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Papo Reto

Manoel Soares: "Lembro como ontem do dia em que morri"

Colunista afirma que ter uma arma apontada para si fez com que algo morresse dentro dele

13/10/2018 - 08h00min


Lauro Alves / Agencia RBS

Lembro como ontem do dia em que morri. Eu tinha uns 14 anos e descia a ladeira depois de levar minha mãe na parada de ônibus, de madrugada. Na lateral, tinha um alambrado que protegia um parque perto de onde eu morava. Por conta do frio, estava com um moletom de capuz. 

O que me chamou a atenção antes de ver o que acontecia foi o som de ferro se encaixando em ferro e, na penumbra, a silhueta de um cano. Quando andei mais uns passos, vi que atrás de um cano tinha um homem fardado apontando sua arma para mim. 

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Ele me olhou no olho, eu olhei no olho dele também. Ele viu que eu tinha medo, viu que eu não representava perigo, mas manteve a arma em minha direção, acompanhando meus passos. Falou em um cochicho gritado: “Vai pra casa, menino, vai logo.” 

Que não se repita
Um pouco mais à frente tinha um corpo caído, um homem morto no meio do asfalto sem ninguém por perto. Passei por ele com o corpo grudado no alambrado, tentando ficar o mais longe possível da morte que meneava um “oi”. 

Ter uma arma apontada para nossa cara mata algo em nós que não sabemos bem o que é. Eu morri um pouco naquele dia. Não consegui mais ressuscitar. Não quero meus filhos nem os seus morrendo como eu morri um dia.


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