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Sindicato médico e prefeitura de Canoas trocam farpas em anúncios de rádio após fechamento de leitos

Fechamento de 70 leitos e demissão de funcionários do Hospital Universitário de Canoas motivou o conflito

25/11/2015 - 14h45min

Atualizada em: 25/11/2015 - 14h45min


Paula Minozzo
Paula Minozzo
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Matheus Beck / Agência RBS
Prefeitura diz que queda na arrecadação e redução de repasses levaram à reestruturação dos serviços do hospital

 

A prefeitura de Canoas fechou nas últimas semanas pelo menos 70 leitos do Hospital Universitário e demitiu mais de 130 funcionários da instituição, que oferece atendimento pelo SUS. Entre os profissionais cortados estão médicos, enfermeiros e servidores administrativos. A prefeitura afirma que restaram 404 leitos, 90% direcionados ao sistema público.

Segundo dados repassados pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), tendo como fonte o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, o impacto teria sido ainda maior: o total de leitos no hospital teria caído de 558 para 401 entre janeiro e outubro - uma perda de 157. No SUS, a redução seria de 471 para 358 no período (113 a menos).

Conforme a administração municipal, as medidas foram tomadas para estancar um déficit mensal da ordem de R$ 2 milhões. A reação mais forte à redução veio do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), que desde terça-feira veicula mensagens pelo rádio atacando o prefeito Jairo Jorge (PT). "Em vez de fechar leitos, o prefeito deveria devolver o Hospital Universitário à companheira Dilma, com quem, aliás, sempre deveria ter estado", afirma o spot do sindicato.

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O município respondeu na mesma moeda, veiculando seus próprios anúncios, o que gerou um debate pelas ondas da Rádio Gaúcha: "O Simers não ajudou na ampliação e, ao contrário, atacou a prefeitura quando ela entrou na Justiça para garantir custos a saúde", respondeu.

Desde 2011, o hospital funciona em gestão compartilhada da prefeitura com o Sistema de Saúde Mãe de Deus, em uma parceria com a prefeitura de Canoas. O comunicado do Simers exige que a administração do HU seja devolvida à União e critica a postura do prefeito da cidade de não pressionar o governo federal por repasse de verbas.

O presidente do sindicato, Paulo de Argollo Mendes, afirma que a redução do número de leitos e a demissão de profissionais terá como consequência sobrecarregar o atendimento em hospitais de Porto Alegre. Argollo acusa a prefeitura de fechar os leitos sem alarde, o que motivou a decisão de veicular anúncios no rádio. O sindicato entrará nesta quinta-feira na Justiça pedindo a reabertura das vagas. 

- Precisamos que o prefeito reveja suas prioridades ou não esconda que vai asfaltar as ruas e deixar as pessoas no corredor da emergência. O sindicato luta para que toda a Ulbra seja federalizada e que a União assuma novamente o hospital - afirma.

O secretário municipal da Saúde de Canoas, Marcelo Bósio, afirma que os cortes foram motivados pela queda na arrecadação do município e por causa de atrasos em repasses federais e estaduais. Apesar disso, ele sustenta que não haveria prejuízo à população. Bósio afirma que os serviços de emergência e pronto-atendimento não sofrerão impacto e que nenhum paciente deixará de ser atendido, apenas procedimentos como cirurgias eletivas foram reajustados e pacientes remanejados internamente.
 
A secretaria de Saúde alega que já requisitou junto à União o repasse de verbas para a reabertura dos leitos em 2016. 

- Quando o hospital foi adjudicado pela União, o município se comprometeu com a gestão do hospital. Temos de ter responsabilidade pelo o que a gente faz e reorganizar a estrutura - disse Bósio.

O que diz o anúncio do Simers

"O Hospital Universitário de Canoas foi entregue ao Governo Federal pela Ulbra. Deveria estar funcionando como o Hospital Conceição, custeado pela União. Mas o prefeito Jairo Jorge aceitou alegremente pagar parte da conta com o dinheiro dos canoenses. Agora, sem recursos, em vez de fechar leitos, o prefeito deveria devolver o Hospital Universitário à companheira Dilma com quem, aliás, sempre deveria ter estado. "


O que diz o anúncio da prefeitura de Canoas

"O Hospital da Ulbra fechou em 2009 com 120 leitos e 400 funcionários, Canoas o assumiu e em seis anos triplicou o atendimento. São 404 leitos e 1.350 funcionários. O Simers não ajudou nesta ampliação e, ao contrário, atacou a prefeitura quando ela entrou na Justiça para garantir custos a saúde. Este ano, Canoas perdeu R$ 15 milhões que iriam para os hospitais. Para não reduzir cirurgias, exames e consultas, foram fechados leitos de retaguarda do HU. A prefeitura convida o Simers para se somar na luta por mais recursos a saúde."


O histórico

- Em 2009, abalado pela crise na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o Hospital Universitário reduziu atendimentos e chegou a fechar. Na época, mantinha em operação apenas 120 dos 480 leitos originais.

- No mesmo ano, o hospital reabriu, ajudado pela prefeitura, que buscou recursos federais e estaduais.

- Em janeiro de 2011, foi feito um contrato com o Sistema de Saúde Mãe de Deus, pelo qual a instituição e a prefeitura assumiram a gestão compartilhada do estabelecimento. 

- Em 2014, depois de anos de tramitação, a Justiça determinou a adjudicação (concessão de propriedade a credor) do hospital, transmitindo a propriedade ao governo federal, que a cedeu à prefeitura.

- Nos últimos meses, Canoas passou a se ressentir de falta de recursos para manter o hospital. Desde janeiro, o governo Eestadual teria deixado de repassar R$ 1,5 milhão por mês de Incentivo de Cofinanciamento da Assistência Hospitalar (PIES-IHOSP). Além disso, houve uma queda de arrecadação municipal de R$ 70 milhões. 

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