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Dilma só volta se houver "acidente de percurso", diz Padilha

Ministro da Casa Civil defendeu o senador Romero Jucá e observou que um governo com mais de dois terços de apoio "não pode ter medo"

25/05/2016 - 22h31min

Atualizada em: 25/05/2016 - 22h33min


Estadão Conteúdo
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O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse nesta quarta-feira que a presidente afastada, Dilma Rousseff, só voltará a comandar o país se houver um "acidente de percurso" e negou que o novo governo, de Michel Temer, com apenas 13 dias, já enfrente uma crise política. Padilha defendeu o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi afastado do Ministério do Planejamento, ao sugerir, em conversa gravada, um pacto para frear a Operação Lava-Jato, e observou que um governo com mais de dois terços de apoio "não pode ter medo" de oposição.

– A menos que haja um acidente de percurso, fica muito difícil que se tenha retorno da presidente Dilma – afirmou Padilha.

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Advogado, o chefe da Casa Civil disse que, sob o ponto de vista legal, é "perfeitamente possível" a absolvição da presidente, mas observou que quem fez o movimento pela saída dela não foi o Congresso, mas, sim, as ruas. Questionado sobre o fato de Dilma dizer que a conversa gravada entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado escancara o "caráter golpista do impeachment", Padilha foi econômico no comentário.

– Tenho muita dificuldade em ver pessoas com boa formação falar em golpe quando o processo é regido pelo Supremo Tribunal Federal e foi aprovado, até o momento, por mais de dois terços do Congresso – disse ele.

No diálogo com Machado, ocorrido em março, semanas antes da votação do impeachment na Câmara, Jucá admitiu a necessidade de mudar o governo para "estancar essa sangria", numa referência à Lava-Jato. À pergunta se o governo não temia que a Lava-Jato acabasse contaminando a nova administração, o chefe da Casa Civil enfatizou, com um gesto de cabeça, a negativa:

– O governo absolutamente não. Nós temos certeza de que o presidente Michel Temer passa ao largo dessa questão da Lava-Jato.

Ao ser lembrado de que há, no governo, seis ministros citados em investigações da Polícia Federal, o chefe da Casa Civil reagiu:

– Muita calma nessa hora. A menção pura e simples (de nomes) pode não ter nenhum significado. A investigação pode chegar à conclusão de que é o caso de arquivamento.

Padilha não quis comentar gravações feitas por Machado envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e foi lacônico quando lembrado de que a delação de Machado ameaça outros peemedebistas de peso.

– Cada dia com sua agonia – disse.

Planejamento

Embora o governo já esteja procurando um substituto para Jucá, que seja afinado com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Padilha não quis antecipar nomes. Cauteloso, disse até mesmo que Jucá pode voltar ao comando do Planejamento, "na medida em que o Ministério Público Federal dê o atestado de que não houve nada censurável" na conversa mantida por ele com o ex-presidente da Transpetro.

Sem esconder a alegria com a vitória do novo governo em seu primeiro teste no Congresso, com a aprovação, na madrugada desta quarta-feira, da revisão da meta fiscal – que elevou a possibilidade de déficit no ano para R$ 170,5 bilhões –, o chefe da Casa Civil afirmou que o governo Temer dará uma "guinada político-administrativa" no país.

Medidas

Padilha assegurou que a nova gestão fará uma "auditoria" em todos os ministérios e repartições, mas disse que não haverá devassa.

– A intenção do governo não é fazer caça às bruxas – insistiu.

O ministro também destacou a necessidade de reformar a Previdência para equilibrar as contas públicas. Ao ser indagado sobre as críticas ao pacote de medidas anunciado na terça-feira – que cria limite para elevação dos gastos públicos e restringe o crescimento para despesas com saúde e educação – disse que é preciso "fazer mais com menos".

Diante da pergunta sobre a possível inconstitucionalidade da medida, Padilha fechou o semblante.

– Não há nada inconstitucional. Zero. Eu sou advogado. Isso é discurso de oposição – afirmou.

Aos 71 anos, conhecido por montar planilhas "certeiras" sobre votos dos parlamentares, Padilha acertou o placar da Câmara para o impeachment de Dilma. Agora, o ministro – que já foi titular da Aviação Civil no governo Dilma e ajudou Temer na articulação política, no ano passado – está certo de que a oposição ao presidente em exercício não vingará.



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