Polícia



Vítima da violência

Personal trainer morto em Porto Alegre havia se tornado pai neste mês

Marcel Thomé, 33 anos, também comemorava a recente conquista da faixa marrom no jiu-jitsu, seu esporte do coração

27/07/2016 - 13h43min

Atualizada em: 27/07/2016 - 16h10min


Débora Ely
Débora Ely
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Marcel Thomé, 33 anos, havia se tornado pai no início deste mês

Julho foi um mês especial para Marcel Thomé. No dia 2, nasceu o primeiro filho, Joaquim, fruto de um relacionamento de oito anos. Duas semanas depois, graduou-se faixa marrom no jiu-jitsu, o último estágio antes de alcançar o sonhado cinturão de cor preta. Também havia começado a treinar a equipe de judô da Sogipa.

Aos amigos, comentava que a vida ia bem.

Na tarde da última terça-feira, um tiro abreviou a boa fase do personal trainer de 33 anos.

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Thomé estava dentro do carro, um Fiat Palio branco, na Rua Doutor Gregorio Behregaray Filho, em Porto Alegre, quando teria percebido a aproximação de três criminosos pelo espelho retrovisor. Ele acelerou o automóvel em uma tentativa de fuga, mas um dos bandidos disparou um tiro certeiro que lhe atingiu a nuca.

O veículo atravessou a rua e colidiu contra um muro. O homem chegou a ser encaminhado para o Hospital Cristo Redentor, mas não resistiu ao ferimento.

O crime aconteceu a 500 metros da academia Sul Jiu-Jitsu, no bairro Passo das Pedras, onde Marcel treinava e trabalhava como instrutor do esporte e personal trainer. Thomé havia saído da Faculdade Sogipa, onde cursava o 8º semestre de Educação Física, e se deslocava para a academia, mas teria desviado a rota para receber o pagamento da mãe de um aluno.

Proprietário da Sul Jiu-Jitsu, o professor da arte marcial Diandro Maciel, 36 anos, chegou ao local do crime minutos depois do disparo ao ser avisado sobre um tiroteio na região por uma aluna. No local, deparou com o colega ferido.

– Era um cara apaixonado pela vida, um amigo muito fiel. É uma perda irreparável – lamenta.

O professor conhecia Thomé há mais de oito anos, desde que ele começou a dar os primeiros golpes de jiu-jitsu. Havia recebido uma mensagem pelo WhatsApp do amigo às 15h08min, instantes antes que fosse morto.

Natural de Estrela, Thomé mudou-se para Porto Alegre há cerca de cinco anos em função dos estudos. Formaria-se educador físico no fim do ano.

Com a mulher, Natália Vidal, celebrava a chegada do primeiro filho há apenas 24 dias. O casal havia escolhido o também professor de jiu-jitsu Miguel Anka, 34 anos, amigo de infância de Thomé, como padrinho do recém-nascido.

O casal viajaria para o município do Vale do Taquari no próximo domingo para que o dindo conhecesse o afilhado. Miguel acabou encontrando o pequeno Joaquim na manhã desta quarta-feira, no velório do pai.

– A vida dele estava no auge. Era uma pessoa bastante humilde, amigo de rico e de pobre, se dava bem com todo mundo – disse.

O velório ocorre na Câmara Mortuária do município, e o enterro está marcado para as 16h.

– Estrela está em choque. A gente sabe que a violência está ao lado, mas, quando acontece próxima... A gente sofre mais – contou o secretário de Esportes de Estrela, Julio Pereira, amigo da família do rapaz.

A Polícia Civil investiga a morte de Thomé. Nesta quarta-feira, agentes buscam testemunhas na região onde aconteceu o crime. Titular da 18ª Delegacia de Polícia (DP), Anita Klein não descarta nenhuma hipótese até o momento:

– Pode ser que se trata de um homicídio, mas ainda não temos elementos que indiquem a motivação, ou de um latrocínio motivado por um roubo frustrado em razão de a vítima ter percebido a ação e arrancado o carro.

A mulher que iria fazer o pagamento para Thomé presenciou o crime e já prestou depoimento à polícia. Ela disse ter visto um dos bandidos com a arma na mão e que, em seguida, fugiram em um Gol. De acordo com a delegada, somente um tiro foi disparado, e os criminosos nada roubaram da vítima.

A Faculdade Sogipa divulgou uma nota lamentando a morte do aluno. "De Marcel, vai restar a lembrança de um ser humano alegre, forte e responsável", diz o texto. Colegas de jiu-jitsu do rapaz planejam organizar uma manifestação para pedir mais segurança no próximo fim de semana.

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