Planos adiados
Insegurança com a economia faz família reduzir consumo
Mesmo empregado, casal de Gravataí corta gastos devido ao receio de agravamento da crise
As razões para a terceira queda trimestral seguida no consumo das famílias, componente que nos recentes anos áureos da economia brasileira puxava o crescimento PIB, podem ser entendidas pela mudança de comportamento de um casal de metalúrgicos de Gravataí. Gladimir da Silva Ramos, 47 anos, e Márcia Simone Peroza Ramos, 45 anos, estão empregados. Mesmo assim, optaram por adiar sonhos e planos. A ordem é cortar todos os gastos possíveis.
- Hoje estamos trabalhando, mas não sabemos como será o dia de amanhã - resume Márcia.
Veja o que mudou na rotina da família Ramos
Ela trabalha na General Motors (GM). Em julho e setembro, durante o terceiro trimestre, integrou o grupo de trabalhadores da montadora afetado por medidas como day off e férias coletivas, saídas para adequar a produção ao mercado retraído. Assim como o marido, percebe a angústia generalizada nos colegas e ouve relatos das dificuldades de quem foi vítima da crise. Com o país mergulhado em uma longa recessão que teima em não dar sinais de ser revertida, o temor de perder o trabalho se soma à previsão de dificuldade para encontrar recolocação.
- Alguns conhecidos que perderam emprego até arrumaram novo serviço, mas com salário 30% menor - ilustra Gladimir.
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Atormentados pelas incertezas, preferiram a cautela. No supermercado, a lista de compras se resume ao essencial. O sabão em pó era o da melhor marca. Agora, o preço é decisivo. Os frequentes churrascos de fim de semana minguaram. As férias que seriam na Bahia, onde têm parentes, foram adiadas. O sonho era trocar o carro ano 1996 por um zero quilômetro. Optaram por um 2005. A mesa de jantar, com mais de 15 anos de uso, seria substiuída por uma nova. É outro plano que terá de esperar. O dinheiro para a diversão da filha, a universitária Nicoli Peroza Ramos, 19 anos, ficou mais contado.
Gladimir trabalha há 22 anos em uma pequena indústria, fornecedora da cadeia automobilística, um dos setores que mais sofre com o esfacelamento da economia. A empresa tinha 12 funcionários. Hoje são seis. E os patrões já avisaram: 2016 vai ser um ano em que sobreviver é o desafio.