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Fraude no TRI

Uso irregular do TRI em Porto Alegre pesa no preço da passagem

O uso do cartão é oferecido a passageiros na fila dos ônibus. Para a Polícia Civil, tanto quem empresta quanto quem compra está praticando estelionato

21/09/2016 - 08h06min

Atualizada em: 21/09/2016 - 08h07min


Leandro Rodrigues
Leandro Rodrigues
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Uma fraude no uso do cartão TRI é praticada diariamente em um dos terminais mais movimentados do Centro da Capital: o Terminal Parobé, ao lado do Mercado Público. O esquema passa despercebido pelas centenas de pessoas que circulam no local porque, aparentemente, não prejudica ninguém. Mas, bem ao contrário, todos os passageiros acabam prejudicados a longo prazo.

O resultado da fraude é mais gente usando ônibus com menos passageiros pagando. E isso, mais cedo ou mais tarde, vai para o cálculo do preço da passagem em Porto Alegre. O Diário Gaúcho comprovou e gravou a fraude: ambulantes oferecem para quem está entrando nos ônibus o uso de um cartão TRI por R$ 2,50 ou R$ 2,75, enquanto a passagem inteira custa R$ 3,75. Na grande maioria, são cartões deixados ali para o "negócio" pelo titular em troca de R$ 1 por passagem.

Com o cartão de outro, o passageiro passa a roleta e devolve para o ambulante pela janela. Tudo é muito rápido e tanto o cobrador quando outros passageiros mal percebem.

_ Nós identificamos essa fraude. Estamos analisando um equipamento de identificação visual com foto na roleta. Para impedir outra pessoa que não o dono do cartão de usar, principalmente nas gratuidades _ afirma o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.

Somente os cartões de vale-transporte e passagem antecipada não têm a foto do usuário. Os demais, escolar, isenção e acompanhante de isenção, possuem a foto.

Centenas de pessoas que circulam no local não percebem porque, aparentemente, não prejudica ninguém

Espancada

Conferir a foto do passageiro, na prática, esbarra na violência. Isso faz os cobradores se limitarem a deixar todo mundo passar.

_ Tivemos uma cobradora que tentou barrar passageiros na Cohab. Acabou espancada por cinco mulheres indignadas. O profissional não tem como ser esse agente fiscalizador. E as empresas são compreensivas com isso _ diz o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Sandro Abade.

Segundo a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), cartões de isentos são mais usados no esquema. O vale-transporte também acaba na fraude, mas nesse caso, como o trabalhador tem desconto no salário, o lucro é menor. O certo é que a conta da passagem não fecha.

_ A tarifa é, basicamente, o custo do total do transporte dividido pelos passageiros que pagam. Quando menos gente paga, o custo não muda. Mas acontece que os demais passageiros acabam pagando mais _ diz o diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), Gustavo Simionovschi.

Todos cometem crime

Para a Polícia Civil, os envolvidos no esquema cometem crime e, no caso de uma investigação, podem se complicar. Na prática, como ninguém faz queixa, dificilmente a polícia acaba envolvida, a não ser em ações pontuais da BM.

_ Quem deixa o cartão, quem aluga na fila e quem paga para passar na roleta se enquadra em estelionato. Estão obtendo para si vantagem com o prejuízo alheio _ afirma o titular da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, delegado Cléber Ferreira.

No caso, a vítima direta é a empresa de ônibus. Mas, diz o delegado, indiretamente também são os usuários que pagam a conta.

Quem participa do esquema não ganha por muito tempo. O uso do cartão é rastreável pelo sistema. Mais cedo ou mais tarde, se identifica o uso irregular. Quem tem isenção pode perder o benefício. No caso do vale-transporte, a empresa pagadora pode ser comunicada do uso indevido.



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