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Parece que foi ontem

Confira as referências da moda, TV, política, música e tecnologia mostradas em "Verão 90"

A novela das sete é um festival de nostalgia na telinha

15/02/2019 - 15h52min

Atualizada em: 16/02/2019 - 09h00min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Raquel Cunha / TV Globo/Divulgação
O fusquinha de Manu já era retrô em 1990

Verão 90 trouxe de volta uma época nem tão distante, mas já considerada remota para a geração que respira os ares dos anos 2000. A televisão ainda era a melhor forma de se inteirar dos acontecimentos, isso sem falar nas telenovelas clássicas que ditavam moda e alçavam artistas ao patamar de ídolos inatingíveis. Comunicação, só por telefone fixo ou pelo bom e velho bilhetinho escrito à mão. A novela das sete é um mergulho nostálgico para quem a viveu intensamente, e um show de novidades para quem não imagina como era "naquele tempo". Apesar de terem lembranças vívidas dos anos 90, as autoras Izabel de Oliveira e Paula Amaral fizeram uma "volta ao passado" para dar veracidade aos fatos apresentados na trama. Assistiram a filmes, documentários e até novelas daquela época.

— Nosso trabalho foi pautado em muita pesquisa — garante Izabel.

Confira as principais referências mostradas na história:

Política e Legislação

TV Globo / Reprodução
Janaína impactada com as notícias

Depois de um voo rasante pelos anos 80, para explicar como surgiu a Patotinha Mágica, a novela aterrissou de vez na década do título. Em 1990, Manuzita (Isabelle Drummond) e João (Rafael Vitti) se reencontram, e Jerônimo (Jesuíta Barbosa) apronta poucas e boas. Recém-eleito Presidente da República, Fernando Collor de Mello era a esperança de um país tão castigado pelo regime militar, cujo fantasma ainda pairava sobre o país. Na TV, o pronunciamento do novo chefe da nação foi um banho de água fria para muita gente, inclusive para Janaína (Dira Paes), que assistiu, pasma, ao começo do caos na economia brasileira. O Governo confiscou por 18 meses o dinheiro depositado em cadernetas de poupança, deixando boa parte da população em péssima situação financeira. Na novela, Raimundo (Flávio Tolezani) foi obrigado a demitir funcionários de seu restaurante. Herculano (Humberto Martins) precisou cancelar a produção de seu filme, já que não poderia contar com suas economias guardadas no banco. Segundo a Folha de S. Paulo, a inflação mensal passava de 70% nos primeiros meses de 1990. Para se ter uma ideia, atualmente, a atual é de cerca de 0,35% ao mês.

Nos primeiros capítulos, Lidiane (Claudia Raia) se mostrou arrependida por ter votado em Collor. Manu até zombou da mãe:

— Eu lembro! Votou porque achava ele bonito, gatinho!

Leis mais brandas

TV Globo / Reprodução
Não era proibido fumar

A nova trama tem exibido cenas que parecem absurdas para quem não viveu nos anos 90. Acreditem, fumar era permitido em qualquer lugar, aberto ou fechado, inclusive dentro dos aviões. Nos voos nacionais, havia assentos para fumantes e não-fumantes. Em Verão 90, Herculano, por conta da pressa em chegar no Rio de Janeiro para ver a filha doente, precisou viajar na área de fumantes, inalando o "fumacê" dos passageiros ao redor. Somente em 1998 o tabaco foi totalmente proibido dentro das aeronaves. A decisão foi tomada pelo juiz gaúcho Guilherme Pinho Machado, da 4ª Vara Cível da Justiça Federal do Rio Grande do Sul.

Em 2011, a legislação ficou ainda mais rigorosa para fumantes. Entrou em vigor a chamada Lei Antifumo, que proíbe fumar em ambientes fechados públicos e privados.


Moda e estilo

Victor Pollak / TV Globo
Pilantra, mas estilosa

Ah, a moda dos anos 90... Cores misturadas, muitas estampas, brilho e barrigas à mostra. A camisa xadrez era um dos itens queridinhos das meninas mais antenadas, como Manuzita. A mocinha da trama também aposta em calças e shorts de cintura alta, tendência na época.

As mais ousadas aproveitavam pra mostrar a barriguinha, como a sedutora Vanessa (Camila Queiroz). Mesmo usando a camiseta da festa da PopTV, a moça deu seu toque especial à peça com uma amarração. Não podia faltar no figurino da vilãzinha uma gargantilha bem colada ao pescoço, clássico da época.


Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada 

As novelas ditavam o estilo de muita gente na vida real. Em Rainha da Sucata, por exemplo, Maria do Carmo (Regina Duarte) exibia uma clássica franjinha, copiada pela mulherada no país inteiro. Na atual novela das 19h, Gisela (Débora Nascimento) e Moana (Giovana Cordeiro) usam e abusam das franjas.  A problemática herdeira dos Ferreira Lima também curte usar o cabelo preso, o clássico e atemporal rabo-de-cavalo.

João Cotta / TV Globo/Divulgação
Gisela é adepta da franjinha

Já o visual de Vanessa lembra muito o corte de Jennifer Aniston nas primeiras temporadas do seriado Friends (1994-2004).

Fotos: Divulgação
Jen foi inspiração pra muitas meninas

Entre os meninos, cabelos bagunçados e sem regras, bem ao estilo grunge _ subgênero do rock alternativo _ que dominava a década. Um ícone dos anos 90, Kurt Cobain (1967-1994) fazia o maior sucesso com a mulherada graças a seu visual "podrinho", com madeixas compridas e bagunçadas, roupas rasgadas e camisetas básicas.

Fotos: Divulgação
Bagunçados, mas gatíssimos


Música

João Cotta / TV Globo/Divulgação
"Chorando se foi..."

Rock, pop, lambada e sertanejo. A década de 90 é marcada pela diversidade de ritmos. No Brasil, o rock nacional vivia seu auge, com Titãs e Barão Vermelho emplacando hits nas principais rádios do país. Sim, na época, os artistas só eram reconhecidos se tocassem na rádio. Quem viveu o tempo de esperar sua música favorita tocar, apertar o botão de gravação, para só assim, guardar a canção em fita cassete, sabe do que estou falando. 

O CD já existia por aqui desde meados dos anos 80, mas só foi se popularizar na década seguinte. Foi o auge do compact disc, quando artistas chegavam a vender milhões de cópias. Em 1990, os recordistas foram Leandro & Leonardo, cujo primeiro álbum ultrapassou os 3 milhões de cópias. Nesta época, Xuxa era unanimidade e figurava em todas as listas de mais vendidos.

Em Verão 90, a trilha sonora dá o tom da época, com todas as batidas que faziam a cabeça da galera. A lambada, popular naquele momento, é representada na trama com todo o gingado de Dandara (Dandara Mariana). 

O rock era um dos ritmos da década, tanto que Quinzinho (Caio Paduan) acertou em cheio ao convidar os Titãs para tocar na festa de lançamento da PopTV.

Paula Amaral, uma das autoras da novela, lembra com carinho dos anos 90:

_ Em 1990, eu sintonizava um aparelho de rádio, supostamente muito moderno, que conseguia captar frequências de rádios americanas. Achava aquilo incrível. 

Para ver e ouvir

Até 1990, a única forma de assistir aos clipes dos artistas do momento era esperar passar no Fantástico. O programa dominical costumava exibir, em primeira mão, videoclipes da Blitz, Clara Nunes e Cazuza. Até alguns atores como Lima Duarte, Gloria Pires e Sônia Braga soltaram a voz aos domingos.

Então, veio a MTV. Criado nos Estados Unidos na década anterior, o canal chegou ao Brasil em 1990, com a promessa de ser a primeira emissora de TV aberta totalmente dedicada à música. Durante anos, foi a maior rede jovem de televisão, até sair do ar, em 2013.

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Astrid foi uma das primeiras VJs

Inspirada no canal, a emissora fictícia PopTV, criada por Quinzinho, Candé (Kayky Brito) e Tobé (Bernardo Marinho), tem muitas referências da MTV, inclusive na figura de Nicole (Bárbara França), uma VJ descolada. A atriz se inspirou nas principais apresentadoras da MTV, como Astrid Fontenelle, Sabrina Parlatore e Cuca Lazzarotto.

Estevam Avellar / TV Globo/Divulgação
Qualquer semelhança...


TV e cinema

Na novela das sete, não faltam citações a...novelas! Lidiane (Claudia Raia) insiste em lançar a filha, Manuzita, como uma grande atriz. E lá vai a menina fazer testes para os principais folhetins da época. Depois de uma participação ínfima em Top Model (1989) e de ser expulsa do set de Tieta (1989), Manu sonha com um papel na "próxima novela das oito", no caso, Rainha da Sucata. Lidi chegou a debochar de uma famosa atriz que estaria na trama:

— Aquela que parece um poste que fez a Tancinha, vai fazer uma dançarina, imagina!

Sim, a personagem de Claudia Raia debochou de... Claudia Raia. 


Trapalhadas na telona

O cinema brasileiro, na década de 90, se limitava a filmes infantis, com Xuxa e Os Trapalhões batendo recordes de bilheteria. Até hoje, as produções de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias marcam presença nas listas de filmes nacionais com maior público. 

TV Globo / Reprodução
Só dava eles na telona

O personagem de Humberto Martins rejeita seu passado como "Hércules Gatão", galã da pornochanchada. O gênero, sucesso na década de 70, viu seu declínio nos anos 80, até sumir de vez e dar lugar a um cinema adulto mais "sério", com a retomada das produções nacionais, em meados dos anos 90.

João Cotta / TV Globo/Divulgação
A Pantera e o Gatão, confusão na certa


Tecnologia

Raquel Cunha / TV Globo/Divulgação
Alguém teve um walkman?

Parece estranho ver os personagens de Verão 90 telefonarem para o telefone fixo _ com fio, vale lembrar _ para falar com alguém. Se não atendesse, restava deixar recado na secretária eletrônica. Eram estes os únicos jeitos de entrar em contato, incluindo aí as ligações de orelhão, aqueles com ficha, lembram? Foi assim que Kika (Jeniffer Nascimento) avisou Manu sobre o teste para o filme de Herculano, em Armação do Sul.

TV Globo / Reprodução
Caiu a ficha, Kika?

O celular, se é que podemos chamar assim o "tijolão" que aparece em cena, só foi mostrado na sequência em que Gisela telefona para Herculano, dentro de um táxi, em Nova York. O modelo usado pela perua parece ser o Motorola DynaTAC, lançado em 1984. Porém, na época, era um luxo para poucos.

Raquel Cunha / TV Globo/Divulgação
Mensagem? Só na secretária eletrônica


Computador

Rafael Campos / TV Globo

Algumas empresas já tinham esta "novidade", mas era bem diferente do que vemos hoje. Monitores de tubo, disquetes para armazenar dados e impressoras enormes faziam parte do dia a dia de poucos. Internet? Esqueçam. A rede mundial de computadores só se popularizou no Brasil em 1995. Aliás, foi neste ano que a novela Explode Coração "previu" o futuro da comunicação virtual. Gloria Perez escreveu praticamente uma ficção científica, para os padrões da época.


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