Política



Operação Lava-Jato

Investigação sobre Lula vai incluir trechos de denúncia do MP paulista

Perícias da PF já concluíram que o ex-presidente ocultou ser o proprietário de triplex e sítio no interior paulista

29/06/2016 - 13h43min

Atualizada em: 29/06/2016 - 13h45min


Humberto Trezzi
Humberto Trezzi
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A Operação Lava-Jato, que investiga corrupção envolvendo empreiteiras e o setor público, deve aproveitar parte da investigação feita pelo Ministério Público Estadual de São Paulo a respeito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre o material que será utilizado estão depoimentos de cerca de 20 pessoas que apontam Lula como verdadeiro dono de um apartamento triplex na praia do Guarujá (SP).

– Não faz sentido ouvir toda essa gente de novo, se os depoimentos já foram oficializados. Se for preciso, aprofundaremos – resume um dos investigadores da Lava-Jato.

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O MP paulista denunciou Lula, em março, por lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e falsidade ideológica, por ter omitido, no entender de promotores de Justiça, ser o verdadeiro dono do triplex no Guarujá – reformado pela construtora OAS, segundo a investigação, a pedido do ex-presidente. A Justiça Estadual paulista optou por enviar a denúncia, de 7,5 mil páginas, à 13ª Vara Federal de Curitiba, para análise da Operação Lava-Jato.

Apesar de terem considerado "precipitado" o pedido de prisão de Lula feito por seus colegas paulistas (e negado pela Justiça), os investigadores da Lava-Jato não descartam os indícios coletados pelo MP estadual de São Paulo. Constam ali depoimentos de porteiros, zeladores e moradores, que apontam visitas do ex-presidente para supervisionar as obras no triplex. Foram também anexadas fotos dessas visitas, feitas por familiares de Lula em presença de Leo Pinheiro, diretor da OAS. Pinheiro, que negocia delação premiada com a OAS, será interrogado a respeito.

Com relação ao sítio em Atibaia (SP), a PF usará sua própria perícia. Laudo emitido em março por seis peritos federais inclui 92 imagens de objetos que Lula e sua mulher, Marisa, guardavam na chácara paulista – lugar que o ex-presidente nega que lhe pertença. Entre essas posses estão toalhas e guardanapos com as iniciais L e M, presentes dados por empresas e universidades (quando ele exercia o mandato de presidente da República) e dezenas de fotos. O laudo ressalta que não foi encontrado "nenhum" objeto no sítio pertencente a Jonas Suassuna Filho e Fernando Bittar, donos nominais da propriedade, conforme a defesa de Lula. Bittar é sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha (filho de Lula), numa empresa de jogos digitais.

A investigação a respeito das posses supostamente ocultadas por Lula (o que caracterizaria lavagem de dinheiro) não está pronta. É provável que o final só aconteça após o término dos depoimentos de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora Odebrecht, que está preso e negocia delação premiada. Essa empreiteira teria ajudado a reformar o sítio usado por Lula em Atibaia. Os investigadores esperam contar também com o testemunho de Leo Pinheiro, da OAS (ele teria intermediado obras no sítio e no triplex).

Numa outra frente de investigação, a PF investiga R$ 3,6 milhões pagos pela construtora Andrade Gutierrez por palestras do ex-presidente. O dinheiro foi repassado à LILS, empresa criada por Lula para esse fim. A conta usada para depósitos é a mesma utilizada pela empreiteira para pagar propina a políticos, afirmam peritos federais. Esse caso pode ter inquérito separado em relação ao do sítio e do triplex.


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