Encare a crise
Programe-se para limpar o nome no SCPC e no Serasa com o 13º e outras rendas extras de final de ano
Veja dicas para acabar com as dívidas ou renegociá-las
Quando Tiago Ferreira se deu conta da bola de neve criada pelos meses de atraso no pagamento do cartão de crédito, era tarde demais. Mergulhou no rotativo (quando não se quita a fatura total do cartão, caindo em juros de até 15% ao mês) em agosto, e seu nome foi parar no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
– Preferi usar o dinheiro para fazer algumas reformas em casa e, confesso, pagar o barzinho com os amigos, e acabei me perdendo no cartão – diz o balconista de 37 anos.
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Agora, com o pagamento da primeira parcela do 13º, pretende eliminar ao menos parte da dívida de R$ 1,6 mil: na quarta-feira passada, negociou com o banco descontos e prazos.
– Ficar com o nome sujo é complicado. Vou guardar a lição – lamenta.
A inadimplência se tornou uma realidade no país em meio à crise. Os calotes de consumidores subiram 4,8% em outubro em relação ao mês anterior, de acordo com dados nacionais da Boa Vista SCPC. Isso significa mais gente em cadastros negativos de crédito – e sem condições de tomar mais dinheiro emprestado ou abrir crediário, além da angústia da dívida.
Com a chegada da primeira parcela do 13º ou renda extra com restituição do Imposto de Renda ou bônus de final de ano, inadimplentes ganham novo fôlego para colocar as dívidas em dia, e, quem sabe, limpar o nome.
– O 13º é um bom reforço, mas não o único: o endividado também pode vender um bem ou pedir dinheiro emprestado – aponta o consultor financeiro Everton Lopes.
Tomar dinheiro emprestado de bancos e financeiras, seja para quitar os débitos, seja para pagar outras despesas, é praticamente inviável nessas condições. Isso porque o nome em cadastros negativos barra a tentativa de tomar novos empréstimos. Restaria a opção do cartão de crédito, do cheque especial ou das financeiras que emprestam a negativados – nenhuma recomendada por consultores financeiros.
– Os juros nesses casos são altíssimos e pioram a situação de quem já está endividado – sublinha Lopes.
Conforme Paulo Borba, gestor-comercial da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), as empresas estão receptivas a renegociar condições de pagamento. Em 2015, em uma iniciativa da entidade, 180 mil devedores foram procurados para esticar prazos, reduzir juros ou acertar a retirada do nome do SCPC após pagamento da primeira parcela da dívida. Neste ano, o número chegou a 560 mil. O índice de acordos chega a 25%.
– As empresas querem reconquistar esse consumidor, e certamente levarão em conta uma proposta se for boa para todos – afirma Borba.