhe e reduz a renda.

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Há dados consolidados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) organizado pelo Ministério do Trabalho até o mês de outubro. Levantamento feito com os principais sindicatos do Estado - com demissões até 10 de novembro - indica que a abrasão, principalmente na metalurgia, predominante entre os três segmentos no Rio Grande do Sul, pode ser ainda maior.

O fechamento da fábrica de motores MWM, em Canoas, há duas semanas, é o episódio mais recente da crise vivida pelo setor no Estado. Parte dos 600 trabalhadores foi demitida e a outra deve ser dispensada até fevereiro, quando a empresa interromper o fornecimento para a General Motors (GM) e encerrar as atividades no Estado.

Entre as centenas que perderam o emprego nos últimos dias está Ênis Machado, 32 anos - 12 dos quais na MWM.

O metalúrgico trabalhava na linha de caminhões, a primeira a ser desativada. De 36 profissionais, ficaram três, que devem ser mantidos até dezembro. A dispensa, conta Machado, era esperada porque se sabia que a crise ameaçava desde o rompimento de contrato da fábrica com a GM, principal cliente.

- Só tenho a agradecer pelo que aprendi lá dentro. Entrei para ficar três meses, passei 12 anos. Agora, é largar currículo e procurar um novo trabalho. Parado é que não dá para ficar - conta, esperançoso em encontrar alguma vaga nos próximos meses, apesar do pessimismo das projeções econômicas.

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Analistas costumam considerar o emprego como o último vagão do trem da economia, porque costuma responder de forma mais lenta a incentivos político-econômicos e é o último a descarrilhar em caso de crise.

Foi o que ocorreu em 2014. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) e a inflação pioravam, a taxa de desemprego se manteve a mais baixa registrada nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao longo de 2015, no entanto, os reflexos da recessão começaram a aparecer de maneira contundente no mercado de trabalho gaúcho.

Em 12 meses, o desemprego na Região Metropolitana saltou de 4,9% para 7,37% da população ativa, mas o cenário tem piorado de forma drástica nos últimos meses.

- O rápido avanço do desemprego não se deu por pressão demográfica (mais trabalhadores no mercado), mas basicamente pela destruição da vagas, a maior parte na indústria. Como a geração de empregos nos últimos anos foi concentrada em centros organizados, e não "interiorizada", como poderia ser, é esperado que a perda de vagas seja mais expressiva nessas regiões - explica Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp).

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Com altos custos trabalhistas, as grandes indústrias têm testado estratégias para evitar demissões, como banco de horas (o funcionário trabalha menos dias por semana e compensa quando a demanda voltar a crescer) ou layoff (suspensão do contrato de trabalho por até cinco meses), mas as de pequeno porte, com margens menores de lucro, ficam mais expostas à crise, afirma Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

- O encolhimento da indústria é impressionante levando em conta, principalmente, o curto tempo. Foi de longe o setor mais afetado, e não há perspectiva de melhora no curto prazo. As demissões devem diminuir de ritmo agora, mas não há garantias de que chegamos ao ponto mais crítico - avalia Gomes de Almeida.

Apesar de o número absoluto de desempregados da indústria ser maior em cidades maiores, como Porto Alegre e Caxias do Sul, a crise afeta especialmente municípios de menor porte, como Charqueadas. Entre setembro de 2014 e 2015, a cidade de pouco mais de 35 mil habitantes perdeu 26% dos empregos na indústria, recuo que representou mais de 15% de encolhimento na quantidade de empregos na cidade.

- O fim do Polo do Jacuí foi um grande soco no estômago. Mas outras empresas, que não estavam relacionadas diretamente à cadeia produtiva, também estão demitindo ou foram embora. Tivemos um início de ano ruim e as coisas só foram piorando - lamenta Jorge Luis Silveira de Carvalho, presidente do sindicato de metalúrgicos da cidade.

Dúvida cerca cenário de curto prazo

O cenário dos próximos meses é confuso não apenas para os trabalhadores, que temem a perda do emprego, mas também para especialistas que acompanham o ritmo do mercado de trabalho a partir de suas planilhas. A grande dúvida é saber quanto das demissões deste ano antecipa a perspectiva de recessão também em 2016 ou se a redução na atividade ainda vai gerar mais dispensas.

Entre sindicalistas, a palavra mais citada é "preocupação", mas não há consenso. Claudecir Monsani, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul é um dos mais otimistas. Ressalta que, apesar do fechamento de postos de trabalhos na região, ainda há abertura de vagas em alguns locais, mesmo que em menos volume e com salários menores. Para Valcir Ascari, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, a crise "ainda nem começou", "ainda mais com um programa de ajuste fiscal pela frente."

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Grave ou gravíssimo, o corte de vagas nas fábricas hoje mostra uma mudança profunda no mercado de trabalho. Reduz as opções de escolha dos empregados.

- Antes, o metalúrgico trocava mais de emprego. Se não estava satisfeito com a empresa ou recebia uma oferta um pouco maior, trocava. Agora não. Na dúvida, permanece no trabalho atual - conta o diretor do sindicato de Porto Alegre,Rafael Moretto.

Professor de economia da PUC-Rio, José Márcio Camargo lembra que a taxa de desemprego sobe e cai lentamente. A resposta do mercado costuma ocorrer de forma lenta porque é difícil demitir e contratar.

- Devemos chegar a uma taxa de desemprego no final de 2015 próxima a 8% da força de trabalho, e a tendência é de continuar em alta. Já os salários, considerando essa aceleração da inflação, devem ter uma queda real de 4%. Vamos acabar chegando, no final de 2016, a uma taxa próxima de desemprego a 11% se o governo persistir na tarefa de corrigir os erros cometidos no passado - avalia Camargo.

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O desânimo não é só de funcionários. Empresários veem com pessimismo o ritmo da economia. Gilberto Petry, presidente do Sindicato da Indústria Metal Mecânica e de Material Elétrico, afirma que a indústria não chegou ao fundo do poço e prevê mais demissões em 2016.


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