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Crise em Brasília

Para desgastar Temer, PT ensaia proposta de nova eleição

Na primeira entrevista após derrota na Câmara, Dilma Rousseff evitou falar na possibilidade de encurtar mandato. Chances de aprovação da estratégia discutida por PT e aliados são remotas.

19/04/2016 - 02h01min

Atualizada em: 19/04/2016 - 04h51min


Guilherme Mazui / RBS Brasília
Guilherme Mazui / RBS Brasília
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Em pronunciamento no Planalto, Dilma foi evasiva quanto à possibilidade de encurtar o mandato sob risco de cassação

Cientes de que a deposição de Dilma Rousseff ganhou força, lideranças do PT incentivam a convocação de novas eleições presidenciais em 2016. Além de impedir que o vice-presidente Michel Temer governe por dois anos, o pleito teria condições de pavimentar um eventual retorno ao Palácio do Planalto de Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera pesquisas eleitorais.

Questionada, nesta segunda-feira, sobre a sugestão de apresentar proposta de emenda à Constituição (PEC) para antecipar o final do mandato sob ameaça de cassação, Dilma afirmou que não avalia, "agora", o assunto. Sem a negativa firme da presidente, a fala foi considerada uma senha para petistas batalharem pela possibilidade.

– O PT está discutindo internamente, vamos observar. Se esse golpe se consumar, estou convencido de que o Temer não segura três meses a Presidência – diz Lindberg Farias (PT-RJ).

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Nesta segunda-feira, um grupo de senadores de vários partidos, que inclui o petista Paulo Paim (RS), lançou campanha por novas eleições. Monitorada e incentivada pelo ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal), a articulação tenta colocar a PEC em discussão nas próximas semanas.

Os congressistas esperam ter nesta quarta-feira as 27 assinaturas necessárias para apresentar a proposta, e negam que a ação tenha respaldo do Planalto.

– O recado que vem das ruas claramente é a rejeição da chapa que venceu as eleições presidenciais em 2014. A melhor solução para esta crise excepcional é devolver à soberania popular a escolha dos novos mandatários da nação – afirmou Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A estratégia é buscar a simpatia de movimentos sociais, intelectuais, artistas e, inclusive dos grupos que protestam contra o governo, em uma espécie de reedição das Diretas Já. Outra possibilidade é a própria Dilma enviar a PEC, com terreno preparado para Lula concorrer.

– Ninguém quer Temer ou Cunha no comando do país. Se a maioria do povo, em eleição, entender que Lula ou qualquer outro brasileiro tenha de ser o presidente, será legítimo – diz Paim.

Estratégia do Planalto foca em congressistas do Norte e Nordeste

A tramitação da emenda ocorreria em paralelo ao impeachment no Senado. As previsões moderadas indicam que a Casa chancelará o afastamento temporário de Dilma em três ou quatro semanas. Como a emenda teria de ser aprovada em dois turnos na Câmara e no Senado, isso ocorreria com Temer como presidente interino.

Enquanto avalia o tema, Dilma vai em busca de votos. O governo admite ter minoria para barrar o processo, mas sustenta que a oposição não dispõe de 54 dos 81 senadores para efetivar a cassação.

Como o Senado é menor do que a Câmara, o governo aposta em conversas individualizadas, focadas no Norte e Nordeste, regiões que respondem por mais da metade dos senadores.

As bancadas serão divididas entre os aliados e ministros. Acredita-se que, desta vez, Lula poderá fazer a diferença. Também é estudado o retorno dos ministros do PMDB com mandato de senador, a exemplo do que ocorreu com deputados. Da sigla, se licenciariam Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Nomeações de cargos seguem como cartadas. Em retaliação às traições na Câmara, indicados de partidos infiéis podem ser exonerados no segundo e terceiro escalão.


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