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Papo Reto

Manoel Soares e a chinelagem meritocrática

Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho

19/01/2019 - 08h00min


Lauro Alves / Agencia RBS

Nesta semana, saiu uma reportagem dizendo que uma criança pobre tem somente 0,16% de chance de estar entre os melhores do Enem. O exame, como muitos outros sistemas de oportunidades, segue a lógica da meritocracia, que prega que uma pessoa tem o que merece ter de acordo com o seu esforço. Eu, particularmente, acho que isso é papo furado.

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Querer que um menino que estudou em uma escola caindo aos pedaços em uma quebrada qualquer do Estado dispute de igual para igual com filhos de ricos, que estudam em escolas caras desde antes de começar a falar, é, no mínimo, injusto. Se o menino da quebrada, depois de todas as dificuldades estruturais, chegar à mesma sala de aula dos jovens privilegiados, não é meritocracia. É milagre.

Hipocrisia

Se em condições ruins alguns de nós conseguem chegar na faculdade, imagina se nos derem um ensino de qualidade? Vamos virar os novos Albert Einstein dos tempos modernos. Me revolta ver pessoas usarem a história daqueles que alcançaram seus objetivos para dizer que quem quer, consegue. Não basta só querer para conseguir. 

Além de ser desumano exigir que quem veio de baixo chegue no topo sem reclamar, isto também é hipocrisia. Afinal, muitos que tiveram todas as oportunidades vivem dando errado. Só defenderei a meritocracia quando quem mora na quebrada e no asfalto tiver oportunidades iguais. Aí, saberemos quem é quem. 

Isso não deve nos fazer abandonar nossos sonhos, mas nos fazer entender que o martelo da vida tem mais peso dependendo do seu CEP e do seu sobrenome. Até porque 0,16% de chance é chinelagem.


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