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Descaso, vandalismo e falta de manutenção: como estão os viadutos da Terceira Perimetral

Reportagem visitou quatro elevadas da Capital que apresentam problemas na infraestrutura.  Prefeitura diz que depredação e furtos dificultam trabalho nos locais

29/07/2022 - 05h00min

Atualizada em: 29/07/2022 - 15h33min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Túneis de acesso escuros no José Alberto Mendes Ribeiro

Porto Alegre tem alguns viadutos importantes para a mobilidade urbana. Além do desafogo no trânsito, eles servem como ponto de baldeação para usuários do transporte público. E o Diário Gaúcho foi conferir como está a situação em quatro dos principais viadutos da cidade. As estruturas ficam ao longo da Terceira Perimetral. São eles: José Eduardo Utzig, Jayme Caetano Braun, Jorge Alberto Mendes Ribeiro e São Jorge. Os três primeiros foram inaugurados há mais de 15 anos e contavam com equipamentos modernos de acessibilidade, como elevadores e escadas rolantes. 

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Já o viaduto São Jorge, inaugurado em 2016, tem apenas rampas de acesso, sem qualquer equipamento que dependa de energia para funcionar e, principalmente, de reparos complexos. É um reflexo do descaso que atingiu os outros três espaços. Somados, os três locais têm 14 elevadores e 10 escadas rolantes. Deste total, oito elevadores e somente quatro escadas rolantes funcionam. Mas, não é um funcionamento constante, garantem usuários.

– Quer ver em dia de chuva, tudo para de funcionar. Os elevadores eu nunca uso, são extremamente sujos – pontua a telefonista Fátima Vaz, 67 anos.

Ela passa diariamente pelo viaduto José Eduardo Utzig, que faz a transposição da Avenida Dom Pedro II sobre a Avenida Benjamin Constant, na Zona Norte. No local, na verdade, existem dois viadutos, um para cada sentido da Dom Pedro II. Eles desembocam nas ruas Souza Reis e Pereira Franco. Quem vem das Zonas Sul e Leste, pode usar o local para ir ao Centro ou a Zona Norte. E vice-versa. Para a troca de nível, além de escadas normais, há duas escadas rolantes e dois elevadores. Todos os equipamentos estavam funcionando durante a visita da reportagem. Entretanto, os elevadores estão bastante desgastados pela passagem do tempo, além da sujeira. Inclusive, havia dejetos humanos no interior de um dos elevadores.

– É uma cena bem comum, vejo com frequência – cita Fátima.

Mendes Ribeiro

No nível superior, parte da cobertura das paradas no sentido Sul/Norte está retorcida por causa de um acidente, além de algumas das telhas metálicas faltando. Entretanto, a situação geral do viaduto José Eduardo Utzig chega a ser boa, se comparado com o viaduto Jorge Alberto Mendes Ribeiro. O complexo que liga as avenidas Carlos Gomes e Protásio Alves é um dos que mais sofre com o abandono na Capital. 

Há anos, os elevadores externos, no nível da Protásio já não funcionam mais. São quatro, que permitiriam a pessoas com dificuldades de locomoção acessar os espaços. Hoje, estas pessoas não tem como pegar ônibus no local. Na parte interna, três dos quatro elevadores funcionam. Mas, somente duas das oito escadas rolantes estão em operação. As duas que funcionam estão no nível da Avenida Carlos Gomes, no sentido Norte/Sul. Os equipamentos permitem que os usuários subam até o nível intermediário. O viaduto possui três níveis. 

Os túneis de acesso para quem vem da Protásio são escuros e pouco convidativos. Nestes pontos, algumas das portas dos elevadores externos tiveram painéis arrancados. Além das pichações, o vandalismo expõe boa parte das fiações, além de espaços visivelmente violados em tentativas de arrombamento. Ao menos, há banheiros no local, que são cuidados por dois funcionários terceirizados da prefeitura.

Pessoas em situação de rua são presença constante

O cenário é mais tranquilo no viaduto Jayme Caetano Braun, na passagem da Avenida Carlos Gomes sobre a Avenida Nilo Peçanha. O local conta quatro elevadores, três funcionavam durante a visita da reportagem. No nível inferior, o local é limpo e bem cuidado. As pichações são pouco vistas. No lugar, há grafites personalizados. A situação é mais complicada no nível superior, onde uma parada foi incendiada em junho, e segue sem reparo. 

No viaduto São Jorge, na passagem da Avenida Salvador França sobre a Avenida Bento Gonçalves, não há problemas significativos. Como o local não tem elevadores nem escadas rolantes, a manutenção é mais simples. O espaço é limpo e durante a visita da reportagem, havia até policiamento no local. 

– É bem tranquilo, sempre está limpo e sinto que tem segurança por aqui – diz a cozinheira aposentada Olívia Cardoso, 66 anos. 

A cena em comum nos quatro viadutos visitados pela reportagem, é a presença de pessoas em situação de rua. Em todos os espaços, há, em maior ou menor número, a presença de pessoas em extrema situação de vulnerabilidade social. Nas rampas do viaduto São Jorge, os abrigos formados pelos moradores de rua dificultam a passagem. No nível superior do viaduto Jayme Caetano Braun, um morador de rua praticamente já montou uma “casa”. A presença é menor no viaduto Mendes Ribeiro, com sinais de algo passageiro e não de quem já estabeleceu abrigo ali. No viaduto José Eduardo Utzig, a concentração é sob as vigas, onde os abrigos são maiores, mas também há acúmulo de lixo.

Novas promessas de reparos

No início de 2020, o DG já havia vistoriado os viadutos da Capital. Na época, a prefeitura explicou que licitações e prováveis parcerias estavam em curso. Dois anos depois, o cenário pouco mudou. No caso do viaduto Mendes Ribeiro, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi) explica que “foi realizada a licitação mencionada pela reportagem e os equipamentos foram sendo recolocados em funcionamento e modernizados depois de anos parados. No entanto, os equipamentos sempre sofreram com vandalismos e furtos, especialmente durante a pandemia, o que acarretou em inúmeros danos. Nesse caso, o contrato não teve robustez financeira para recorrentes consertos”. 

Segundo a pasta, o furto de fiações impede o atual funcionamento dos elevadores externos. Mais uma vez, o poder público aponta que “estuda a revitalização do viaduto, com pintura, reparos, remoção de pichação e modernização da iluminação, mas, para isso, ainda é necessária a análise estrutural do viaduto, que deverá ser feita pela Smoi”.

Contratação

Com relação aos abrigos de ônibus com partes danificadas, tanto no terminal Mendes Ribeiro quanto no José Eduardo Utzig, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU) informa que “trabalha na contratação de uma empresa para a realização dos reparos nos terminais de ônibus, para se somar aos atendimentos de urgência que são desenvolvidos pela equipe da Mobilidade”. A expectativa, segundo a pasta, é que a manutenção mais ampla deste e dos demais terminais inicie neste semestre. A prefeitura ainda afirma que “estuda-se alternativa de solução em longo prazo através de uma PPP ou concessão”.

A administração informou que a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) fazem trabalhos de limpeza e varrição dos viadutos rotineiramente. As pastas repassaram o cronograma onde cada local é atendido, ao menos, duas vezes por semana com varrição. Além de lavagem completa uma vez por semana, incluindo elevadores.

Sobre os problemas pontuais, a pasta informou que foi feita nova vistoria e os quatro elevadores do viaduto Jayme Caetano Braun apresentaram funcionamento normal. Sendo assim, o problema detectado durante a visita da reportagem pode ter sido algo pontual.

Guarda Municipal pede auxílio no combate à depredação

 A Guarda Municipal faz monitoramento rotineiro em viadutos da Capital, em especial o Mendes Ribeiro, onde há patrulha diária e onde já ocorreram prisões de criminosos que estavam furtando fios de iluminação pública. A prefeitura garante que “quanto à depredação e pichação, quando há flagrante, a GM atua na prisão”. Paralelo a isso, “estuda-se a implantação de câmeras no local para reforçar a segurança”.

A prefeitura também explica que vem realizando campanhas de conscientização para auxiliar na redução de crimes e reforçando pedidos para que “a população denuncie os crimes pelos telefones 153 e 156”. A ligação é anônima.

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