Lições da tempestade
O que o temporal ensina a Porto Alegre
Órgãos avaliam que houve dificuldade no atendimento e dizem que é preciso melhorar estratégia de comunicação e avaliar condições das árvores da Capital
A intensidade do fenômeno que atingiu Porto Alegre na noite de sexta-feira servirá para mais uma etapa do aprendizado sobre como enfrentar adversidades climáticas. Mesmo avaliando que a cidade reagiu bem e rapidamente, mesmo com algumas dificuldades, autoridades se preocupam com o que deve ser aprimorado. Dois itens que já estão na lista de prioridades são como driblar os problemas de comunicação entre órgãos e uma urgente avaliação das árvores.
O primeiro obstáculo na sexta-feira, entre 22h e 23h, foi a locomoção. Segundo Nelcir Tessaro, coordenador da Defesa Civil municipal, as equipes não tiveram como atuar devido aos problemas de trânsito causados pela intensidade da chuva. A partir das 23h, os atendimentos começaram a ser feitos, mas havia dificuldade de comunicação.
- Passamos a madrugada (de sábado) sem sistema, sem internet. O telefone só voltou às 5h30min. O 190 também teve falhas. A situação melhorou a partir da manhã de sábado, quando nos reunimos no Ceic (Centro Integrado de Comando da Cidade). A prefeitura distribuiu rádios (da nova rede digital que está sendo instalada pelo órgão na cidade) e facilitou nosso contato. Nunca tinha acontecido isso, de perdermos praticamente toda a comunicação - explicou o tenente-coronel Alexandre Martins, coordenador da Defesa Civil do Estado.
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Na sede da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), uma árvore caiu, desligando a comunicação pelo número 118. Faltou luz, a telefonia celular saiu do ar, a internet não funcionou e apenas uma linha convencional operava. Funcionários foram remanejados para ajudar a atender os usuários pelo fone 156, da prefeitura. Só havia comunicação por rádio e muitas pessoas compareceram ao trabalho espontaneamente, já que não havia como serem chamadas.
Conforme a Defesa Civil municipal, a preferência foi o atendimento a residências e estabelecimentos (como hospitais) comprometidos pela queda de árvores, além de restabelecer o fornecimento de luz e de água. A EPTC explicou que a prioridade não era cuidar de cruzamentos.
- O foco foi atuar nas vias com bloqueios, com fios energizados. Em relação aos cruzamentos, teria de ter mais de 200 funcionários atuando 24 horas só nisso. Contamos com o bom senso dos motoristas - disse Marcelo Soletti, secretário-adjunto da EPTC.
Tessaro ressaltou ainda a necessidade de uma avaliação geral nas árvores da cidade:
- Entre vegetais que caíram ou estão danificados, tivemos mais de mil. É preciso avaliar, plantar pensando no que pode acontecer no futuro. O que houve pode se repetir.
Como estão atuando alguns envolvidos na ação para resolver os transtornos
BOMBEIROS
- Há permanentemente 12 equipes - uma em cada comando regional - para emergências.
- Foram acionadas cinco, levando em conta a proximidade com o tempo para deslocamento: Canoas, São Leopoldo, Caxias do Sul, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul.
- Até nesta segunda, atuaram, em média, em torno de cem bombeiros.
- A manutenção desse efetivo por mais dias depende de horas extras e diárias.
- Atuação é, prioritariamente, em apoio à CEEE, cortando árvores para facilitar o acesso a ruas.
- Bombeiros de SC emprestaram carreta com 28 mil litros de água.
CEEE
- O número de equipes atuando em um fim de semana normal fica em torno de 20 a 30. Desde o sábado, a CEEE está entre cem e 115 equipes nas ruas.
- Contando os serviços de retaguarda, internos e de despacho, são 1,5 mil funcionários que estão se revezando diariamente em turnos de seis, oito ou 14 horas, que é o máximo permitido pela legislação.
- O trabalho é focado na recomposição de redes, conserto de cabos rompidos, troca de postes e também poda de árvores.
DMLU
- Além dos serviços de coleta e outras atividades regulares, o DMLU está atuando na força-tarefa com 300 garis e 70 caminhões. Das 700 pessoas que trabalharam diariamente na cidade, 300 estão focadas no mutirão.
- Até a tarde desta segunda, 1,2 mil toneladas de resíduos do temporal haviam sido recolhidas.
Exército
- Está apoiando a prefeitura no trabalho de retirada de árvores das vias. São 60 militares.
- Também está empregando viaturas e geradores próprios.
EPTC
- Segunda pela manhã, estavam trabalhando 168 funcionários, compondo 54 equipes com 50 viaturas. A previsão da EPTC é de que o número flutuasse durante o dia. Dentro do efetivo estão contados não só fiscais, mas também eletricistas e operários.
- O número empregado é, segundo a EPTC, superior ao normal de um dia de época de férias, que ficaria em torno de 50. O aumento é mantido com horas extras e ajustes em escalas.
- A prioridade dos agentes não é atuar em cruzamentos com problema de semáforos, a não ser em casos de locais com maior movimento. Por volta das 15h desta segunda, havia em torno de 45 sinaleiras sem funcionar. A atuação está focada no desbloqueio de ruas com fios energizados ou caídos na via e no apoio a equipes de outros órgãos.
Defesa Civil Estadual
- Opera como facilitador entre órgãos municipais, estaduais e federais em busca de apoio para as ações necessárias.
- Nesta segunda, intermediou auxílio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, com seis equipes, entre outros. A Secretaria da Segurança Pública está atuando com reforço do policiamento em áreas em que o comércio sofreu danos ou onde possa haver outros riscos, como de fios em via pública.
- Também foram deslocados apenados do regime semiaberto para atuar na limpeza de ruas.
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