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Efeito da concorrência

Número de taxistas cai 30% em Porto Alegre em pouco mais de um ano

Levantamento da EPTC mostra que a quantidade de condutores reduziu de 10 mil em novembro de 2017 para 6,9 mil em fevereiro de 2019

11/04/2019 - 21h09min


Eduardo Paganella
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Marina Pagno
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Quem circula por Porto Alegre percebe que está cada vez mais difícil ver um táxi rodando pelas ruas e avenidas. A queda não é mera impressão: levantamento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), feito a pedido da reportagem, mostra que, apesar da quantidade de veículos se manter relativamente estável, o número de taxistas com cadastros ativos — os que têm o "carteirão" — caiu 30% em pouco mais de um ano, passando de 10 mil em novembro de 2017 para 6,9 mil em fevereiro deste ano.

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Duas razões principais são apontadas como causadoras do fenômeno, uma delas relacionada à mudança de hábito do consumidor. Principal meio de transporte individual de passageiros há alguns anos, o táxi da Capital convive desde 2015 com aplicativos que apresentam, via de regra, preços mais baixos e comodidade, enquanto tarifas do táxi seguem subindo. Com menor procura, a atividade deixou de ser rentável.

O outro motivo seria a mudança na Lei Geral dos Táxis, proposta pela prefeitura e aprovada pela Câmara Municipal no ano passado. A nova regra trouxe uma série de mudanças para a categoria, como a obrigatoriedade do exame toxicológico, que identifica se os motoristas ingeriram drogas ou entorpecentes.

Enquanto a queda de motoristas é relevante, o mesmo não pode ser dito a respeito da quantidade de táxis. Os dados da EPTC mostram que o número de permissões, do final de 2017 para o início de 2019, variou negativamente 3%. A disparidade tem explicação: muitos permissionários acabaram assumindo o volante e trabalhando mais horas em vez de contratar um funcionário, na tentativa de lucrar mais. É o caso de Giovani Borges, 58 anos de idade e 30 de profissão, que trabalha no ponto do aeroporto Salgado Filho.

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Eduardo Paganella / Agencia RBS
Giovani Borges, 58 anos

— Eles (aplicativos) quebraram tudo. Não tem serviço — analisa. — O rapaz (funcionário) foi embora por causa do pouco serviço. Eu pego das 5h até as 15h. Ele pegava depois, mas não tinha mais serviço, e foi trabalhar no aplicativo. Imagina fazer R$ 100 e levar R$ 25 para casa — acrescenta.

Hoje, no período em que Borges não trabalha, o táxi não circula. Ele conta que só não procurou outra profissão por causa da idade:

— É rezar para que melhore. Eles (os apps) também estão matando cachorro a grito. Param aqui e conversam com a gente, está ruim para nós e para eles.

Eduardo Paganella / Agencia RBS
Gerônimo Oliveira, 37 anos

O movimento feito pelo funcionário de Borges não é incomum. Gerônimo Oliveira, 37 anos, não hesitou em também trocar o táxi pelo aplicativo após 10 anos de trabalho. Entre 2015 e 2016, sentiu que a maré estava virando e optou por migrar. O ex-taxista alugava dois prefixos de permissionários que não tinham mais condições de trabalhar, comprava os carros e contratava motoristas.

— Começou a diminuir a demanda com o Uber, POP, Cabify. A população estava primando por um serviço de mais qualidade. E os donos dos carros (táxis) estavam pedindo valores muito altos — conta Oliveira, que começou a utilizar o carro particular para levar passageiros por meio dos aplicativos.



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