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De doping a seis vezes melhor do mundo: Giba reconta carreira e não foge de polêmicas em autobiografia

Livro foi lançado em Porto Alegre na noite desta terça-feira

01/12/2015 - 22h01min

Atualizada em: 02/12/2015 - 04h18min


Paula Menezes
Paula Menezes
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Imagens: André Ávila / Edição: Marcelo Carôllo

Vinte anos de seleção brasileira, três medalhas olímpicas, seis vezes melhor jogador do mundo. Esses são apenas alguns números que demonstram a vitoriosa carreira de Giba. A trajetória do ícone do vôlei é contada no livro “Giba neles!”, autobiografia lançada em Porto Alegre nesta terça-feira.

Aos 38 anos, o ex-ponteiro não fugiu das polêmicas. Fala sobre a leucemia que enfrentou aos quatro meses vida, a fratura no pênis que o tirou de jogos da Liga Mundial de 2000, o flagra no exame antidoping pelo uso de maconha e o jogo contra a Bulgária, quando o Brasil decidiu perder.

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A partida ocorreu no Mundial de 2010, na Itália. A seleção brasileira já estava classificada por antecipação e teria jogos mais fáceis na terceira fase se perdesse a partida. O levantador Bruninho foi poupado, e o reserva Marlon recuperava-se de infecção. Assim, o time jogou sem um atleta da posição.

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Os europeus venceram por 3 sets a 0, e os comandados de Bernardinho acabaram enfrentando República Tcheca e Alemanha. Se tivessem vencido, pegariam Cuba e Espanha. Na ocasião, os atletas voltaram com o ouro ao Brasil.

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Confira a entrevista com o campeão olímpico de 2004:

O livro está sendo lançado pelo Brasil, mas já ganhou grande repercussão por causa de passagens polêmicas. Você esperava todo esse impacto no público?
Esse impacto começou antes mesmo de lançar o livro. Algumas coisas que eu coloquei bateram de frente com a imprensa, e a imprensa quis causar polêmica. Como o caso do jogo da Bulgária. O Bernardo (técnico da seleção) até ficou bravo comigo na época, me ligou, a gente sentou, conversou. Isso é besteira. Eu coloquei muito mais para falar o quanto a gente ralou, o quanto a gente precisou buscar com o Marlon no hospital, o Bruninho com febre. Para gente chegar a ser tricampeão mundial consecutivo. Ninguém comentou que o líbero da Bulgária estava fora do jogo, que o levantador da Bulgária estava fora do jogo. Foi mais para ressaltar o que passamos.

Como foi essa decisão de perder o jogo para Bulgária?
Foi uma conversa entre todo mundo. Conto no livro o que realmente aconteceu, o que a gente conversou para um bem maior. O Marlon estava no hospital, e o Bruninho com febre. Os outros times faziam uma palhaçada, colocavam o time reserva. Alguns dos titulares ficavam fora dos doze. Foi uma conversa entre todos. Entre homens.

E como você e Bernardinho resolveram a rusga?
Não teve absolutamente nada. Eu era o capitão na época. A gente conversou, como sempre conversamos. Acertamos tudo. E foi isso. As coisas ficaram resolvidas.

No livro, você fala também sobre a vez que foi flagrado no exame antidoping, pelo uso de maconha. Como foi esse episódio?
Foi uma passagem pública, na verdade. A gente tinha acabado de ganhar o campeonato mundial de 2002, na Argentina, o primeiro mundial que a gente ganhou. Logo depois eu fui pego no doping. Ali eu coloco como a virada da minha vida. Porque foi em 2003, e eu fiquei dois meses e meio, três meses fora. Logo depois eu fui seis vezes melhor jogador do mundo, além de ganhar todos os títulos com a seleção. Então foi uma virada. Deus colocou a mão na minha cabeça e falou “peão, acorda, se não você vai para o buraco”. Não foi só pelo uso da droga. Foi aquela coisa do atleta que acha que pode tudo. Que começou a ter dinheiro, fama. É por isso, para as pessoas abrirem o olho, quem está começando a ter fama.

Você conta no livro que sofreu uma lesão incomum, uma fratura no pênis. O que você relata aos leitores?
Não é tão incomum, sabia? Eu fiquei bem mais tranquilo depois que eu fui no médico e vi que não era incomum aquilo que tinha acontecido comigo. O médico disse que todas as pessoas ficam com vergonha, mas pelo menos três brasileiros entre 10 acontece isso. E 30% é um número alto. Eu falei “ufa”. Quando eu contei, tiveram alguns amigos meus que falaram que já aconteceu, que conheciam alguém com quem aconteceu. Depois, todo mundo misteriosamente resolveu falar. Acho que é uma vergonha boba que tem que quebrar o tabu. Eu quebrei, e falei. Aconteceu, não posso mentir. Tudo que aconteceu ao longo desses anos eu coloquei no livro, só pensei como colocar. Aconteceu, e resolveu. Tive dois filhos (risos).

Foram quase 20 anos de seleção brasileira de vôlei. Tem algum momento que lhe marcou mais?
Foram 17 anos na adulta e três nas categorias de base. O que me marcou foi em 1993, quando fui campeão mundial juvenil. Eu tinha sido cortado em fevereiro de uma peneira, por causa da altura, já que eu era baixinho. Aliás, para o vôlei, continuo baixinho (risos). E eu acabei sendo indicado para a seleção, e em setembro eu fui campeão e melhor jogador do mundo. Então foi um momento mágico onde eu resolvi ser jogador de vôlei, um atleta profissional. Porque eu já tinha resolvido que ia estudar nos Estados Unidos, e jogar vôlei para poder me formar jogando vôlei. Mas eu não seria um atleta de ponta. E ali eu vi que eu poderia ser um atleta de ponta.

Você enfrentou uma leucemia com quatro meses de vida. Sua trajetória toda foi marcada por batalhas?
Bastante. Com onze anos, ganhei 150 pontos no braço. Com 20 anos, eu caí de um barranco de 40 metros, de carro. Deus sabe o que faz. Tudo foi colocado na hora certa, e que bom que eu aprendi com isso na hora certa, para poder continuar para frente, ajudando todo mundo.

*ZHESPORTES


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