Estrelas da Periferia
Rapper da Zona Norte passa mensagens de fé e reflexão através da música
Músico da Vila Farrapos investe em rap católico e já teve música sua tocada em rádio
Morador da Vila Farrapos, na Zona Norte da Capital, o rapper católico Sandro Miguel Gonçalves da Silva, 23 anos, acredita que a sua música O Desacreditado que Acreditou é uma boa definição para a sua trajetória. De origem humilde, ele aprendeu a tocar violão em 2011, na igreja São Miguel Arcanjo, no Humaitá. Porém, nesta mesma época, não era a música que habitava o seu imaginário, mas outra paixão nacional: o futebol.
— Eu queria ser jogador, não tinha pretensão de seguir na música. Participei de alguns times amadores, queria tentar esse sonho — relembra.
Batalha
Porém, neste período, ele teve de substituir uma colega de igreja que tocava. E, logo, começou a notar que a música seria o seu caminho. No começo, de "zueira", como Sandro mesmo afirma, passou a fazer vídeos e postar na internet. Em 2014, porém, um marco o fez seguir pelo cenário do rap católico.
— Fui a um show do Projota, em Porto Alegre. Vi que ele passava uma mensagem legal. Mas a galera que estava no show não estava muito preocupada com isso, não estava em busca da verdade. Como sou católico, passei a estudar sobre a minha fé e me vi na obrigação de passar uma mensagem legal para as pessoas. Depois disso, eu passei a escrever as minhas primeiras canções — conta Sandro Miguel, nome que ele usa atualmente.
Sempre apoiado pela mãe, Rosângela, que ele cita como base da sua carreira, constatou que não tinha grana para bancar a gravação de um CD nem de clipes. Com isso, pegou parte da rescisão a que teve direito quando saiu da empresa onde trabalhava, em 2015, e investiu na produção de doces caseiros.
— Fazia branquinho e negrinho e vendia nas paradas de ônibus da Zona Norte, nas avenidas Assis Brasil e Farrapos, e no Centro. Tudo para pagar um DJ que faria a produção do meu primeiro disco. E era curioso porque as pessoas tinham um certo preconceito quando eu falava que fazia um rap católico. Eu tentava explicar, dizendo que falava sobre Deus nas minhas letras — conta Sandro, que revela por que escolheu este gênero:
— É um estilo que me permite passar muitas informações em pouco tempo.
União faz a força
Depois de tanta batalha, ele conseguiu, finalmente, gravar o disco chamado O Desacreditado que Acreditou. Criado na Vila Farrapos, viu muitas famílias de amigos passarem por inúmeros problemas ao seu redor.
— Reflete (o nome do disco) muito da minha história, que é fazer rap. Ainda mais o católico, que não é fácil. Fui começando a acreditar em mim e comecei a colocar nas letras coisas da minha vivência. Minhas canções falam sobre valores familiares e de como batalho por uma pureza de coração, de como as pessoas podem, realmente, se importar com o próximo — defende o rapper.
Hoje, Sandro Miguel não esconde a sua alegria ao constatar que já teve canções suas tocadas na Rádio Atlântida (94.3 FM), como Faça História.
E também já conseguiu gravar outras, como Brasil Paralelo, uma faixa mais filosófica, como gosta de definir. Como um projeto paralelo, integra o coletivo de rap chamado Destra Rap, que reúne rappers de várias partes do Brasil.
— Faremos uma versão de Vamos Falar de Vida 2.0, remixada, diferente, com ideias mais fortes — promete.
Pitaco de Quem Entende
O rapper Rafa, do grupo Rafuagi, fala sobre o som de Sandro Miguel:
— O Sandro Miguel grava em um dos melhores estúdios do Estado, a Trinca Records. O trabalho tem qualidade e uma mensagem contundente. Vale buscar cada vez mais o estudo sobre afinação e a descoberta pelo seu suingue.
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