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O que o erro durante o Miss Universo tem a nos ensinar sobre frustração

A colombiana Ariadna Gutierrez ficou cerca de quatro minutos com a coroa e teve de cedê-la para a verdadeira vencedora

25/12/2015 - 21h18min

Atualizada em: 25/12/2015 - 21h18min


Camila Kosachenco
Camila Kosachenco
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Ethan Miller / GETTY IMAGES NORTH AMERICA

A colombiana Ariadna Gutierrez viveu o que pode ser considerado o reinado mais curto da história do concurso Miss Universo. Anunciada pelo apresentador Steve Harvey como a grande vencedora de 2015, ela foi coroada e, cerca de quatro minutos depois, teve de ceder a sua coroa para Pia Alonzo Wurtzbach, candidata das Filipinas - esta, sim, eleita pelos jurados. O erro constrangedor do nome da escolhida virou assunto em todo o mundo e rendeu a Harvey diversos memes - quando um assunto vira piada e é disseminado rapidamente na internet.

Gafe e repercussões à parte, a pergunta que fica é: o que passou pela cabeça de Ariadna diante de tamanha frustração?

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Considerada pelos especialistas como uma dor emocional em decorrência da não obtenção de um prazer esperado ou desejado, a frustração é muito subjetiva e os valores pessoas determinam qual será a reação diante dela.

- Uma pessoa pode se frustrar muito com algo que não afetaria outras pessoas ou com algo que, em outro momento de sua vida, não a afetaria - exemplifica a psicóloga Marisa de Abreu Alves.

Um dos sentimentos mais comuns em eventos como esse é a perda de controle da situação, tanto interna quanto externa, o que gera a sensação de impotência.

- Essa situação só é suportável quando nos damos conta de que não temos controle sobre tudo. Essa é uma característica da resiliência, que é a capacidade de aceitar os eventos adversos - explica a psicóloga Cristine Timm Lima.

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Para a especialista, no caso específico de Ariadna, a frustração talvez tenha sido menor, pois dentro dos processos competitivos do Miss Universo, as concorrentes aprendem a lidar da melhor forma com a derrota.

- As pessoas que participam de concursos como esse podem ter passado por situações anteriores de frustração, mas creio que elas também são preparadas para a perda, embora quem estava assistindo não tenha esse sentimento. Pelo que vi, ela comentou na mídia que nada acontece por acaso. Parece que a sua reação foi muito saudável e coerente, pois ela se prepara, também, para perder - afirma Cristine.

No cotidiano, sofrimento pode ser ainda pior

Trazendo os fatos para a realidade diária, especialistas avaliam que a frustração pode ser ainda mais dolorosa, afinal, nem todos têm a inteligência emocional aprimorada para fazer de uma situação negativa o propulsor de algo positivo. Raiva, revolta e sensação de injustiça são exemplos de sentimentos que podem surgir nessas situações.

Para Marisa, algumas pessoas podem se considerar um fracasso e, assim, acabam se tornando desistentes. Já outras têm a compreensão de que a vida é feita de momentos e conseguem aproveitar-se da situação adversa para buscar superação e tratar o momento como um aprendizado.

- Há vários mecanismos de defesa que podem ser ativados. Podemos ter raiva, tristeza ou outros sentimentos negativos. A forma ideal de agir nessas situações é racionalizar, entender o porquê do acontecimento e usá-lo como motivação para seguir - sugere a psicóloga cognitivo-comportamental Taciane Nascimento.

- Nós sofremos decepções e frustrações diariamente, muitas vezes causadas por outros. Para lidar com isso, é preciso ter maturidade emocional para compreender que alguém errou. Em alguns casos, busca-se na Justiça uma forma de reaver a moral perdida - complementa Cristine.

Em casos extremos, a pessoa pode reagir com um bloqueio ao que que a frustrou ou mesmo ficar muito desanimada e se considerar inútil e incapaz. Nessas situações, o mais indicado é buscar ajuda de um psicólogo para tratar a questão.

Tolerância deve ser treinada desde a infância

Trabalhar a tolerância não é uma tarefa fácil e remete ao período de infância. Cristine sugere que os pais e professores estimulem as crianças a entender os sentimentos que foram gerados a partir das frustrações e deixem claro o que é responsabilidade delas e o que não lhes compete:

- Assim, a criança vai identificando e conseguindo aceitar melhor aquilo que foge do controle dela. Mesmo tentando, ela pode não alcançar o resultado desejado, mas isso não anula a sua capacidade ou esforço empenhado.

Em um mundo cada vez mais competitivo entre crianças, jovens e adultos, exercitar a tolerância pode ser considerado um avanço na avaliação de Taciane:

- A gente precisa ter essa capacidade aumentada, nosso universo é competitivo e nem sempre as coisas vão dar certo.

Outro aspecto que deve ser trabalhado, segundo as especialistas, é a percepção de que as pessoas têm limites. Isso influencia de forma direta os níveis de exigência e a tolerância aos próprios erros e aos erros dos outros.

Admitir o erro é a melhor saída

Apesar de as candidatas não saberem como lidar com a situação inusitada, a pior parte da história do erro no Miss Universo ficou para o apresentador Steve Harvey, que cometeu o equívoco. Ao admitir ao vivo o engano, Harvey se redimiu e isentou quaisquer outras pessoas nas quais poderia recair o erro.

- Ele deu um bom exemplo para o mundo ao assumir a responsabilidade. Ele não tentou empurrar ou comprometer mais alguém no erro dele. Apesar do constrangimento, foi uma atitude digna e nobre - avalia Cristine.

Errar, aceitar que errar é humano, desculpar-se, aprender com o equívoco e fazer de novo, tomando cuidado para não repetir os enganos, é a melhor saída nesses casos, indica Marisa.


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