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Análise

Por que o Inter do Morumbi deu certo e o que fazer para que funcione contra defesas fechadas

Time teria de contar com maior participação ofensiva de seus meio-campistas

24/05/2016 - 06h01min

Atualizada em: 24/05/2016 - 06h02min


André Baibich
André Baibich
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Mesmo com uma formação anunciada durante toda a semana, Argel conseguiu causar alguma surpresa na forma com que posicionou seu time diante do São Paulo. No único treino aberto da semana, viu-se um 4-2-3-1, em que Fabinho, um dos volantes, atuava como meia aberto pelo lado direito. No Morumbi, porém, o time se organizou em um 4-3-3, que pode ser desmembrado em 4-3-2-1 (se considerarmos Andrigo e Sasha como integrantes do meio). Em resumo, os três volantes foram posicionados, exatamente, como três volantes. Formaram um tripé à frente da linha defensiva que auxiliou no bloqueio ao São Paulo.

Agora, a questão é como fazer com que o modelo funcione para furar defesas fechadas, cenário que se apresentou na atuação frustrante diante da Chapecoense. Abaixo, uma análise em quatro pontos da forma com que o Inter "amarrou" o São Paulo e como a estratégia do domingo pode ser aperfeiçoada para se tornar uma solução permanente.

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A formação que entrou em campo para bater o São Paulo: sete jogadores marcam, três jogam.

1) Trio de frente abandonado

Por mais que tenha sucesso esporádico, o modelo proposto por Argel no Morumbi tem claras fragilidades. A questão não é tanto o acúmulo de três volantes no mesmo meio-campo, e sim o distanciamento entre os setores.

O problema se manifestou nos momentos em que o Inter buscou o contra-ataque. Como os sete jogadores mais defensivos dificilmente se projetavam para apoiar o ataque, o trio de frente tinha de se virar sozinho para criar chances – o que fez com admirável competência. Isso incluía a tarefa de ganhar a disputa da bola longa que vinha lá de trás, já que, sem alternativas para fazer o time progredir com passes curtos, quem iniciava a jogada frequentemente apelava para o popular "chutão".

Não à toa o Inter tentou incríveis 54 lançamentos no Morumbi, número recorde do time na temporada. O modelo vencedor do domingo, portanto, não se sustenta como solução permanente, pelo menos não da forma como atuou. Falta controle de bola à equipe, algo necessário, especialmente, em jogos no Beira-Rio diante de adversários menos qualificados.

2) Divisão de tarefas

E como conseguir esse controle? Há quem acredite que seja impossível construir uma equipe criativa com três volantes de origem. Tudo depende, na verdade, da forma com que se movimentam.

No Morumbi, o time se dividiu entre sete jogadores que marcaram, e três que jogaram.

A linha defensiva foi protegida pelos três volantes. Anselmo, pela direita, e Fabinho, na esquerda, eram encarregados de brecar a subida dos laterais do São Paulo. Assim, os três homens de frente tinham tarefas mínimas de marcação. Quando o Inter roubava a bola, confiava que seu trio de frente resolvesse, sem muita ajuda de quem vinha de trás. A arrancada de William, de onde nasceu o gol da vitória, foi uma cena rara de jogador com obrigações defensivas que se projetou à frente quando o time teve a bola.

Para que o ataque crie oportunidades com maior frequência, o meio-campo de volantes teria de ser mais participativo na frente, aproximando-se dos atacantes para tabelas e chutes de média e longa distância. Movimentação intensa e múltiplas opções de passes curtos são essenciais diante de uma retranca.

3) Filme repetido

O Inter da estreia de Argel: formação quase idêntica à vitoriosa no Morumbi.

O Inter visto no Morumbi não é muito diferente do planejado por Argel para outros jogos de sua passagem pelo clube. Um bom exemplo é a estreia do treinador, um 0 a 0 diante do Cruzeiro, fora de casa, no ano passado.

O esquema tático foi praticamente o mesmo, com a diferença de que Valdívia retornava mais e funcionava, por vezes, como último homem de meio-campo (convertendo o sistema para o 4-4-2). Mas já havia ali a lógica de montar uma barreira defensiva de sete jogadores e confiar que os três homens de frente se encarregassem de criar.

As semelhanças se traduzem nos números produzidos pelo time, incrivelmente parecidos. Diante do Cruzeiro, foram 297 passes trocados, no Morumbi, 255. No Mineirão, o time tentou 57 lançamentos, enquanto buscou a bola longa 54 vezes no último final de semana.

A repetição esporádica do modelo indica que Argel não o vê como preferencial, e sim como solução pontual para jogos difíceis fora de casa.

4) Marcação solidária

A grande diferença da atuação do ano passado para essa está na execução. Tanto na estreia de Argel quanto no último domingo, o Inter deu a bola ao rival e especulou no contra-ataque. Mas o time que venceu no Morumbi marcou com eficiência e, principalmente, foi cirúrgico nas poucas chances que teve.

Talvez o grande mérito tático do trabalho de Argel seja, justamente, a organização defensiva de seu time. O posicionamento é correto e há evidente entrega de seus comandados na tarefa de tomar a bola do rival. Em São Paulo, quando a marcação falhou, Danilo Fernandes, em estreia brilhante, impediu o gol. Enquanto isso, os homens de frente, por mais que tenham sofrido de isolamento em vários momentos do jogo, tiveram competência para aproveitar as oportunidades.

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