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Entrevista

Conversa com D'Ale, a busca por um atacante e negócios por novas receitas: o Inter de Piffero para 2016

Dirigente colorado conversou com Zero Hora na tarde desta sexta-feira

05/02/2016 - 19h21min

Atualizada em: 05/02/2016 - 19h22min


Amanda Munhoz
Amanda Munhoz
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Fevereiro chegou e deu um duro golpe no coração dos colorados: D'Alessandro se foi. Voltou para a sua primeira casa, o River Plate. Curiosamente, o segundo mês do ano também deu ao Inter mais uma taça: a Recopa Gaúcha – ainda com o argentino como capitão. Naquele mesmo dia, mais uma pancada: Henrique Almeida. O centroavante que o Inter pensou contratar, depois declinou da negociação, foi anunciado pelo Grêmio.

O presidente Vitorio Piffero agora é convocado a dar respostas ao torcedor e aos mais de 100 mil associados, que bancam o clube. Vem sendo cobrado pela contratação de um atacante e de uma grife para a vaga de D'Alessandro. Nesta entrevista a Zero Hora, o presidente do Inter assegura que prioridade não é a busca por um nome de peso que supra a liderança do meia argentino em campo.

– Ídolos não são substituídos, vão para uma galeria. E o D'Alessandro volta no ano que vem. Não se substitui. Não se perde. Vou começar com Valdomiro, Larry... ídolos que jamais são esquecidos. Figueroa e tantos outros. Então, o que vamos ter que buscar é a qualificação da nossa equipe. Estamos olhando isso com a devida responsabilidade – disse, para emendar:

– Nós temos o Anderson, o Alex. Tem mais uma gurizada da base que está se firmando.

Confira os principais trechos da entrevista com Vitorio Piffero:

Quando o Inter soube da vontade do D'Alessandro de jogar no River Plate?
Há uns três, quatro meses, mais ou menos. Ele vinha antecipando essa possibilidade, talvez até se convencendo desta possibilidade. E, na segunda-feira, eu estava no Rio tratando de assuntos do Inter e ele me ligou. Confirmou essa opção, dizendo que deveria resolver até quinta-feira, porque era o último dia da entrega da lista do River Plate para a Conmebol. Eu, ao telefone mesmo, não tinha como dizer não ao D'Alessandro por tudo que ele fez no Inter. Como torcedor, evidentemente, há um "luto". Mas, como dirigente, não tinha como negar esse desejo explícito de jogar este ano pelo River. E assim foi. Me ligou o empresário dele que estava na Argentina.

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Em que condição foi este empréstimo?
Foi um empréstimo oneroso. O River Plate vai pagar 300 mil dólares pelo empréstimo de 11 meses. Paga integralmente o salário (e direitos de imagem) do D'Alessandro nesses 11 meses. E ele retorna no dia 1º de janeiro. Saiu daqui em festa. Era o terceiro ano que o Inter disputava a Recopa, e é a primeira vez que ganha. A torcida fez festa para o D'Alessandro todo tempo . Cantou o jogo inteiro o nome dele. E isso é fantástico. Sai o jogador, o ídolo fica.

É preciso substituir o ídolo?
Ídolos não são substituídos. Ídolos vão para uma galeria. E o D'Alessandro volta no ano que vem. Mas eles vão para uma galeria especial. Não se substitui. Não se perde. Vou começar com Valdomiro, Larry... ídolos que jamais são esquecidos. Figueroa e tantos outros. Então, o que vamos ter que buscar é a qualificação da nossa equipe. Estamos olhando isso com a devida responsabilidade. Vamos seguir sempre qualificando para as disputas que temos neste ano. Quero salientar que, com este título da Recopa Gaúcha, é o 15º ano consecutivo que o Inter ganha um título oficial. Ah, a Recopa é pequena? É pequena. Mas tem gente que não ganhou. É importante? É. Mais uma taça no armário, com participação efetiva da torcida. Estamos felizes, procurando a qualificação da equipe. Quero reforçar, não vamos substituir um ídolo.

O Inter muda o foco do centroavante para a busca de um meia?
Nós temos o Anderson, o Alex. Tem mais uma gurizada da base que está se firmando. Temos 23 jogadores da base no profissional. Tem gente que diz que não investimos na base. Investimos e investimos muito. Revelamos jogadores. Depois, quero falar de um que eu vendi e vou explicar o porquê.

O lateral-esquerdo Rogério?
Isso, o Rogerinho. Nós o vendemos por 1,5 milhão de euros por 80% do jogador. Por quê? Temos no grupo principal Geferson e Artur. Geferson já foi Seleção Brasileira, e o Artur, da base. Temos ainda Kayke, Iago e o Oliveira. Se vocês repararem, o Rogerinho não foi para a Copa São Paulo.

Ele se machucou.
Isso. Mas o Inter é fabricante, produz jogadores.

Vocês entendem que fizeram bem o negócio?
Evidente. Com ele, seriam seis jogadores da mesma posição. Como produzimos jogadores, temos que vender. Dificilmente, vendemos jogadores da base. Mas, nesta condição, era um preço excelente. Tem mais alguns gatilhos dependendo da participação do Rogerinho na equipe. E, para quem produz jogadores, não podemos só comprar.

Voltando a reforços, a prioridade é um centroavante?
Estamos em busca de um 9. A avaliação do nosso jurídico entendeu que era muito arriscada a contratação deste jogador que acabou assinando com o Grêmio. Tentamos fazer um acordo que unisse em um mesmo documento o Botafogo, o São Paulo, o jogador e o Inter, aí não haveria risco. O São Paulo não abriu mão de cobrar o que entende do Botafogo, que perdeu o jogador na Justiça. É uma decisão liminar neste momento. Tem uma série de riscos, além do valor, que não dava para passarmos por este risco. Já havíamos feito um acordo com o São Paulo e com o Botafogo. Mas nossa exigência era ter um único documento para eliminar o risco. Entre si, não concordaram. Não sabemos onde isso vai dar.

O Inter sabia que o Grêmio também estava no negócio?
Sim, sabíamos. Mas o jogador, na realidade, tem este problema. Não tem como resolver com o jogador, sem resolver o problema.

Henrique não vale o risco?
Nós entendemos que não vale.

Já tem algum nome encaminhado para o lugar que seria de Henrique Almeida?
Temos vários, mas não podemos revelar.

Inter já busca alguém para o lugar do Alisson?
Estamos avaliando a base, temos goleiros importantes, de seleção, inclusive. Entendemos que, se necessário, vamos contratar. Temos o nome, inclusive.

Seria o Weverton, do Atlético-PR?
Não falamos de nomes.

Qual o projeto do Inter para o Anderson com a saída do D'Ale?
Anderson tem oito anos de Premiere League. Isso é ruim?

Mas se chegar uma nova proposta por ele, que bata nos R$ 40 milhões, o Inter vende?
Todos os jogadores são vendáveis. Temos grandes jogadores sendo transacionados na Europa, com valores estratosféricos. Isso porque alguém chegou no valor.

Mas Anderson ainda não mostrou o futebol que se espera dele.
Eu acho que ele foi muito bem contra o São José. Participou, quase fez gol. Evidentemente, ainda está crescendo. Quando ele veio, estava completamente desacreditado. Na Europa, inclusive. Hoje, o Anderson já tem o seu mercado. E, evidentemente, vai crescer mais.

No seu entendimento, Argel está no caminho certo? É possível o Inter sonhar com um Brasileiro e com a Copa do Brasil sem D'Alessandro?
Claro que sim. Primeiro, o trabalho dele está excelente. Desde quando o Argel entrou, fizemos a segunda melhor campanha. Perdemos apenas para o campeão, o Corinthians. Óbvio, é um trabalho incontestável. Tivemos a Florida Cup, que foi um sucesso. Temos mais dois anos, e vamos repetir. Então, começa o Gauchão. Ganhamos um título que não havíamos ganho nos últimos anos. Está começando muito bem, revelando e dando condições para os jogadores da base terem oportunidade. Torcedor quer se identificar com líderes, como D'Ale, Fernandão, mas também com jogador de base.

Alex seria o substituto natural do D'Alessandro. Ou ele estaria atrás do Anderson no time?
O Anderson estava jogando ao lado do D'Alessandro. Temos, ou melhor, tínhamos três meias de extrema habilidade, cada um com sua característica, como Alex, D'Ale e Anderson. E dois eram utilizados. O que se espera? É que eles deem o máximo de si. Quem for melhor, vai jogar. A cada treino, precisa mostrar que é melhor do que os colegas que estão

Inter pretende se desfazer de mais algum jogador neste ano?
A ideia é não vender. No entanto, assim como todos os grandes clubes da Europa, quando chega a proposta em um valor irrecusável, todos os clubes vendem. Valores estratosféricos na Europa e menores do Brasil. O Inter é o que melhor vende há anos. Somos grandes vendedores e o maior conquistar de títulos no Brasil neste século. É o clube que mais ganhou títulos neste milênio.

Como estão as finanças do clube?
Muito bem, graças a Deus. Estamos trabalhando para resolver algumas coisas. Sempre dá para melhorar. Fizemos isso com apoio do sócio, pelo contrato com TV, venda de jogadores. Devemos ter um fechamento de ano extremamente equilibrado. Se gerou déficit, foi muito baixo. Então, temos um orçamento equilibrado.

A folha reduziu da casa dos R$ 13 milhões?
Reduziu, claro. Estamos em torno de R$ 7,5 milhões, incluída toda a despesa do futebol.

Todas as dívidas foram quitadas com o empréstimo de R$ 60 milhões?
Recebemos o clube com mais de R$ 40 milhões de adiantamentos. Venciam grande parte em 2015 e outra, em 2016. Reunimos todos eles, pagamos com este empréstimo e alongamos a dívida. Fizemos uma engenharia financeira na realidade. Sobre o que era, efetivamente de dinheiro novo, acho que foram R$ 28 milhões ou menos. O resto era de dinheiro que já estava comprometido por outros empréstimos da gestão passada. Então, alongamos a dívida para pagamento em 38 meses.

Inter ainda negocia com estrangeiros por conta de contratos antigos?
Sim, Scocco, Forlán e Bolatti. É uma herança que tem algo na Justiça. Tentamos fazer um acordo, mas tendo em vista o dólar, não foi possível. Como vamos pagar dólar cheio hoje, com o valor que está? Não é justo para quem paga. Para quem recebe é muito bom. Tentamos fazer acordo, não foi possível. Tem teoria da imprevisão. Contratos feitos a R$ 2, e agora está R$ 4, ninguém espera. Temos uma série de argumentos, e entendemos que temos de pagar um valor justo.

Foi o acordo feito com D'Alessandro há poucos dias?
Não tem dívida. O D'Ale já vinha com valores de conversão por dólar. Este ajuste nunca foi feito. Então, tinha que ser feito. Chegamos a um bom termo. Ele cedeu um pouco, o Inter também. Chegamos a um valor confortável, embora nada seja confortável quando se fala em dólar. Chegamos a um número palatável para resolver uma questão antiga, que vem junto, permanente, mês a mês.

Há alguma proposta por Alisson Farias?
Foi dito que, como ele não estava treinando, está vendido. Não está vendido e não vou vender. Vendi o Rogerinho, porque a proposta era boa. Não tem proposta para o Alisson Farias.

E o Bruno Baio resolve momentaneamente o problema do centroavante?
Eu gostaria que resolvesse, mas ele ainda tem que melhorar. Zagueiros novos são raros. Centroavante também. De área, principalmente, precisa ter mais bagagem, mais experiência. Claro que sempre tem aqueles excepcionais. Ele está no caminho, mas tem que melhorar.

Tem algum nome encaminhado para a posição?
Vamos analisar criteriosamente. Temos vários nomes. Mas tem uns que agradam, outros que não agradam e tem possibilidade. Valores têm que ser compatíveis. O mercado está diminuindo o valor dos salários. Aqui e fora daqui. A Europa está adequando o valor por produtividade. Estamos adequando para baixo. Jogadores têm de entender que o valor está baixando e precisa ter bom senso.

Ainda que esteja sendo jogada em caráter amistoso, o Inter entende como positiva a Primeira Liga?
No Clube dos 1,3 havia uma organização que defendia os clubes como um todo e que negociavam com televisão, enfim, como um todo. Isso dava um equilíbrio. Sempre houve uma escala de recebimento. Definida e aceita por todos. Com a implosão do Clube dos 13, isso acabou. E os direitos de TV passaram a ser negociados individualmente. E não sabemos direito quanto cada clube recebe. Sabemos que tem quem esteja recebendo três vezes mais do que o Inter, por exemplo. Isso cria uma disparidade econômica muito grande. E dinheiro se traduz em jogador, que se traduz em títulos. Então, temos que ser melhores neste momento do que quem ganha mais. Não é fácil. A Liga é o embrião de uma associação. Mais do que o campeonato Sul-Minas-Rio, é um embrião de uma associação de clubes que tem o mesmo interesse. E essa é a importância da Liga. Não é Inter e Grêmio. Todos brigamos sempre a favor da lei e conseguimos obter uma vitória que vai fortificar os nossos clubes ali na frente. Este é o valor da Primeira Liga para nós.

Inter fechou contrato com o Esporte Interativo?
Existe uma negociação. No momento adequado, isso virá a público. Neste momento, não posso ir além disso. Existe essa negociação. Acho interessante porque, enquanto temos um monopólio... É parecido com o Clube dos 13. Nós tínhamos uma certeza quando uma entidade brigava pelos nossos direitos. Agora, temos uma incerteza. Estamos indo para uma "espanholização" do futebol brasileiro. O que é isso? Ter dois grandes clubes, financeiramente, recebendo muito mais do que os outros de uma mesma fonte, que abraça todas as formas de transmissão dos jogos: TV aberta, fechada, pay-per-view e internet. Ela regula de maneira soberana. Se tivéssemos uma marca só de qualquer produto, não é legal. Acho que, neste sentindo, saindo essa negociação, será importante. Nada contra este ou aquele canal de TV. Estamos a favor dos clubes.

Seria para canal fechado?
Isso, a proposta é para canal fechado. Só no Brasil há um monopólio completo.

A proposta do Esporte Interativo giraria em R$ 40 milhões?
Não vou confirmar os valores. Mas queremos abrir o mercado. A concorrência vai melhorar para todo mundo. Tivemos, no Brasil, o episódio dos carros. Eram três ou quatro fábricas no país inteiro. Agora, todos os carros melhoraram, porque entraram todas as marcas. Ganhamos em qualidade, em preço.

O novo estatuto, com um Conselho de Gestão, beneficia o clube?
Acho que sim. Fortalece a gestão da forma como está disposto neste novo estatuto que deve ser aprovado. O clube continua sendo presidencialista. Existe uma divisão de responsabilidades, que hoje sobrecarrega sempre a figura do presidente. Vai haver essa divisão. E com pessoas que foram escolhidas pelo presidente. Ao discordar, vai haver a discussão ,e a decisão será conjunto. Apesar de ser só aprovado pela assembleia geral e ser implantado oficialmente só no ano que vem, pretendo começar a implantar isso, apesar de não ser necessário, neste ano.

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