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A TV ri de si mesma

Em "Tá no Ar", Marcelo Adnet recicla o humor brasileiro e faz TV rir de si mesma

Terceira temporada do programa já fez piada sobre jeitinho brasileiro, Carnaval e programas da própria emissora

16/02/2016 - 03h01min

Atualizada em: 16/02/2016 - 03h01min


Gustavo Foster
Gustavo Foster
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Selma Chivas / Divulgação

A TV aberta tem um novo queridinho. Com recordes de audiência, vídeos viralizando no Facebook semanalmente e polêmicas envolvendo novos e antigos humoristas, Tá no Ar: a TV na TV alavancou Marcelo Adnet ao posto de marco inovador da comédia televisiva brasileira. Na terceira temporada, que chega a seu quinto episódio nesta terça-feira, às 23h15min, na RBS TV, o programa tenta elevar o tom - e mudar a maneira com que o brasileiro ri.

Em um dos mais recentes episódios, um Marcelo Adnet transfigurado na cantora Lorde interpretava uma música repleta de spoilers de séries e novelas famosas, ao ritmo de Royals, sucesso na voz da neozelandesa. O esquete, um dos que causaram maior repercussão entre os episódios recentes, não dura mais do que três minutos, fala de um assunto atual e tenta conversar com o público mais jovem. A descrição se encaixaria em poucos programas de humor na TV.

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- Sempre pensamos em um programa que pudesse viralizar e dialogar com o universo das redes sociais, onde achávamos que seria um terreno fértil, tanto para as pessoas assistirem inteiro ou compartimentado, já que as cenas têm 30 segundos, um ou dois minutos. O programa ficaria menos perecível se conseguisse um formato que pudesse "passear" por aí ao longo da semana - resume Marcius Melhem, um dos criadores, roteiristas e protagonistas, ao lado de Adnet.

A estratégia faz parte de uma mudança de rumo da Globo, em prática desde 2014, quando o programa estreou.

- A emissora queria se abrir para esse caminho da conexão do humor com a sociedade - diz Melhem.

É por isso, por exemplo, que Tá no Ar: a TV na TV raramente traz piadas que atinjam homossexuais, mulheres e estereótipos como "o português" ou "a loira", algo quase histórico no humor nacional.

Outro fator que chama atenção nas piadas do programa é a graça em cima de atrações do canal. Ao falar da própria Globo, o programa acaba renovando o estilo tradicional da emissora. Para Ary Toledo, um dos piadistas mais conhecidos do país, o movimento é benéfico para todos que vivem de fazer os outros rirem. Ao "gozar da chefia", diz, o humor alcança um de seus papéis mais importantes:

- O programa é inovador. É muito bom quando se critica a TV brasileira, inclusive com ampla liberdade de falar da própria Globo, porque dá um bom sinal de que a censura interna está acabando. O humor tem que ser sempre de oposição, pedra no sapato de alguém. Não existe arma mais poderosa que o riso. E isso não é fácil, principalmente na TV, onde você encontra uma série de resistências.

Críticas ao tratamento de temas políticos

No entanto, críticas ao programa levam em conta o seu pouco envolvimento político. Houve esquetes com tons de crítica social ou de comportamento - como a versão de Roda Viva que denunciava as corrupções diárias do Brasil, o famoso "jeitinho brasileiro" -, mas quase não há citações a escândalos políticos ou a personagens de Brasília (algo mais contundente em programas antigos da emissora, como TV Pirata e Viva o Gordo). O psicanalista Abrão Slavutzky, autor do livro Humor É Coisa Séria (editora Arquipélago), aponta o que ele chama de "falha grave" no humorístico - que ele, a propósito, considera "o mais inovador desde Casseta & Planeta":

- Estamos precisando de humor político, e quase não se faz. É grave. A linguagem do programa é espetacular, e o sucesso é lógico, mas o acho superficial. É um humor inofensivo e cuidadoso, trata de forma sagrada o que não se pode falar. São piadas muito comportadas.

Tá no Ar em quatro momentos

ENTREVISTA COM MARCELO MADUREIRA
No programa de estreia, a terceira temporada já apresentou uma polêmica. Em uma esquete de dois minutos, Marcius Melhem apresenta o Talk Show Sincero, programa no qual entrevista um "ex-comediante, ex-engraçado e atualmente amargurado", personagem que foi visto por alguns como provocação a programas como o Casseta & Planeta. Em 2015, Marcelo Madureira, membro do antigo humorístico, havia dito que Tá no Ar "é uma cópia de Casseta & Planeta misturada com TV Pirata". (Clique aqui para assistir)

ATENÇÃO: SPOILERS!
Não dá nem para reproduzir uma parte da letra aqui, já que quase 100% desta esquete é formada por spoilers decisivos sobre séries queridas do público, como Game of Thrones, Breaking Bad e House of Cards - além de piadas com o humorístico mexicano Chaves ("O Chaves é o Chapolin") e o filme O Sexto Sentido (um dos desfechos mais famosos do cinema). É claro que o pessoal fã de seriados amou odiar o esquete, que viralizou. (Clique aqui para assistir)

CRÍTICA AO JEITINHO BRASILEIRO
"Beber e olhar no Twitter onde tem blitz / Furar e cortar e ultrapassar pelo acostamento e fingir que não vi".  A crítica não é nova, mas a versão de O que É, o que É?, de Gonzaguinha (a música cujo refrão tem "Viver e não ter a vergonha de ser feliz", lembrou?), foi um dos grandes sucessos do programa e acabou sendo supercompartilhada nas redes sociais. (Veja aqui)

CRÉDITO OU DÉBITO?
Em uma dos esquetes da terceira temporada, o programa lança o fictício "Propinocard", um cartão de crédito específico para momentos em que corruptos têm de lidar com seus corrompidos, mas não têm dinheiro vivo no bolso. É um dos momentos de humor político do programa. (Assista ao vídeo)


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