Vida e Estilo



Desigualdade de gênero

Mulheres usam redes sociais para denunciar comportamentos machistas

Utilizando a tag #meuamigosecreto, usuárias falam sobre atitudes sexistas e preconceituosas de pessoas próximas

25/11/2015 - 20h25min

Atualizada em: 25/11/2015 - 20h25min


reprodução,twitter / reprodução,twitter

Na tarde desta quarta-feira, uma nova mobilização contra a desigualdade de gênero tomou conta do Twitter e do Facebook. É a tag #meuamigosecreto, que vem acompanhada de relatos e comportamentos que expõem o machismo velado do cotidiano. Por meio de indiretas, mulheres e homens falam sobre atitudes sexistas e preconceituosas de pessoas próximas, que poderiam estar até mesmo lendo aquele post.

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"#MeuAmigoSecreto é militante de direitos humanos mas não contrata mulher grávida ou que tenha filhas e filhos", publicou um usuário no Twitter. "#meuamigosecreto acha que as mulheres devem estar na cozinha ou na beira da janela enquanto ele bebe na praia ou na piscina" postou outra pessoa na rede social. Figuras políticas como Luciana Genro, candidata à presidência nas últimas eleições, e contas como o governo do Estado também aderiram à campanha.

Acompanhe as manifestações no Twitter:

meuamigosecreto Tweets

"Meu amigo secreto" é uma alusão à tradicional brincadeira de troca de presentes das festas de final de ano, mas o 25 de novembro é marcado pela luta mundial contra a violência de gênero, data reconhecida pelas Nações Unidas (ONU).

Os primeiros relatos usando a hashtag foram vistos ainda na noite de segunda-feira, mas ainda não se sabe se há alguém organizando a mobilização.

Na tarde desta terça-feira, foi criada uma página no Facebook que reúne vários posts sobre a campanha. A fanpage, que já soma mais de 1,3 mil seguidores, foi criada por Bruna Sousa, 20 anos, que contou pelo WhatsApp que a ideia surgiu para dar espaço às mulheres que não sentiam-se à vontade para publicar os relatos nos seus perfis pessoais. Desde então, ela atualiza o espaço com centenas de revelações anonimas.

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Estou recebendo muitas mensagens para serem postadas e assim se dá visibilidade para as histórias dessas mulheres sem que elas sejam expostas. Recebi várias mensagens de meninas relatando sobre seus "amigos" que, na verdade, muitas vezes são seus namorados - conta a moradora de Osasco (SP).

Bruna conta que soube sobre a mobilização pela primeira vez na página do coletivo feminista "Não Me Kahlo", que perguntou aos seus 256 mil seguidores: "Que mensagem você deixaria para seu amigo secreto?". A postagem feita na noite de segunda-feira recebeu mais de 500 compartilhamentos.

- Fico muito feliz quando vejo essas hashtags surgindo. Muita gente acha que é modinha, uma coisa de internet, mas elas têm um significado importantíssimo na luta das mulheres contra essa lógica do silêncio. Quando as mulheres usam essas hashtags elas vão ouvindo histórias umas das outras e vai se pintando um quadro da realidade - reflete a publicitária Luise Bello, 26, gerente de conteúdo e comunidade da ONG Think Olga, que luta pela igualdade de gênero e pelo "empoderamento feminino".

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Há um mês, a organização começou a campanha #primeiroassedio, após o episódio envolvendo a participante Valentina, de 12 anos, do programa MasterChef Junior, da Band, que foi alvo de comentários ofensivos. Segundo Luise, foram mais de 82 mil tuítes com relatos de mulheres sobre a primeira vez que sofreram um assédio.

- Vimos uma oportunidade de tirar da sombra algo extremamente comum que é a violência que as mulheres sofrem ainda crianças - comemora Luise.

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A professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) Raquel Recuero analisou o fenômeno do #primeiroassedio no Twitter e enxerga essas mobilizações como uma ação própria do ativismo, e não como um simples efeito manada da internet. Recuero acredita que essas campanhas que trabalham situações do cotidiano servem para gerar um debate e para pautar especialmente a mídia.

- Eu acho que o feminismo tem ganhado espaço e está crescendo nas mídias. A palavra feminismo é vista com certo ranço por alguns setores da sociedade, por isso, eu vejo que quando não se usa exclusivamente o termo feminismo, um grupo maior consegue se identificar, e a discussão ultrapassa grupos sociais específicos - avalia.


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