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Astronomia

Pesquisadores da UFRGS descobrem que halo da Via Láctea também pode gerar estrelas

Estudo derruba crença de que a região mais afastada da galáxia seria estéril

27/07/2016 - 04h02min

Atualizada em: 27/07/2016 - 04h03min


Bruna Scirea
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Três astrônomos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) podem colocar em seus currículos mais um grande feito: no início deste ano, com ajuda de um telescópio da Nasa, agência espacial americana, eles encontraram sete aglomerados estelares no halo galáctico. Trata-se de uma importante descoberta, aceita e publicada recentemente pelo periódico Astronomy & Astrophysics (A&A) – mas você deve estar se perguntando: "sete aglomerados estel... quê?".

Vamos lá: as estrelas não nascem sozinhas, elas vivem em conjuntos, que são os chamados aglomerados estelares. Esses aglomerados se formam a partir de densas nuvens de gás e poeira, geralmente observadas no disco da galáxia, onde está situado o sistema solar. Acreditava-se, até então, que o halo, parte mais periférica da Via Láctea, seria estéril, sem capacidade de gerar estrelas.

A descoberta dos sete objetos nessa região significa, portanto, a quebra de um paradigma há anos perpetuado pela ciência.

– No ano passado, já havíamos descoberto dois aglomerados a 16 mil anos-luz do disco, no halo. Como eram só dois, uma questão ficou em aberto: seria um evento episódico ou o halo estaria mesmo formando aglomerados estelares? Com esta pesquisa, mostramos que ele está em atividade. E a gente pode pensar que o halo, por estar formando estrelas, tem um papel mais importante na evolução da galáxia do que se pensava – afirma Denilso Camargo, coordenador da pesquisa no grupo de Astrofísica da UFRGS.

Foco na origem das nuvens de poeira

Abrem-se, assim, novos caminhos de estudo, cheios de outras questões a serem desvendadas. A mais importante frente da pesquisa agora é entender de onde vêm as nuvens de poeira que estão formando estrelas no halo, tão longe do disco galáctico. Pode ser que seja do próprio disco: estrelas muito massivas emitem ventos bastante fortes. Algumas delas podem até explodir, como as supernovas, jogando poeira para bem longe. Mas será que tão distante a ponto de chegar ao halo?

– Trabalhamos ainda com outras duas possibilidades: de que a poeira venha de detritos de galáxias anãs, que foram destruídas pela nossa. Ou que venha do meio intergaláctico. Só que infelizmente não podemos ainda dizer com certeza qual é a origem deste material, somente sugerir possibilidades – diz o pesquisador.

Talvez a resposta não demore muito a aparecer. O trio de astrônomos, do qual fazem parte também Eduardo Bica e Charles Bonatto, aguardam resultados do projeto Gaia, da Agência Espacial Europeia, que faz um censo das bilhares de estrelas existentes na Via Láctea, determinando com precisão magnitude, posição, distância e deslocamento de cada objeto analisado.

– A partir da velocidade destas estrelas encontradas, o que chamamos de movimento próprio, poderemos traçar as trajetórias delas. Estes dados nos permitirão retroceder, para saber de onde elas vêm e para onde vão – explica Camargo.Os três caçadores de estrelas já descobriram desde o início das pesquisas 1.101 aglomerados. E seguem contando, colecionando descobertas.

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