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WhatsApp bloqueado: falta de regras claras para negócios digitais pode afastar investidores

Especialistas avaliam possíveis impactos dos bloqueios do WhatsApp sobre o ambiente econômico no Brasil

03/05/2016 - 15h06min

Atualizada em: 03/05/2016 - 16h01min


Bruna Vargas
Bruna Vargas

Além de afetar a rotina de milhões de usuários, o segundo bloqueio do WhatsApp em seis meses no Brasil, derrubado na tarde desta terça-feira, serviu de exemplo para o que especialistas consideram um verdadeiro repelente de investidores: a falta de regras claras para os negócios digitais. E novos casos como esse podem tornar o país um ambiente ainda menos atrativo para quem quer investir nessa área.

– Nosso país está em ebulição, e as regras são confusas. A visão externa do Brasil, de modo geral, é que há regulações excêntricas. Ocorre na política, mas também se vê na economia. E quando a regra não é clara, o ambiente empresarial tende a se afastar – analisa o diretor do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM-Sul, Alessandro Souza.

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O especialista acredita que a suspensão do uso da ferramenta não deve acarretar grandes prejuízos ao aplicativo em si, uma vez que os usuários, segundo ele, perceberam que o problema não foi responsabilidade do serviço, mas de entraves jurídicos. Para Souza, poucos devem migrar de ferramenta após o fim do bloqueio. A pausa também pouco deve interferir nos cofres do Facebook, dono da marca, já que o WhatsApp é um serviço gratuito – ou seja, em termos de cifras diretas, o app é um prejuízo em si.

Apesar disso, representantes do aplicativo sinalizaram, nesta terça-feira, que pretendem se reunir com autoridades brasileiras. O objetivo seria explicar como o serviço funciona e porque o app não libera informações sobre conversas para investigações.

– Em um primeiro momento, acredito que a postura deles será a de querer entender a lógica da Justiça brasileira para proteger seus clientes. Se vão ceder ou não (a futuros pedidos de liberação de informações), é difícil dizer. Mas diante de um judiciário tão complexo e ambíguo como o nosso, conversar já é um bom sinal – opina.

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Se, pelo menos em um primeiro momento, a marca e sua credibilidade tendem a ser pouco abaladas pelas decisões judiciais brasileiras, por outro lado, uma economia mais modesta que se utiliza do aplicativo pode sair prejudicada dessas pouco mais de 24 horas sem o app.

– Existe um dano colateral, a pessoas, empresas e microempresários que utilizam essa ferramenta profissionalmente e tiveram de mudar sua forma de negociação por causa disso. Para essas pessoas, vai haver prejuízo – avalia o coordenador do curso de Comunicação Digital da Unisinos, Daniel Bittencourt.

O pesquisador também acredita que o clima de "insegurança jurídica" criado por decisões como essa pode afastar projetos de negócios digitais do Brasil no futuro. Ele defende que a única maneira de não prejudicar o ecossistema desse tipo de negócios é trabalhar na regulamentação do Marco Civil da internet.

– Uma eventual prática ilícita não pode afetar todo o contexto de uma aplicação. Se isso se tornar recorrente, toda a cadeia vai discutir se vale a pena sediar esse tipo de serviço no Brasil – diz.


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