Entretenimento



Fé e música

"Depressão existe, sim", diz padre Marcelo, recuperado da doença 

Religioso, que lança DVD após três anos de hiato, afirma que superou o mal com muita oração, exercícios físicos e com a música.

04/11/2017 - 12h00min

Atualizada em: 04/11/2017 - 12h00min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
Enviar E-mail


Aos 50 anos, completados em 2017, padre Marcelo Rossi mostrou que nem todo o sucesso, os milhões de livros e discos vendidos, a admiração de multidões o livraram de um mal dos mais terrenos, e modernos: a depressão. Porém, com a força de quem passa mensagem positiva para milhões de fiéis, com muita oração e exercício físico, o religioso garante ter superado os piores momentos, voltado ao seu peso normal e retomou o que faz de melhor: se apresentar para centenas de pessoas, levando boas mensagens e vibrações.

E é isso que ele faz no seu mais recente lançamento, o DVD Imaculada, gravado no Santuário Mãe de Deus. Em entrevista exclusiva, ele relembra momentos complicados e revela como os superou. 

Marcelo Hermes / Divulgação

Uma celebração especial 

Marcos Hermes / Divulgação
O Padre, durante a gravação, em São Paulo

O álbum Imaculada (R$ 25, preço médio, o CD e R$ 30, o DVD), foi gravado em agosto deste ano, no Santuário Mãe de Deus, em São Paulo, em celebração aos 300 anos da aparição da Imagem de Aparecida - ela foi encontrada por pescadores em 1717 e acompanha o Brasil desde que o país era colônia de Portugal. 

O DVD reúne algumas canções inéditas de padre Marcelo, 50 anos, como Acaso Não Sabeis e Chuva de Graça e alguns sucessos dos 20 anos de carreira do religioso, como Anjos de Deus e Erguei as Mãos e quebra um jejum de três anos sem lançamentos musicais - o último havia sido o CD O Tempo de Deus, em 2014.

No período, lançou o livro Philia, em 2015, (Editora Globo, R$ 20), que relata a cura de sua depressão, com exemplos práticos e orações, ressaltando a importância do amor para superar males contemporâneos. Já o mais recente livro, Ruah (2016, Editora Globo, R$ 30), no qual ele se propõe a quebrar os paradigmas de que gordura é saúde e magreza é doença, por meio de exemplos de alimentação saudável.

Susto e realidade

Reprodução / Reprodução

O novo disco do paulista tem 18 faixas na versão em DVD e 14 no CD, e conta, ainda, com making of e missa comandada pelo sacerdote. Com produção de Guto Graça Melo, culturado nome do meio musical, o álbum fez com que o santuário se transformasse em um palco cheio de imagens católicas e teve uma banda que acompanhou o padre, deixando o show com ares modernos. Por ironia do destino, toda a estrutura usada para o espetáculo fez com que o padre acabasse caindo no palco, enquanto cantava Sonhos de Deus, faixa de 2014.  

— Quando eu vi, não acreditei na estrutura. Tinham espelhos e contra a luz, não dava para enxergar. Eu tenho o pé tamanho 47 e tinha um trilho do tamanho exato do meu pé. Então, no início, eu estava com medo. Aí, eu pisei em falso, cai e me liberei. O que está no DVD, incluindo a queda, mostra o que eu sou — afirma Marcelo.

De padre para padre

Divulgação / Divulgação
Padre Fábio de Melo: síndrome do pânico e conselhos do amigo

Mesmo com a espiritualidade elevada, padre Marcelo não é o único sacerdote famoso a sofrer com males tão terrenos. Companheiro de batina, e tão famoso quanto, principalmente por conta de suas postagens bem-humoradas e por ser considerado "padre-galã", Fábio de Melo confessou, em agosto, ao Fantástico, que foi acometido de síndrome do pânico. No Instagram, o religioso admitiu que ficou uma semana trancado em casa, com sensação de morte e tristeza profunda: 

— Pensei: "Não tenho mais coragem de enfrentar as pessoas"— declarou Fábio, na época.

Fábio de Melo chegou a se esconder embaixo da cama por causa do medo, mas agora está medicado e cumprindo seus compromissos. Próximo de Fábio, Marcelo mostra preocupação com o amigo e conta que aconselhou o amigo a se afastar da mídia. 

— Ele também me ajudou, me aconselhou a entrar nas redes sociais, onde eu posso ter um diálogo melhor com os jovens, que é um público que eu quero atingir. Essa geração está muito sem propósito, não sabe o que está fazendo na Terra. São coisas básicas que o ser humano está perdendo — afirma Marcelo. 

Voltando algumas casas

Reprodução / Internet
O religioso, antes e depois da depressão

Para entender os problemas que o padre cita nesta entrevista, é preciso voltar alguns anos no tempo, quatro, mais precisamente. Em 2013, o religioso sofreu de depressão e anorexia, uma série de problemas decorrentes da fama, segundo ele.

— Passei minha pior fase (em 2013). De 80 e poucos quilos, cheguei a uns 130. Depois, comecei a perder, perder, fiz uma dieta maluca, comendo alface e hambúrguer. Aí, tomei um susto. Fui ficando a cada dia mais magro. Mas não me via magro — afirmou o padre, em 2014, em entrevista ao Diário Gaúcho, por conta do lançamento do disco O Tempo de Deus

Na época, como agora, ele afirmava que, para superar a depressão, o mal do milênio, segundo suas palavras, amparou-se na música, nas orações e nos exercícios físicos, e negou a suspeita de fãs, de que o emagrecimento tenha acontecido por alguma doença.

"Eu estava vivenciando a minha libertação da depressão que me atingiu" 

Marcos Hermes / Divulgação

Diário Gaúcho — Por que esse hiato tão grande entre o último DVD e este?
Padre Marcelo Rossi —
Eu estava vivenciando a minha libertação da depressão que me atingiu. Passei pela depressão durante sete meses e 22 dias, e me libertei no primeiro dia de outubro de 2013 (entenda o caso ao lado). Esse DVD foi uma excelência mística e sobrenatural. Eu tive uma segunda chance, um encontro com Cristo por meio da música. Percorri muitas cidades brasileiras com o meu livro (Philia, Editora Globo, R$ 20), que relata minha cura da depressão. 

Diário — Por que o senhor trocou o horário de seu programa (Momento de Fé) na Rádio Globo (antes, ia ao ar das 9h às 10h da manhã)? Agora, vai da meia-noite até a 1h, de segunda a sábado.
Padre Marcelo —
Durante a minha depressão, eu me acomodei. Agora, quero chegar no público jovem. Quando propus a mudança, me disseram: "Padre, você é louco". essa era a pior hora dos problemas que passei. Eu ligava a tevê e não tinha nada para ver. Eu fiz uma promessa: "Um dia, eu vou fazer um programa levando Deus para as pessoas". Sou eu, a palavra de Deus e meu violão E você tem que ver, (a audiência) está bombando. 

Diário — De que maneira o senhor acredita que chegou a esta cura da depressão?
Padre Marcelo —
Conversando com as pessoas, elas me diziam coisas ótimas, cantavam para mim. Foi um grande processo de terapia. Venci a depressão por meio da fé.  

Diário — O senhor sempre destacou a importância da prática de exercícios físicos na vida (o religioso se formou em Educação Física, em 1989). Acha que eles o ajudaram a sair da depressão?
Padre Marcelo —
Vou lhe dizer uma coisa: a sensação de prazer que a endorfina proporciona, de prazer, você só consegue comendo chocolate, por exemplo. Mas, como o chocolate tem alguns problemas, como a gordura que está presente nele, o segredo é o exercício cardiovascular. Faço, ao menos, 60 minutos por dia. E não tomo mais nenhum remédio.

Diário — Para quem olha o senhor de fora, animando centenas de pessoas em missa, passando mensagens positivas, é curioso saber que caiu em depressão..
Padre Marcelo —
Tive que me libertar de uma coisa que eu achava que não existia. Aprendi que depressão existe, sim. Durante muitos anos, eu ajudei as pessoas a se libertarem dela, e de outras angústicas. E eu fui cair nela. Mas encaro tudo isso como uma segunda chance. 

Diário — Como o senhor enxerga a fé nos dias de hoje? Aliás, como o senhor enxerga os dias de hoje
Padre Marcelo —
Acredito que as pessoas estejam vivendo um mundo descartável, um mundo de fast food. Sabe aquela coisa, as pessoas não comem (a comida), elas engolem? É isso que eu vejo hoje. 

Diário — E a lição que fica de tudo isso?
Padre Marcelo —
Digo isso para várias pessoas que me perguntam. Se cuide, a longevidade passa muito pelos cuidados que você tem consigo mesmo. Tudo depende de sua qualidade de vida. E eu estou sendo previdente com a minha vida.

O padre em números e momentos especiais

—Marcelo Mendonça Rossi nasceu em 20 de maio de 1967, em São Paulo.

— Em 1990, inspirado por uma minissérie sobre a vida do Papa João Paulo II (1920-2005), decidiu dedicar-se ao sacerdócio. Formou-se em duas faculdades além da anterior que havia feito, Educação Física: Filosofia e Teologia. 

— Foi ordenado padre em 1994.

— Estourou em 1997, quando lançou o CD Canções para Louvar ao Senhor, com 3,5 milhões de cópias vendidas. 

— Em 2000, reuniu uma multidão, calculada, na época, em mais de dois milhões de pessoas, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, em uma grande missa, batizada de Missa da Paz. 

Ver Descrição / Ver Descrição
Em Interlagos, multidão para ver o padre, em 2000

— Em 2003, estreou no cinema no papel do Anjo Gabriel, no filme Maria, Mãe do Filho de Deus, visto por mais de 2 milhões de pessoas, com nomes como Luigi Baricelli e Giovanna Antonelli. No ano seguinte, estrelou Irmãos de Fé, no papel de um padre que catequiza um menor infrator da Febem após lhe entregar uma Bíblia.

Globo Filmes / Divulgação
Luigi Baricelli em Giovanna Antonelli, em Maria, Mãe de Deus

— Todos os domingos, às 6h, apresenta na Rede Globo o programa Santa Missa em seu Lar _ no Rio Grande do Sul, o programa não é exibido.

— Em 2010, lançou seu primeiro livro, Ágape. No mesmo ano, recebeu do Papa Bento XVI, no Vaticano, o prêmio Van Thuan 2010 - Solidariedade e Desenvolvimento (Evangelizador Moderno 2010). 

— Já lançou 12 CDs e 5 DVDs, que já venderam mais de 12 milhões de cópias. 

— Entre os projetos futuros, está a produção do filme Médico de Homens e Almas, uma biografia do apóstolo São Lucas, e a inauguração do Santuário Marcelo Rossi, em São Paulo, com capacidade para mais de 100 mil pessoas.







MAIS SOBRE

Últimas Notícias