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Lava-Jato

As dúvidas que pautam a investigação sobre Lula

Saiba quais são as principais respostas que a força-tarefa busca e o que o ex-presidente já declarou sobre elas

08/03/2016 - 02h01min

Atualizada em: 08/03/2016 - 02h01min


Humberto Trezzi / Brasília
Humberto Trezzi / Brasília
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CARLOS NARDI / WPP
Conforme o MPF, Lula visitou 111 vezes um sítio em Atibaia (SP), que foi reformado pelas empresas OAS e Odebrecht

Durante um ano e meio, a Operação Lava-Jato investigou e interrogou pessoas ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram ouvidos empresários, políticos e colaboradores dos seus tempos de governo. Alguns desses acabaram presos pela Polícia Federal, tantas foram as revelações que surgiram sobre esquemas de suborno na triangulação entre empreiteiras, parlamentares e funcionários de estatais como a Petrobras. Entre os que ocupam celas em Curitiba estão o ex-ministro José Dirceu (PT) e o pecuarista José Carlos Bumlai, frequentadores habituais do Palácio do Planalto durante os dois governos de Lula.

Os colaboradores mais fiéis evitaram qualquer comentário sobre Lula. Já alguns réus, em delações aceitas pela Justiça, garantiram que o ex-presidente estava a par de todos os negócios na Petrobras ou qualquer obra de vulto no país.

Depoentes da Lava-Jato relatam envolvimento

Em depoimento, o lobista Fernando Soares (o Baiano) e o empresário Salim Taufic Schahin, dirigente do Grupo Schahin, confirmaram que o contrato para exploração de uma plataforma de petróleo da Petrobras por parte daquele grupo empresarial - conquistado mediante propina ao PT, conforme  ambos - tinha "a benção de Lula", segundo teria relatado Bumlai.

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Outras pessoas confirmaram que algumas construtoras denunciadas pela Operação Lava-Jato por corrupção bancaram reformas em um apartamento e em um sítio que pertenceriam a Lula - os imóveis não estão registrados em nome do ex-presidente ou seus familiares. Documentos apreendidos nas empreiteiras também demonstram que fizeram os maiores repasses de dinheiro contabilizados pelo Instituto Lula e pela LILS, empresa de palestras do ex-presidente.

Foi com base nisso tudo que a Justiça Federal decretou, semana passada, busca e apreensão nos imóveis ligados a Lula, no Instituto Lula, na LILS e nas residências dele e de seus filhos, além da condução coercitiva para prestar depoimento.

Documentos da Lava-Jato mostram as principais dúvidas que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal querem ver esclarecidas em sua investigação sobre o ex-presidente. Lula já respondeu a algumas delas publicamente e pode ter abordado outras no depoimento que prestou na sexta-feira passada. O Instituto Lula não respondeu as questões enviadas ontem por ZH.

CINCO PONTOS

Policiais federais e procuradores encontraram, a partir de documentos e depoimentos, indícios de irregularidades que envolveriam o ex-presidente

PALESTRAS

Três dirigentes da OAS (Ricardo Imbassahy, Carmine Di Siervi Neto e Fábio Yonamime), ouvidos pelo MPF, disseram não se recordar de palestras de Lula custeadas pela empreiteira. No material da empresa de palestras LILS, constam diversos contratos com a OAS para palestras. Mais: a quebra do sigilo fiscal da empresa de Lula demonstrou que a LILS contabiliza R$ 21 milhões recebidos entre 2011 e 2014, parte disso oriundo da OAS.

  • Lula ainda não se pronunciou publicamente a respeito desse episódio.

Dúvidas
- Lula recebeu por palestras compradas pela OAS?

- Se o ex-presidente fez as palestras, por que os dirigentes da empresa não se recordam disso?

TRIPLEX NO GUARUJÁ




O ex-presidente Lula foi filmado e fotografado dentro da cobertura triplex de número 164-A do Condomínio Solaris, na praia do Guarujá (SP). Conforme depoimentos colhidos pela força-tarefa da Lava-Jato, o imóvel teria sido reformado pela construtora OAS a pedido da família do ex-presidente. Lula nega e diz que não fez opção de compra de um apartamento simples no mesmo edifício, pela Bancoop (cooperativa, que depois faliu).

  • O ex-presidente afirma ter desistido do negócio.

Dúvidas
- Se Lula desistiu do negócio, por que foi filmado supervisionando a reforma do triplex, junto a um dos diretores da OAS, em janeiro de 2014?

- Por que a construtora realizaria obras e instalaria móveis no apartamento?

REPASSES DE PAI PARA FILHO



Conforme perícia feita a pedido do Ministério Público Federal (MPF), o Instituto Lula repassou, entre 2012 e 2014, R$ 1.349.446,54 para a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital, empresa da qual são sócios Fábio Luis Lula da Silva (filho de Lula), Fernando Bittar (dono do sítio usado por Lula em Atibaia) e Kalil Bittar. Outra empresa que recebeu recursos foi a Flexbr Tecnologia, que tem o mesmo endereço da G4, e cujos sócios são Marcos Cláudio Lula da Silva, Sandro Luís Lula da Silva (ambos filhos de Lula) e Marlene Araújo Lula da Silva (nora de Lula). A Flexbr também recebeu R$ 72.621,20 da LILS Palestras, Eventos e Publicações (empresa de palestras de Lula), entre 2013 e 2014.

  • Lula ainda não se pronunciou publicamente a respeito.

Dúvida
- Por que os filhos de Lula receberam repasses da instituição controlada pelo pai?

MUDANÇA PAGA POR EMPREITEIRA

A construtora OAS (uma das investigadas por desvios de dinheiro em contratos com a Petrobras) celebrou contrato com a empresa Granero, no valor mensal de R$ 21.536,84, para "armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo" de sua propriedade. Investigação da PF apurou que, na realidade, o que foi armazenado é a mudança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele deixou Brasília, no segundo mandato. Conforme procuradores da República, o negócio foi intermediado por Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e sócio da LILS. Durante cinco anos, a OAS pagou o aluguel de 10 guarda-móveis usados para armazenar bens do ex-presidente.

  • Lula ainda não se pronunciou publicamente.

Dúvidas
- Por que a OAS pagou a estocagem de material de Lula?

- Por que a mudança foi feita em caminhões do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que foi presidido por Lula?

SÍTIO EM ATIBAIA



Conforme o MPF, Lula visitou 111 vezes um sítio em Atibaia (SP), que foi reformado pelas empresas OAS e Odebrecht. A propriedade pertence nominalmente a Fernando Bittar, sócio de Fábio da Silva (filho de Lula), e Jonas Suassuna. Lula admite visitas à chácara, mas nega que ela lhe pertença. 

  • O ex-presidente não comentou sobre bens que estão no sítio e seriam dele.

Dúvidas
- Por que a mulher de Lula, Marisa Letícia, comprou um pequeno barco avaliado em R$ 4 mil, indicando o sítio em Atibaia como local da entrega?

- Por que os pedalinhos do açude do sítio têm, pintados, os nomes de dois netos de Lula.

- Por que parte dos bens pessoais do ex-presidente Lula foram encaminhados ao sítio, após ele deixar a Presidência?

- Mensagens telefônicas de Leo Pinheiro (presidente da OAS) para outro diretor da empresa, em fevereiro de 2014, mencionam que "a cozinha do chefe está pronta", "marcar com a madame", "ver se o do Guarujá também está pronto" e "Fábio ligou desmarcando". Tudo na época em que a empreiteira reformou o sítio de Atibaia e o triplex no Guarujá e também no período em que Lula visitou os dois lugares. O "chefe" e a "madame" são Lula e Marisa?

- Fábio é o filho de Lula (no WhatsApp de Leo Pinheiro o número aparece com foto de Fábio Lula da Silva)?


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