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Carreira

Como é ser um policial federal

Até segunda-feira, é possível se inscrever no concurso da PF; seleção é rigorosa e exige preparo físico

29/06/2018 - 10h52min

Atualizada em: 02/07/2018 - 15h40min


Leandro Rodrigues
Leandro Rodrigues
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Bruno Requião da Cunha combate crimes cibernéticos

Trabalho não falta — até sobra, diz quem já está na carreira. A atividade pode ser cansativa, exigir plantões em dias que a maioria dos profissionais está de folga. Também é preciso estar preparado para ser chamado à noite ou para ficar de sobreaviso. Isso sem esquecer do risco que é ser um policial. Mas o salário inicial é atrativo: pode variar de R$ 11.983,26 a R$ R$ 22.672,48

Interessados em participar do concurso da Polícia Federal (PF) precisam pesar logo os prós e contras e tomar a decisão. Às 18h de segunda-feira, termina o prazo de inscrição para uma das 500 vagas oferecidas nos cargos de delegado, perito criminal, agente, escrivão e papiloscopista. E é bom que os candidatos saibam: quem passar na seleção irá demorar alguns anos para trabalhar na cidade de interesse.

Representante do Sindicato dos Policiais Federais do Rio Grande do Sul (Sinpef-RS), 0 agente Bruno Requião da Cunha, 35 anos, ingressou no concurso de 2009 e tomou posse no cargo no ano seguinte. Hoje, atua na sede da Polícia Federal em Porto Alegre, onde nasceu. Está perto da família e dos amigos. Mas no começo, não foi assim:

— Eu fui para Rondônia atuar na Delegacia de Entorpecentes e fiquei três anos em Porto Velho. Para ser removido, há processos seletivos.

O profissional está hoje na Delegacia de Defesa Institucional, tratando de temas que vão do crime eleitoral aos chamados crimes cibernéticos, como os que envolvem o armazenamento e compartilhamento de material pedófilo. A rotina? Cunha brinca que não existe muita. O dia pode ser muito calmo, com uma jornada das 8h às 18h, com atividades internas, ou cheio de mandados de busca ou de prisão a serem cumpridos na rua. Aí, o policial pode entrar às 7h e só sair depois das 22h. 

Por trás daquela operação que a maioria vê nos noticiários da TV, estão muito tempo dedicado e horas mal dormidas em que a vida pessoal fica em segundo plano, alerta o policial federal. Esse é um dos motivos que leva o agente a alertar que o concurso da PF não é para qualquer um. Ao ser questionado se recomenda o concurso, ele prefere responder convidando os interessados a refletir:

— Precisamos na PF de pessoas vocacionadas para o trabalho, não de concurseiros de plantão. Porque há muitos fatores na nossa atuação que pesam no psicológico. Não é uma atividade trivial, às vezes temos de lidar com investigações pesadas, como pedofilia — avisa o policial. 

Sem contar que a vida pessoal também é impactada. A partir do momento em que se torna policial federal, o profissional tem de saber que vira uma referência para a sociedade: precisa dar o exemplo em absolutamente tudo. É o mesmo "porém" que o delegado delegado Josemauro Pinto Nunes, 40 anos, faz ao responder a pergunta. Chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários da PF, ele está ansioso por novos colegas, mas reforça que ser policial traz a exigência de comportamento exemplar.

— A pessoa tem de entender a responsabilidade do cargo com a sociedade e com os outros. Espera-se um policial moralmente correto no seu cotidiano, na vida pessoal. Então, eu recomento, mas para quem quem está disposto a se portar como tal.

Da notícia de um crime à comprovação

Os 15 anos de Polícia Federal levaram o delegado Josemauro Pinto Nunes a ganhar experiência no combate a crimes contra a Previdência Social. Há 10 anos nessa delegacia especializada, assumiu a chefia em 2015. Pela característica do crime que investiga, a rotina dele e dos outros dois delegados sob o comando dele é mais interna, em meio a muita papelada. Mas que não se faça pouco caso, pois são crimes perversos: fraudar a Previdência é desviar dinheiro que deveria ir para quem mais precisa.

— Se chega aqui a informação de que alguém está fraudando a Previdência, temos de montar um projeto para comprovar ou não esse crime. Que diligências temos de fazer? Vamos precisar de carro, combustível, policiais para essas ações. Às vezes, são três ou quatro dias em cima de uma pessoa para comprovar isso — conta.

Isso sem contar que o fraudador pode ser uma pessoa apenas, um grupo de atravessadores ou uma empresa que tenta maquiar a contabilidade. É uma investigação que exige paciência para a constatação dos crimes e trabalha menos com flagrantes como o combate ao tráfico de drogas. 

— A Polícia Federal absorve todo tipo de perfil, desde quem é mais operacional, quanto quem se dá mais com funções internas. Isso em todas as áreas de investigação — explica o delegado.

A SELEÇÃO

  • A leitura completa e atenta do edital é pré-requisito básico para quem pretende passar em qualquer concurso.
  • Os aprovados serão aqueles que se derem melhor em um somatório de provas objetivas, discursivas, práticas, de aptidão física, além de avaliações psicológica, médica e de títulos.
  • É bom ficar atento à avaliação física. Entre os testes, está nadar 50 metros em menos de 44 segundos (para homens) e 54 segundos (para mulheres). É onde mais candidatos ficam pelo caminho.

A PREPARAÇÃO

  • Quem pensa que ser aprovado e ingressar na Academia Nacional de Polícia, no Distrito Federal, é o fim da linha está enganado. O Curso de Formação Profissional é uma etapa eliminatória do processo, e o sonho de se tornar policial federal acaba para muita gente.
  • Os alunos passam 17 semanas sob intensa preparação e provas. São treinados em técnicas de investigação, de abordagem policial, uso de ferramentas de investigação, defesa pessoal, tiro prático policial, legislação interna, migração, entorpecentes, crimes fazendários, previdenciários, pedofilia, crimes cibernéticos, combate à corrupção e lavagem de dinheiro, inquérito policial, entre outras áreas.
  • É de interesse dos candidatos fazer mais do que o mínimo para não ser eliminado: a ordem de classificação obtida será rigorosamente obedecida na hora de se escolher lotação para todos os candidatos.
  • Durante o curso de formação, o aluno recebe uma bolsa de 50% do valor do salário correspondente ao cargo.

PASSEI, E AGORA?

  • Após a conclusão do curso de formação, com a aprovação final, a nomeação é publicada e o policial entra em exercício. A definição da lotação se dá conforme a classificação.
  • Delegados, agentes, escrivães e papiloscopistas começam a vida profissional nas unidades da PF nas fronteiras.
  • Para começarem as atividades com maior domínio sobre as funções, podem fazer um estágio de um mês na respectiva superintendência da PF, passando por diversas das delegacias.
  • Futuras remoções para outros locais dependem de processo seletivo aberto quando ocorrem novos concursos.
  • Mas há tarefa na PF executadas por terceirizados ou contratados. O setor de passaportes, por exemplo, conta com esses profissionais. E policiais federais supervisionam essas atividades.

A CARREIRA

  • Os cargos na PF (delegado, agente, escrivão, perito e papiloscopista) são estruturados em quatro classes : 3ª classe, 2ª classe, 1ª classe e classe especial. Todos os cargos podem desempenhar funções de polícia em geral.
  • Delegados, peritos criminais, agentes, escrivães e papiloscopistas ingressam dentro da mesma categoria na PF: 3ª Classe.
  • Não há mudança de um cargo para outro sem prévia aprovação em um novo concurso público. Ou seja, agente será sempre agente, a menos que faça um novo concurso.
  • A cada período cumprido de serviço, podem ascender um degrau: Após três anos: Segunda Classe; após cinco anos: Primeira Classe; após mais cinco anos: tem o direito de fazer curso especial para ser promovido para a Classe Especial

AS ATRIBUIÇÕES

Delegado

  • É quem instaura e preside os procedimentos policiais de investigação, cabendo a ele orientar e comandar a execução de ações relacionadas à prevenção e repressão de crimes.
  • Está na conta do delegado participar do planejamento de operações, supervisionar e executar aquelas missões sigilosas.
  • Inicia a carreira pelas fronteiras do país, e, conforme a classe a que for ascendendo, pode alcançar cargos de comando na PF.

Perito criminal

  • É uma espécie de cientista à disposição da investigação da PF. Sempre que o delegado precisar de um especialista, vai acionar o perito correspondente à área em questão. Por isso, há peritos engenheiros de computação, químicos, contabilistas, farmacêuticos e médicos, por exemplo (todas as áreas estão especificadas no edital).
  • Por exemplo, ao apreender o computador de um suspeito de envolvimento em pornografia infantil, certamente o delegado enviará o equipamento para análise de um perito em computação para conferir o que há no HD da máquina e se algum material foi deletado para escapar da polícia.
  • É a única carreira que não começa a atuar nas unidades de fronteira. O perito fica lotado, em regra, nas capitais e grandes cidades.

Agente 

  • O agente coloca a mão na massa em toda a investigação policial. Trata-se da maior categoria dentro da PF.
  • Esse profissional realiza as investigações propriamente ditas, indo a campo buscar provas, confirmar informações, apresentando o resultado desse trabalho à autoridade policial via relatório.
  • Ele inicia a carreira atuado junto às fronteiras e pode chegar à cidade desejada ao longo dos anos. Na prática, tanto agente de terceira classe quanto o da classe especial acabam executando as mesmas atividades.

Papiloscopista

  • É o especialista na PF em impressões digitais. É quem executa, orienta e supervisiona os procedimentos de coleta, revelação, levantamento e armazenamento de fragmentos das chamadas impressões papilares.
  • Em um crime de competência da PF, por exemplo, o papiloscopista vai ao local recolher as impressões, ou resíduos delas, deixadas pelos criminosos. Também pode desempenhar outras atividades de natureza policial e administrativa.
  • Também inicia a carreira nas regiões de fronteira. Não há diferença significativa entre as atividades executadas entre as diferentes classes.

Escrivão

  • Esse policial federal assessora diretamente o delegado federal na realização dos inquéritos.
  • O escrivão, por exemplo, colhe depoimentos, faz interrogatórios, relatórios e autos de apreensão. Também se responsabiliza pelo valor das fianças recebidas e pelos objetos de apreensão.
  • O início da atividade sempre é pelas regiões de fronteira. E, da mesma forma, não há diferença significativa entre as atividades executadas entre as diferentes classes.

Informações sobre o concurso 

Cargos e vagas: delegado de polícia federal (112 para ampla concorrência + 30 reservadas a candidatos negros + 8 reservadas a candidatos com deficiência), perito criminal federal - área 1 (7 para ampla concorrência + 2 reservadas a candidatos negros + 1 reservada a candidatos com deficiência), perito criminal federal - área 2 (3 para ampla concorrência + 1 reservada a candidatos negros + 1 reservada a candidatos com deficiência), perito criminal federal - área 3 (15 para ampla concorrência + 4 reservadas a candidatos negros + 1 reservada a candidatos com deficiência), perito criminal federal - área 4 (2 para ampla concorrência), perito criminal federal - área 5 (2 para ampla concorrência), perito criminal federal - área 6 (3 para ampla concorrência + 1 reservada a candidatos negros), perito criminal federal - área 7 (5 para ampla concorrência + 2 reservadas a candidatos negros + 1 reservada a candidatos com deficiência), perito criminal federal - área 9 (3 para ampla concorrência + 1 reservada a candidatos negros), perito criminal federal - área 12 (2 para ampla concorrência), perito criminal federal - área 14 (2 para ampla concorrência + 1 reservada a candidatos negros), agente de polícia federal (135 para ampla concorrência + 36 reservadas a candidatos negros + 9 reservadas a candidatos com deficiência), escrivão de polícia federal (60 para ampla concorrência + 16 reservadas a candidatos negros + 4 reservadas a candidatos com deficiência), papiloscopista policial federal (22 para ampla concorrência + 6 reservadas a candidatos negros + 2 reservadas a candidatos com deficiência)

Nível: superior

Salário: R$ 11.983,26 a R$ R$ 22.672,48

Prazo: de 10h de 19 de junho até 18h de 2 de julho

Taxa de inscrição: R$ 180 a R$ 250

Prova: objetiva e discursiva em 19 de agosto, exame de aptidão física em 13 e 14 de outubro, prova oral em 11 de novembro, prova prática de digitação em 11 de novembro, avaliação médica em 17 e 18 de novembro, avaliação psicológica em 6 de janeiro e avaliação de títulos.

Edital e inscrições: neste site. Retificação, neste site



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