Polícia



Região Metropolitana

Rede de informações e avisos em frente às casas: como moradores de Cachoeirinha se uniram contra violência

Iniciativas da comunidade do bairro Jardim do Bosque contribuem com o trabalho da Brigada Militar e da Guarda Municipal

07/02/2019 - 21h51min


Renato Dornelles
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Placas avisam aos ladrões sobre a rede de proteção

Até dois anos atrás, moradores do bairro Jardim do Bosque, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, conviviam com relatos diários de roubos e furtos. Os crimes aconteciam a qualquer hora do dia e da noite e os alvos podiam ser casas ou pessoas nas ruas.  O comerciante Uilson Droppa, 34 anos, analisou a situação:

— Na comunidade, era cada um por si. Se arrombavam a casa do vizinho, as pessoas não davam muita atenção. Só se preocupavam quando eram atingidas — explica.

Com base nesse diagnóstico, decidiu agir. Por iniciativa sua e de alguns vizinhos, foram adotadas ações. As medidas fizeram com que os moradores passassem a ter maior sensação de segurança. 

A primeira e principal atitude  tomada foi a criação de grupos de WhatsApp. Pelo aplicativo, os moradores se comunicam, trocando informações sobre a presença de pessoas desconhecidas. Avisam ainda quando há ocorrências policiais nas ruas do bairro. Antes de serem incluídos na rede, os participantes são cadastrados. Já são mais de 500 adesões.

— São quatro grupos, de tantas adesões que tivemos — explica.   

Em um segundo momento, criaram sistema de monitoramento mútuo. Para aderir, o morador precisa adquirir, ao custo de R$ 10, uma placa para afixar em muro, portão, grade ou parede frontal da casa, comunicando que a residência está incluída no programa: "Vizinhos em alerta. Área monitorada pela comunidade. União e paz. Qualquer atitude suspeita, a polícia será acionada", diz o texto exibido em várias residências e estabelecimentos do bairro.

As placas, de acordo com o comerciante, têm dois objetivos. O primeiro, de chamar atenção da própria comunidade que, ao perceber qualquer atitude suspeita em torno da casa monitorada, faz a comunicação via WhatsApp. Câmeras de segurança instaladas no comércio ou em residências auxiliam nessa tarefa. O segundo objetivo é intimidar criminosos.

— Teve um dia em que o pátio de uma casa havia sido invadido. Um vizinho comunicou via grupo e várias pessoas foram para a rua. A movimentação fez com que os suspeitos fugissem do local, sem levar nada, antes mesmo que a polícia chegasse — lembra.

A ação conta com apoio das forças de segurança. Além de moradores, policiais militares e guardas municipais estão conectados pelos grupos de WhatsApp.

— Antes, quando aconteciam furtos ou assaltos, as pessoas nem registravam ocorrência. Agora, quando a comunicação é feita, a Brigada Militar e a Guarda Municipal já ficam sabendo e, em pouco tempo, viaturas são deslocadas para cá — atesta o comerciante.

Moradora do bairro, a dona de casa Iclaci Carvalho, 61 anos, garante que passou a se sentir mais segura após a adoção das medidas comunitárias.

— É como se cada um cuidasse do outro. Quando saio, volto mais tranquila e me sinto assim também quando estou em casa — diz a mulher, que instalou câmera de segurança em sua residência.

Mesmo sem números exatos que comprovem quedas nas ocorrências, o major Eduardo Ramos, que responde pelo 26º Batalhão de Polícia Militar (BPM), garante que os objetivos estão sendo atingidos.

— Quando um de nossos monitores recebe alguma informação, deslocamos uma viatura para o local. Assim, temos conseguido realizar prisões, inclusive no Jardim do Bosque, onde, antes, enfrentávamos problemas de criminalidade — explica o major Ramos.

A função desempenhada pelos moradores, de repassar informações, é fundamental, diz o oficial.

— É importante que a comunidade seja o olhar da polícia. Não temos como deixar viaturas em todos os locais, 24 horas por dia — diz o oficial.

O subcomandante da Guarda Municipal de Cachoeirinha, Cristiano Menezes, concorda:

— Com a tecnologia, ficou mais fácil, tanto para nós, quanto para a Brigada Militar. Nos aproximou da comunidade, nos possibilitando passar orientações.

Ruas sem lixo e nova praça


A união entre os moradores do Jardim do Bosque para se proteger e evitar casos de violência foi expandida para outras situações do convívio comum. Pelos grupos de WhatsApp, passaram a ser denunciados também descarte irregular de lixo em terrenos baldios e em áreas de circulação. Com o tempo, a paisagem foi alterada.

—Em um local onde antes era acumulado lixo, fizemos uma praça, com brinquedos para crianças,   como balanço e gangorra, bancos e até um palco para eventos comunitários. E tudo com trabalho voluntário de pedreiros e marceneiros da própria comunidade — explica Droppa.

Pelas ruas, pneus velhos descartados como dejetos, foram transformados em floreiras. Também foi criado um sistema de reciclagem que gera arrecadação. O dinheiro é utilizado para o pagamento de cortadores de grama e outros prestadores de serviço em áreas comuns.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Espaços públicos foram revitalizados



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