Polícia



Golpe no tráfico 

Polícia Civil ataca finanças de mais um líder de facção criminosa no RS

Uma semana depois de operação contra lavagem de dinheiro da quadrilha de Nego Jackson, policiais atacam bens de Minhoca, chefe de organização rival

24/11/2017 - 17h53min

Atualizada em: 27/11/2017 - 12h10min


Cid Martins
Enviar E-mail
Adriana Irion
Adriana Irion
Enviar E-mail
cid martins / Agência RBS
Cerca de 90 policiais cumprem 10 mandados de busca e seis de prisão na Região Metroplitana

CORREÇÃO:  A casa em Xangri-lá identificada como sendo da quadrilha investigada na Operação Ruína não tem relação com o grupo criminoso investigado. A foto do imóvel permaneceu publicada nesta matéria entre 9h e meio-dia. O imóvel foi incorretamente identificado pela Polícia Civil.

  Oito dias depois de atacar as finanças da facção do traficante Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, a Polícia Civil realiza nesta sexta-feira (24) nova operação contra lavagem de dinheiro da organização criminosa rival.  Cerca de 90 policiais cumprem 10 mandados de busca e seis de prisão na Região Metropolitana com o objetivo de descapitalizar a facção Bala na Cara, liderada por José Dalvani Nunes Rodrigues, conhecido como Minhoca. As ações da Operação Ruína ocorrem em Porto Alegre, Viamão, Gravataí e Xangri-lá. 

Após prisão no Paraguai, ele foi transferido para presídio federal em março de 2017. Pelo menos R$ 6,4 milhões em imóveis e em contas bancárias, pertencentes ao criminoso, mas em nome de laranjas, estão sendo bloqueados pela Justiça. Foram bloqueados e apreendidos 24 veículos, nove imóveis e 107 contas bancárias.

A operação Ruína investigou 100 pessoas suspeitas de participação no esquema de lavagem de dinheiro, que tiveram sigilo fiscal, bancário e  financeiro quebrados. Até o meio da tarde,  quatro suspeitos haviam sido presos preventivamente e um em flagrante, e haviam sido apreendidos um cofre com R$ 29 mil e dois revólveres. 

Segundo a Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro, do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos(GIE) da Polícia Civil, responsável pela investigação, Minhoca é suspeito de ser autor de 25 assassinatos, principalmente em Porto Alegre, com vítimas decapitadas, esquartejadas e com corpos incendiados. 

Ele começou a atuar na região do bairro Mario Quintana, zona norte da Capital, mas, quando se aliou a integrantes dos Bala na Cara, facção que tem base na zona leste da cidade, passou a multiplicar crimes violentos para assumir a organização e intimidar rivais. O grupo é investigado por 60 mortes.

– Esquartejamentos, carbonizações e decapitações humanas tornaram-se o carro chefe de Minhoca, que determinava que as execuções se dessem da forma mais pública e escancarada possível – afirma o delegado Filipe Bringhenti, que comanda a operação policial. 

As ações violentas de Minhoca provocaram a união de várias outras facções, lideradas inclusive por Nego Jackson no consórcio denominado Anti-Bala. Os grupos se uniram para conquistar território e para revidar os ataques, também com extrema violência. 

Divulgação
José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca, foi preso pela primeira vez em 2000

Fuga para o Paraguai

Em meio a esses confrontos, Minhoca resolveu se esconder no Paraguai, de onde passou à condição de distribuidor de drogas para outros traficantes da facção. 

– Minhoca passou a lucrar muito dinheiro e, como era esperado, passou a lavar esse dinheiro adquirindo imóveis em nomes de laranjas ou transferindo dinheiro em espécie para contas de pessoas físicas e jurídicas espalhadas pelo país. Investigações como esta nos coloca num novo patamar de enfrentamento ao crime organizado e serão cada vez mais priorizadas – ressalta o diretor do GIE, delegado Cristiano Reschke.

A polícia identificou laranjas e empresas de fachada não só no Rio Grande do Sul, mas em outros Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. 

 Minhoca tem antecedentes policiais pelos delitos de roubo (a motoristas e pedestres, com lesões), lesões corporais, ameaça, posse de entorpecentes, porte de arma de fogo (uso permitido e restrito), receptação, sequestro e cárcere privado, latrocínio, além de diversas ocorrências de tráfico de drogas e homicídios (tentados e consumados). Quando preso, ele foi apontado pelo envolvimento em pelo menos 25 homicídios.

O criminoso registra passagem pelo sistema prisional desde o ano 2000, quando foi recolhido pela primeira vez ao Presídio Central. Foi  detido em mais cinco oportunidades, sendo duas prisões e três recapturas. Encarcerado na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), foi transferido em março deste ano para presídio federal em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Desde 2000, foram expedidos 13 mandados de prisão contra Minhoca.

Contas bancárias bloqueadas 

Em agosto de 2016, Minhoca foi preso em Ciudad del Este, no Paraguai. A ação foi comandada pela polícia local e pela Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), do Rio Grande do Sul. De lá, por representação da Polícia Civil, foi transferido para o sistema prisional federal, o que prejudicou a sua gestão na facção que comanda.

Durante a investigação do crime de lavagem de dinheiro, o GIE identificou um grande esquema de transferências bancárias, além da localização de vários imóveis pertencentes a Minhoca, a maioria no bairro Mario Quintana, mas também um sítio, em Gravataí. Além de residências, a polícia apurou que ele tem estabelecimentos comerciais. Todos os bens estão bloqueados e sequestrados com ordem judicial. 

Contas bancárias dos investigados também foram bloqueadas. O montante ultrapassa R$ 2,6 milhões, mas pode ser ainda maior, porque a polícia espera receber nos próximos dias mais informações dos valores em todas as contas.  

Titular da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro, Bringhenti destaca o sucesso da investigação: 

– Conseguimos atingir o braço econômico (do traficante) e suas engrenagens, o que é de extrema importância para a desarticulação da célula criminosa. O valor bloqueado em conta é expressivo, assim como foi relevante o alcance daqueles que não aparecem como criminosos mas dão o suporte na gestão do esquema criminoso. 

O delegado Reschke  destaca que, para o sucesso da operação, foi fundamental a atuação comprometida e efetiva do Ministério Público Estadual, por meio do Promotoria Especializada no Combate à Lavagem de Dinheiro e às Organizações Criminosas. 

- O trabalho em parceria trouxe e está trazendo efeitos importantes para a repressão ao crime organizado - afirma Reschke. 

CONTRAPONTO

O que diz Anderson Roza, advogado de José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca:
"Soubemos da investigação pelos meios de comunicação. Nenhum familiar do meu cliente está envolvido na operação realizada nesta sexta-feira, é uma família simples, por isso, nos surpreendemos com o que está sendo divulgado sobre a movimentação financeira. Ainda desconhecemos o que consta no inquérito, mas muitas coisas têm recaído sobre o meu cliente sem que depois se comprovem nos processos". 




MAIS SOBRE

Últimas Notícias