Thomas Luciano, 14 anos, mal sabe lidar com a fama que invadiu sua rotina desde que marcou o gol "de escorpião", como ele mesmo denomina, em vitória de 6 a 0 da equipe sub-14 do Grêmio, na última quarta-feira, contra o Novo Hamburgo, pelo estadual Noligafi. Desde então, a linha do tempo de seu perfil no Facebook foi invadida por dezenas de mensagens de parabéns e, é claro, vieram os pedidos de entrevista. Ao contrário do que parece para quem olha o lance, o lateral-direito não é atrevido em frente às câmeras. Pelo contrário. De poucas palavras, parece ficar à vontade só quando está com a bola de futebol nos pés.

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O menino de 1m74cm tem o costume de treinar jogadas "brincalhonas" quando está com os vizinhos na quadra do condomínio onde mora, na Rua Orfanatrófio, em Porto Alegre. O lance do escorpião, garante ele, já havia sido bem sucedido sob os olhares dos amigos. No Grêmio, porém, adota postura mais séria. O treinador da categoria, Ariel Lanzini, diz que nunca viu jogada igual no CT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul, onde a equipe treina:

– Ele é um lateral bem ofensivo, mas não costuma fazer gols. Nesse jogo, ele tentou elástico, pedalou. O importante é a gente não podar, não inibir. Tem que deixar – apontou Ariel.

A carreira começou na escolinha do Grêmio, quando Thomas tinha sete anos. Aos 11, foi para a base. Não é de surpreender, aliás, que o dono do golaço tenha iniciado como atacante. Mas, por determinação de um de seus treinadores, acabou recuado para a zaga. Ficou por um tempo na posição, até achar seu lugar como lateral-direito.

O menino diz que gosta de ajudar tanto na defesa quanto no ataque. É fã de Ronaldinho Gaúcho e, na posição em que joga, se espelha em Daniel Alves. Seu sonho não é simples: se pudesse traçar o futuro, escolheria jogar a Champions League. Enquanto isso, sabe que tem de evoluir como atleta. E que o gol foi apenas um primeiro passo para o sucesso.

Perguntado se saberia repetir o lance, Thomas deixa a dúvida no ar (veja o vídeo acima). Apesar de treinar a jogada, e ter acertado em cheio o tempo da bola, admite que contou com um pouco de sorte. E conta que só conhecia Higuita, goleiro colombiano famoso pela defesa do escorpião, por foto. E que não se espelhou nele.

– Eu tinha de pensar rápido. Vi que não ia alcançar de cabeça. Então tentei com o pé – explica.

O pai, Luciano Mathias, não consegue esconder o orgulho. Trata de alertar, no entanto, que Thomas é um lateral com qualidades “além daquele gol”. A paixão pelo futebol veio de família. Segundo Luciano, ex-jogador e atualmente treinador de times amadores, o filho nunca teve escolha: era futebol ou futebol.

– Ele é bem moleque, gosta desses lances. Mas não abusa, não é para fazer graça do adversário. Quando ele chega do treino, lá do condomínio, os meninos mais novos já estão esperando ele, ansiosos, para jogarem na quadra – conta.

Enquanto essas brincadeiras de Thomas resultarem em gols como o do escorpião, melhor para os torcedores. O que vale, afinal, também é o espetáculo.

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