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Crise?

Redução de custos obriga Carnaval do Rio a fazer economias

Recuo de patrocínios tanto de empresas privadas quanto de públicas obrigou os organizadores do Carnaval do Rio de Janeiro a economizar no desfile mais famoso do Brasil

06/02/2016 - 11h01min

Atualizada em: 06/02/2016 - 11h01min


Paula Minozzo
Paula Minozzo
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Leo Franco / AgNews

Ocenário conturbado da economia no país respingou no maior espetáculo de Carnaval - o do Rio de Janeiro. Quem sentiu os efeitos da crise econômica foram, especialmente, as escolas de samba. Empresas e governos estadual e federal diminuíram ou até mesmo cortaram custos com o desfile na Sapucaí. A alta do dólar fez alguns materiais usados para as alegorias e fantasias sumirem das lojas de produtos especializados.

A criatividade dos carnavalescos foi o segredo para superar as dificuldades financeiras.
Leonardo Bruno, colunista de carnaval do jornal Extra e autor de livros sobre as escolas Salgueiro e Vila Isabel, concorda que o ano foi difícil, mas que substituições e um planejamento das escolas vão garantir um desfile de qualidade.

- Vai se perceber mais a crise no pré-Carnaval, com a dificuldade de venda de camarotes e falta de patrocínio. Mas assim que a primeira escola entrar na avenida, todos vão esquecer que tem crise. Os desfiles estarão tão belos quantos nos últimos anos, mesmo sem tanto dinheiro - diz Bruno.

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Tarcísio Zanon, carnavalesco da Estácio de Sá, concorda. A escola subiu para o Grupo Especial em 2015. Depois de nove anos, a reestreia na elite vai ser em um ano conturbado economicamente. Tecidos caros foram substituídos por materiais mais simples, como rolha e palha de aço, mas que, aos olhos do público e dos jurados, diz ele, terão o mesmo efeito glamuroso. Em algumas fantasias, o carnavalesco usou jornal impermeabilizado com cola, uma alternativa mais barata do que usar um revestimento com material sintético. Para os dragões amarelos que estarão nas alegorias, foi utilizado plástico bolha ao invés de tecidos.

- Todas as escolas estão se adaptando. Alguns produtos que eram importados da China estão em falta no mercado por causa da alta do dólar. Mas o público terá o espetáculo garantido - afirma Zanon.

As escolas, geralmente, recebem dinheiro de prefeituras ou empresas quando homenageiam lugares ou certos temas. No ano passado, a Estácio, por exemplo, contou com o apoio da prefeitura já que o enredo falava sobre a cidade do Rio de Janeiro. Em 2016, não terá patrocínio para o seu samba-enredo.

- As escolas conseguiram pouco dinheiro das prefeituras e das empresas. A Beija-Flor, com enredo que vai falar da cidade de Nova Lima, em Minas Gerais, onde nasceu Marquês de Sapucaí, não recebeu nada de lá - revela Bruno.

O diretor de Carnaval da Beija-Flor, Laíla, disse que a sugestão do enredo sobre o Marquês de Sapucaí coincidiu com a vontade da escola de desenvolver um projeto mais barato e com características mais simples, que se notava em Carnavais dos anos de 1960, 1970 e 1980.

- A gente conversou e chegou à conclusão de que este enredo seria propício para a gente mudar a cara do que queríamos. Tentamos gastar um pouco menos. Um Carnaval bem elaborado, mas com adereços alternativos - contou à Agência Brasil.

Laíla revelou que chegou a ir a Nova Lima para ver se conseguia algum apoio da prefeitura, mas logo ficou sabendo que não seria possível. Ainda assim, havia a possibilidade de receber recursos de empresas mineradoras, que também não se confirmou, especialmente, após o desastre do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em Minas Gerais.

Neste ano, as escolas sentiram na pele, principalmente, a falta de recurso do governo federal. No início da semana, a Petrobras decidiu investir R$ 2,4 milhões no Carnaval 2016, que será divido pelas 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio.

O valor representa uma redução de 80% do que foi aplicado nos cinco anos anteriores, quando o apoio cultural atingiu R$ 12 milhões ao ano. De acordo com a empresa, em função da atual situação da companhia (desde março de 2014, desvio de recursos da
Petrobras estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal), a decisão representa um esforço de redução dos valores dedicados à atividade de patrocínio.

Grandes empresas que, nos últimos anos, garantiram espaços luxosos na Sapucaí abriram mão de um lugar reservado em 2016. Ao menos cinco desistiram dos chamados supercamarotes - que tinham capacidade para até mil pessoas e custo médio de R$ 1 milhão.

Heron Schneider, coordenador-geral de vendas da Liesa, não revela o nome das empresas, porém, afirma que todos os camarotes já foram preenchidos com novos compradores. Os espaços menores, para até 18 foliões e custo de até R$ 85 mil, tiveram de ser redistribuídos para as escolas de samba, que ficaram encarregadas de encontrar patrocinadores ou parceiros para adquirem os espaços.

O governo do Rio de Janeiro também desistiu do camarote que ocupava no tradicional desfile das escolas de samba. O lugar para 120 pessoas foi entregue à prefeitura da cidade, responsável pelo sambódromo, e foi colocado à venda pela Liesa. Nos últimos anos, o espaço era movimentado por políticos e celebridades.

- Na minha interpretação, o motivo foi que o governo está tendo dificuldade para pagar o funcionalismo e o Estado está sendo afetado pela crise na Petrobras, então o espaço foi entregue. Já os empresários dizem: "Como que eu vou arcar com custos de bufê e camarote se eu estou demitindo gente?". A crise afetou alguns setores e automaticamente respingou no Carnaval - diz Schneider, que está na Liga há 25 anos.

O representante da Liesa, afirma, porém, que os ingressos individuais devem estar esgotados até o dia dos desfiles. Ele diz que, com a alta do dólar, os turistas brasileiros que viajariam para o Exterior optaram por ficar no Brasil.

- O público não foi afetado. O Rio de Janeiro é a cidade top do momento, vai sediar os Jogos Olímpicos e tem o maior espetáculo da terra - opina.

A cidade deve receber cerca de 1 milhão de turistas para o Carnaval, injetando aproximadamente R$ 3 bilhões na economia, conforme divulgado pelo secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello.

- São números olímpicos - comemora.


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