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Diogo Olivier: o homem que impediu uma força do Interior de fechar

Como o presidente Maurício Grezzana trouxe o Caxias de volta à Série A

23/07/2016 - 07h00min

Atualizada em: 23/07/2016 - 07h01min


Diogo Olivier
Diogo Olivier
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Há sete meses, para o cenário alcançar ao nível da terra arrasada, era preciso melhorar. O Caxias, uma grife do futebol gaúcho, Série A do Brasileirão nos anos 1970 e último campeão estadual do Interior, amargava um coquetel amargo composto de dois descensos e dívidas impagáveis. Pela primeira vez em sua história, estava na Divisão de Acesso. No plano nacional desabara para a Série D. Ninguém lembrava mais a última vitória numa partida. E, claro, ninguém queria assumir aquela massa falida.

Numa reunião de conselheiros, falou-se a sério em fechar as portas e viver das memórias do passado. Então, um jovem arquiteto, urbanista, empresário de sucesso (ele é dono da Atena Incorporações, uma das 100 maiores construtoras do país), guitarrista, ex-atacante das escolinhas com alguma habilidade e fundador da torcida organizada Gangue Grená decretou: extinção, não. Chamou amigos e colocou mãos à obra.

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Só não dá para chamar de milagre o que fez Mauricio Grezzana, 41 anos, porque nada cai do céu.

Com ideias novas e métodos de gestão profissionais, ancorados por um forte trabalho em equipe, ele virou o Centenário do avesso. O resultado: o Caxias está de volta à elite do Gauchão e a seis jogos da Série C, na condição de único gaúcho classificado entre os 32 times que seguem lutando pelas quatro vagas, agora na fase de mata-mata. Para quem ia morrer, o Caxias está mais vivo do que nunca.

Você esperava resultados tão rápidos?
Fui convidado para a reunião que cogitou o fechamento na condição de patrocinador, apenas. Não estava no dia-a-dia do clube, mas não podia aceitar algo tão extremo. Montei uma equipe e assumi a tarefa. A dívida chegou a R$ 34 milhões, algo monstruoso para um clube do Interior. Foi uma sequência de muitos erros, no passado. O foco inicial era tão somente manter atividades. Imaginávamos colher resultados em quatro anos.

Na prática, o que foi feito?
Um plano de gestão profissional, que trouxe das minhas empresas. Cortamos gastos. De 86 contratações em 2015, passamos para 30 este ano. A folha salarial baixou de R$ 400 mil para R$ 110 mil. Reduzimos o pessoal na área administrativa de 50 para 15 funcionários. Reduzimos o déficit mensal, mas ele ainda existe: é de R$ 250 mil. Entramos no Profut e alongamos dívidas a perder de vista, ganhando fôlego para pagá-las. Criamos oito diretorias abaixo da presidência, todas elas com grupos específicos de trabalho e plano de metas. Temos um conselho de administração com sete pessoas, além de um conselho fiscal atuante.

Ainda tem aquela história de conselheiros e diretores ajudarem do próprio bolso?
Tem sim, o que ajuda muito ainda e merece todo nosso agradecimento. Mas o objetivo é a sustentabilidade.

E o segredo para o resultado de campo?
Ao reduzir o número de reforços, a margem de erro nas contratações tinha de ser mínima. E foi.

Além de cortar gastos, foi possível gerar receitas novas?
Você não vai acreditar, mas assumi com 700 sócios. Hoje temos 2,2 mil. E já adianto que temos de alcançar, no mínimo, 5 mil. É a nossa obsessão.

Cinco mil não é pouco para uma cidade pujante como Caxias do Sul?
Pesquisas indicavam, em 2011, que Grêmio e Inter tinham 15 mil e 13 mil sócios na cidade, respectivamente. Agora deve ter subido, talvez. Mas não adianta chorar e reclamar da grenalização. É um fato. Temos é que ter resultado para seduzir o torcedor grená do futuro. As pessoas se vinculam a um clube pensando em benefícios, e não prejuízos. Só o discurso da vitimização não adianta. Fomos campeões no Acesso. É um título. Um benefício.

O quanto subir para a Série C ajudará?
Aceleraria o processo. Encurtaria caminhos.

Há dinheiro para contratar?
Trouxemos agora o Tinga (meia, 23, do Pelotas), o Lucio (goleiro, 26, do União Frederiquense) e o Leo Mineiro (atacante, 33), vice-artilheiro da Divisão de Acesso, pelo União.

Você pensava em rentabilizar o Estádio Centenário. Conseguiu?
Em sete meses não dá para fazer tudo, né (risos). Trabalhamos melhor publicidade estática, venda de espaços e comercialização de 60 camarotes. Sejamos claros: um estádio para 31 mil pessoas é grande demais para o Caxias. Nunca lota. O custo para mantê-lo é altíssimo. O plano é criar espaços para shows, convenções, outras atividades. Nisso, temos de avançar.

Será candidato a reeleição?
Tenho mais um ano de mandato, mas não pretendo seguir. Tenho minhas empresas para administrar. Toco na banda Big Stuff todas as semanas, guitarra e backing vocal. Estudei violão clássico e só depois optei pela arquitetura. Não abro mão da música. Não sou dirigente profissional. Não dá para seguir neste ritmo por muito tempo. Mas somos uma equipe: uma outra pessoa tocará o projeto. Eu continuarei como patrocinador, ao lado do clube.


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