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Meio ambiente

Entenda por que a diminuição dos banhados causa mais enchentes 

Na origem do problema, está a expansão da zona urbana nas cidades

19/08/2016 - 17h08min

Atualizada em: 08/09/2016 - 16h33min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Fonte: MapBox/OSM

Alexandre luta para preservar as raras regiões ainda existentes

Dos 10 mil hectares de banhados que faziam parte da Bacia do Rio dos Sinos em 1985, restam apenas 20% da área necessária para a manutenção do ecossistema e dos recursos hídricos da região. E isso não é nada bom para a população, já que os banhados têm um papel fundamental para evitar enchentes como as que atingiram vários municípios da Região Metropolitana no ano passado.

Os dados fazem parte do projeto VerdeSinos, que elaborou um mapa das perdas da região, e foram organizados a partir de estudos dos pesquisadores Rafael Gomes de Moura e Débora Cristina da Silva. Segundo o biólogo Uwe Horst Schulz, professor do programa de pós-graduação em Biologia da Unisinos e que orientou Rafael na pesquisa, além de terem a função de amenizar cheias e estiagens, os banhados também filtram as águas dos rios e arroios e ajudam na manutenção dos aquíferos (reservatórios de águas subterrâneas).

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Uwe ressalta que a diminuição da área está diretamente ligada à expansão da zona urbana nas cidades. A maioria delas cresce em direção ao rio, passando sobre os banhados e influenciando diretamente nas enchentes da região:

– O banhado funciona como uma esponja. Quando o rio sobe, o banhado retém a água. Se ele não existe, a consequência direta é a enchente e o seu avanço sobre a área urbanizada.

Avanço

E é exatamente isso que os moradores da região vêm constatando nos últimos 30 anos. Ruas e bairros inteiros que não alagavam ou que enfrentavam cheias esporadicamente estão sendo engolidos pelas águas a cada enxurrada. Nem a BR-116 conseguiu escapar das enchentes mais recentes, alagando trechos entre Esteio e São Leopoldo. Cansado de ver a água chegar cada vez mais perto do imóvel onde mora no Centro de Esteio, o corretor de imóveis Alexandre Camboa, 43 anos, decidiu participar das reuniões do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), grupo que envolve moradores, pesquisadores e empresários da região.

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Foi nas reuniões que ele descobriu a importância de preservar as raras áreas ainda desabitadas da cidade, como nos fundos do Bairro Novo Esteio em direção à Rodovia do Parque, a BR-448 – a 4km da barranca do rio.

– Com as enchentes cada vez mais frequentes, formamos um grupo que ajuda os alagados. Porém, vimos que só isso não era suficiente. Começamos a reunir fotos das cheias e a perceber que elas estão avançando para dentro da cidade. Algo precisa ser feito – conta.

Ministério Público faz recomendação

O estudo acabou nas mãos do Ministério Público. O promotor Ricardo Schinestsck Rodrigues, da Promotoria Regional da Bacia do Rio dos Sinos, recomendou às prefeituras da parte baixa da Bacia do Sinos (Esteio, Canoas, Sapucaia e São Leopoldo) que evitem autorizar empreendimentos próximos às áreas mais críticas, enquanto não for concluído o estudo da Metroplan sobre as condições e as causas das cheias na região, que pretende propor ações para aliviar o sofrimento das populações atingidas.

– O mapeamento das áreas é uma ferramenta importantíssima para os gestores, na hora de licenciar ou fiscalizar empreendimentos que possam estar avançando ou pretender avançar sobre áreas. Temos a ferramenta para evitar que o problema das enchentes se agrave, mas falta a ferramenta para definir o que fazer para proteger a população nas situações já consolidadas – destaca o presidente do Comitesinos, Adolfo Klein, sobre a parceria entre os dois órgãos.



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