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"Viver de bico é muito ruim", diz Eroni, 55 anos, que procura trabalho há um ano

Reportagem acompanhou o profissional na fila do Sine há um mês. Desde então, ele sequer foi chamado para uma entrevista

10/08/2018 - 08h00min


Felipe Bortolanza
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Anderson Fetter / Agencia RBS
Trabalho de Eroni ainda é limitado quando o tempo não colabora

Há um mês, Eroni Correia esteve na fila do Sine Municipal, no Centro da Capital. Madrugou na esperança de acabar com um ano de desemprego. Desde lá, nada. Nem entrevista, nem um alô de alguém para oferecer vaga de carpintaria, portaria, serviços gerais. Com 55 anos, sente-se triste, renegado:

– Mas ainda tenho vontade de lutar.

Eroni é uma das faces da reportagem especial do Diário Gaúcho, iniciada no dia 10 de julho, que pretende mostrar a rotina de quem está na fila por vaga com carteira assinada. Ontem, Eroni recebeu a reportagem para contar sobre suas angústias e esperanças. A certa altura, não conteve as lágrimas.

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Das outras seis pessoas ouvidas na fila do Sine naquela manhã, só uma está prestes a começar a trabalhar: duas seguem sem emprego, duas não atenderam o telefone e uma não quer participar das reportagens.

"Viver de bico é muito ruim"
Eroni recebeu o Diário na casa onde está vivendo, no bairro Sarandi, zona norte da Capital. Mas o combinado era outro. Deveria ser na casa de um "cliente" dele. Se o tempo não estivesse chuvoso, ele estaria cortando grama e ganhando "um troco" na tarde de ontem:

– Viver de bico é muito ruim. Fico na dependência do tempo. E meu forte são trabalhos em obras, que ficam limitadas com chuva.

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Ele calcula ganhar cerca de R$ 500 com o trabalho informal. Consegue empreitadas em jardinagem, reformas em imóveis e na construção civil graças a uma rede de amigos e conhecidos do bairro. O principal sustento da família, que conta ainda com um jovem enteado (trabalha com estamparia), vem do auxílio-doença recebido pela esposa, Débora, que há oito anos não pode trabalhar por problemas num braço. Ontem, ela não estava em casa. Tinha saído para pagar uma conta.

– Essas sempre aparecem! Todos os meses. E gastamos mais de R$ 200 por mês em farmácia, fora água, luz, telefone, comida. Estou no SPC, não tem como ser diferente.

Na sogra
Para reduzir os problemas financeiros, desde que foi demitido da função de porteiro em uma empresa, no dia 14 de julho de 2017, ele vendeu a casa que morava em Viamão e foi morar na casa da sogra, no bairro Sarandi.

Mas as angústias de Eroni vão além da falta de dinheiro. Perguntado sobre o que fará assim que conseguir uma renda melhor, assinando carteira, não segurou as lágrimas.

– Preciso cuidar da minha saúde...

Com olhos marejados, pediu licença, foi até a cozinha tomar um copo de água. E prosseguiu:

– Tenho problema sério de estômago. Tenho úlcera, fora esse joelho que me dói demais. Preciso fazer uma endoscopia. Há quatro meses, tento marcar o exame pelo SUS. Deste jeito, sabe-se lá quando poderia ter um diagnóstico...

Eroni conta que tem bursite e problemas de coluna. Mesmo assim, para o INSS, tem condições de trabalhar.

– No Brasil, quem passou dos 50 anos sofre muito preconceito no mercado. Mesmo sem a força de antigamente, tenho capacidade de trabalhar como porteiro e na carpintaria. Podem me achar velho, mas preciso trabalhar e ajudar no sustento da família.

Cristiano, a única boa notícia
Nestes 30 dias desde o início da série de reportagens, apenas uma boa notícia. O mais jovem dos entrevistados é quem está prestes a assinar carteira. Cristiano Lucas de Oliveira, 21 anos, morador do Lami, tem agendado treinamento de dois dias, na semana que vem, em um supermercado.

Fernando Gomes / Agencia RBS
Cristiano quer uma chance na padaria

– Estou na expectativa de começar logo. Serei operador de loja, mas tomara que tenha chances na padaria. É o que mais gosto. 

Se der certo no súper, Cristiano sonha em ser gerente. Desde 2015, quando terminou o Ensino Médio, frustrou-se no Enem e resolveu apostar no mercado de trabalho para ganhar dinheiro. E só então voltar a estudar.


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