Pelas Ruas



Porto Alegre

Onde a inflação não tem vez: na Cidade Baixa, argentina de 80 anos cobra R$ 5 para cortar cabelo

Cabeleireira mantém o preço desde que abriu o salão, na década de 1980

12/02/2016 - 18h13min

Atualizada em: 12/02/2016 - 18h13min


Jéssica Rebeca Weber
Jéssica Rebeca Weber
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Quilo do tomate, colégio das crianças, tosa do cachorro, litro da gasolina. Se você não aguenta mais ver a disparada dos preços toda vez que tira a carteira do bolso, pode se reconfortar sabendo que, pelo menos em um lugar de Porto Alegre, a inflação não tem vez.

Esse lugar é o salão de beleza da dona Margarita di Martino, que fica na Rua José do Patrocínio, pertinho da igreja. A cabeleireira argentina de 80 anos - que, eu atesto, tem o abraço mais apertado da Cidade Baixa - ainda cobra R$ 5 no corte de cabelo.

- Trabalho aqui há 35 anos, e desde o começo é o mesmo preço. Primeiro, eram em cruzados, depois cruzados novos. Mas sempre cinco.

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Esther Margarita ("com T de Tito", destaca ela) defende que, se conseguiu comprar aquela loja, reformá-la, construir sua casa em cima e ainda pode pagar as aulas de inglês dos netos, não tem por que aumentar o valor. A decisão tem um efeito colateral vantajoso: não precisa trocar a placa que anuncia a "promoção" na frente da fachada estreita há pelo menos duas décadas.

- Cinco mais cinco é 10. Mais cinco, é 15. A gente acaba não gastando tudo isso. Eu sou uma pessoa bem econômica, não faço nada que não posso - explica ela, com um sotaque cativante.

Margarita ainda corta cabelo com a mesma tesoura Mundial com que abriu o salão na década de 1980. Imagens de santos doadas pelas clientes e um retrato seu feito na Rua Doutor Flores, aos 21 anos, um ano depois que chegou ao Brasil para estudar massagem bioenergética, adornam os cantos do grande espelho. Aqui ela resolveu ficar ao conhecer um pretendente, com quem casou e teve três filhos, que seguiram outras profissões.

No salão, Margarita também pinta cabelo, faz penteado, pé e mão - com preços mais reais do que o corte. Grande parte das suas freguesas mantém uma fidelidade de décadas, que se transformou em amizade. Se a cliente não consegue mais ir até a loja em função da idade, é Margarita que vai até elas. A argentina não aparenta as 80 primaveras.

- O segredo é trabalho. Trabalho é saúde - garante.

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Foto: Jéssica Rebeca Weber/ Agência RBS


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