Porto Alegre



Porto Alegre

Filtro pode não tirar cheiro e gosto ruins da água

Problema persiste há mais de dois meses na Capital, ainda sem respostas

29/07/2016 - 17h20min

Atualizada em: 01/08/2016 - 12h37min


Bruna Vargas
Bruna Vargas
Na agência digital de Juliano Schüler (D), no bairro Floresta, filtro de carvão ativado ajudou a melhorar o gosto da água

Se a origem das alterações no sabor e no cheiro da água em Porto Alegre, que persiste há mais de dois meses, ainda é incógnita, suas consequências imediatas para o consumidor são evidentes: quem percebeu as mudanças evita consumir diretamente o líquido que sai da torneira. Para poupar gastos com água de outras fontes, como a mineral, uma opção para o uso doméstico são os filtros de água. A má notícia, segundo especialistas, é que pode ser que nem eles amenizem o aroma de roupa velha e úmida que se tornou característico do líquido em alguns bairros da Capital.

– Os filtros são uma barreira física baseada no tamanho das partículas. Dependendo da concentração do contaminante, podem não dar conta – explica Fernando Spilki, da Feevale.

Leia também:
Fepam divulga resultados da segunda semana de monitoramento do Guaíba
Consumidores desconfiam que água de Porto Alegre esteja causando coceira e ardência nos olhos
Mudança de ponto de captação de água em Porto Alegre não deve ocorrer antes de 2020

Conforme o pesquisador, que trabalha com análise microbiológica da água, modelos mais rudimentares, como o filtro de barro (cuja vela costuma ser de cerâmica), dificilmente serão úteis em casos como o da Capital, onde a água pode estar sendo afetada por concentrações muito pequenas de compostos ainda não identificados. Isso porque as moléculas ficam retidas nos poros dos filtros. E a porosidade da cerâmica, por exemplo, não é capaz de barrar partículas tão pequenas. O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) acredita que o problema pode ser causado por uma substância em concentração de nanogramas.

Já um dos filtros mais utilizados em purificadores de água, o carvão ativado – que foi incluído no pré-tratamento de água em Porto Alegre desde o começo do problema – pode ajudar bastante. Capaz de reter uma gama maior de micro-organismos e toxicinas, ele costuma funcionar bem para amenizar alterações de sabor e odor. Seu principal porém é a vida útil: dura entre seis e 12 meses. Dependendo do tipo de contaminante, no entanto, pode vencer em menos tempo, ou simplesmente não ser suficiente, como se verificou na água tratada pelo Dmae.

– O carvão ativado é o material absorvente mais utilizado em função da quantidade de materiais que ele consegue absorver, que abrange substâncias orgânicas e inorgânicas. Mas não vai durar para sempre – diz Amanda Kieling, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Unisinos.

Leia também:
"É possível que volte à normalidade e não tenhamos identificado a origem", diz diretor do Dmae
Infográfico: veja os pontos investigados pela Fepam sobre alterações na água
"Não é ideal ter a captação do Dmae em um ponto tão poluído", afirma secretária sobre alterações na água

A professora explica que há outras opções, como filtros de ozônio e de osmose reversa, que costumam trabalhar com um princípio de quebra de partículas. E apesar de, em tese, poderem fazer um tratamento mais eficiente da água, podem não ser uma boa escolha para se ter em casa. No caso dos ozonizadores, mais usados na indústria, o maior problema é que as versões menores podem não ter a quantidade de ozônio suficiente para um bom desempenho. Já os filtros de osmose reversa, tecnologia que, além de "quebrar" partículas contaminantes, permite ou repõe a passagem de minerais, não estão ao alcance de qualquer um: o purificador com esse sistema pode custar até 20 vezes mais do que um modelo com carvão ativado.

Mas diante a falta de informação sobre as substâncias que estão provocando as mudanças na água, nenhum deles é garantia de um líquido sem odor e sabor, segundo especialistas. Isso porque, sem saber o que causa o problema, é mais difícil avaliar a tecnologia mais adequada para lidar com a situação. Quem, na dúvida, prefere economizar pode adotar uma boa e velha alternativa caseira. Ferver a água por 10 minutos antes do consumo é útil para eliminar alguns contaminantes microbiológicos.

– Ferver a água ajuda, mas pode ser ser que não tire nem o cheiro nem o gosto. Nesse caso, talvez seja bom buscar outra fonte – diz o pesquisador Fernando Spilki.

Café com sabor alterado motivou aquisição

Hábitos corriqueiros viraram incômodo na agência digital dirigida por Juliano Schüler, no bairro Floresta, desde que percebeu as alterações no cheiro e no sabor da água, que persistem em vários bairros há mais de dois meses. Tomar café, chá ou chimarrão, normalmente preparados com o líquido da torneira, tornaram-se experiências frustrantes para o pequeno grupo de funcionários da empresa.

– O café foi o principal, porque a maioria toma muito durante o dia, e o gosto ruim da água estava deixando ele esquisito – lembra.

A saída para o desagradável problema veio de um site de compras: com os sócios, Schüler investiu em um purificador de água com filtro de carvão ativado, que chegou em alguns dias. Sem garantias de que a alternativa funcionaria, comemoram um resultado melhor do que a encomenda. Não só a água voltou a ser insípida e inodora, como foi considerada suficientemente boa para, inclusive, abolir os galões de água mineral que compravam para consumir diretamente.

– Para escovar os dentes na água da torneira dá para sentir que ainda está com gosto e cheiro – conta.

Já a jornalista Suzana Pohia não levou a mesma sorte. O filtro de barro adquirido no ano passado pela moradora do bairro Bom Fim não foi suficiente para amenizar o sabor e o odor alterados na água.

– Ando consumindo bem menos água do que costumo, porque sinto muito a alteração. Não consigo tomar nem meio copo, então vou alternando entre comprar e ir "testando" a água do filtro. Mas se antes tomava dois litros ou mais por dia, hoje tomo menos de um – diz.

O Dmae segue reiterando que, embora a sensação seja desagradável, a água tratada pelo órgão atende aos critérios do Ministério da Saúde e não faz mal a quem a consome. Nas próximas semanas, o departamento deve encomendar novos testes para tentar descobrir que tipo de substância pode estar causando alterações na água do Guaíba. Os primeiros exames, que investigaram a presença de mais de 130 poluentes, não foram suficientes para esclarecer a origem do problema.

Qual o investimento?*

Filtro de barro: a partir de R$ 65
Purificador com filtro de carvão ativado: a partir de R$ 150
Purificador com filtro de ozônio: a partir de R$ 800
Purificador com filtro de osmose reversa: a partir de 1,5 mil

*Valores pesquisados em lojas virtuais


MAIS SOBRE

Últimas Notícias