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Carlos Etchichury: "Somos tolerantes com a incompetência"

Colunista do Diário Gaúcho fala sobre a crise no sistema prisional

21/10/2016 - 20h02min

Atualizada em: 21/10/2016 - 21h00min


Carlos Etchichury
Carlos Etchichury
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Na área da segurança, os gaúchos são tolerantes com a incompetência e têm ouvidos moucos para desculpas esfarrapadas de sucessivos governos.

Este comportamento resiliente com o caos no sistema prisional cobra um preço alto, que está sendo pago nas ruas, por toda a população, todos os dias.

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Veja o episódio da demora na inauguração da Penitenciária de Canoas, que terá capacidade para 2,8 mil presos. O secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, diz que ainda faltam 14 itens (R$ 10 milhões) para que a prisão, em obras desde 2010, opere a pleno. Entre os problemas, os mais graves são básicos e não têm data para serem sanados: contratação de agentes penitenciários e a construção de subestação de tratamento de água e esgoto para atender aos três novos prédios, processo que está em fase de licitação.

A penitenciária está em construção há seis anos. Seis anos! Em igual período, ergueu-se o Burj Khalifa, em Dubai, maior prédio do mundo, com 820m de altura e 163 andares, inaugurado em 2010.

Enquanto isso, 5,3 mil presos cumprem pena domiciliar por falta de vagas nas cadeias, praticamente sem monitoramento das autoridades. Os que estão encarcerados, experimentam situações desumanas, como os quase 5 mil detentos mantidos no Presídio Central (estabelecimento com capacidade para 1,8 mil pessoas).

A solução encontrada pelas polícias, que continuam a prender, foi transformar delegacias em celas – prática erradicada na década de 80 nas DPs do Rio Grande. Há mais de cem criminosos mantidos em carceragens improvisadas, expondo ao risco agentes de segurança, a população e os próprios presos.

E já que nada é tão ruim que não possa piorar, diante da falência do Estado, criou-se uma nova modalidade de prisão na mais meridional das unidades da federação: a cadeia itinerante. Sem ter onde colocar suspeitos, PMs os mantiveram até 36 horas em um camburão. A gambiarra, além de colocar policiais em risco e desrespeitar padrões mínimos de civilidade, retira viaturas das ruas.

Sociedades democráticas não tolerariam tamanha incompetência – e não me refiro ao atual secretário, que chegou ontem ao cargo, mas aos três últimos governos, que foram incapazes de resolver o problema.



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