Polícia



Famílias dilaceradas

Cinco crimes seguem sem solução na Capital e Região Metropolitana

No ano em que os homicídios estão deixando as autoridades em alerta, o Diário Gaúcho reconta cinco casos que ainda intrigam a polícia. Duas coisas unem os episódios: a dor de familiares e a angústia pela demora em ver a justiça feita

12/06/2012 - 06h41min

Atualizada em: 12/06/2012 - 06h41min


Apos 5 meses do assassinato da filha, Sheila Oliveira Dornelles ainda briga por justiça

Em alguns crimes, a polícia evita dar detalhes. Em um caso, até já identificou suspeito. Porém, foi o Poder Judiciário que inviabilizou o andamento do processo.

Suspeito na rua, mãe angustiada

Não fosse o trabalho voluntário em oficinas de artesanato pelos bairros de Canoas, que lhe ocupa o tempo, Sheila Oliveira Dornelles, 47 anos, já teria desabado. Uma foto da filha Priscila, 23 anos, é guardada com mais carinho.

Sheila imprimiu um poema ao lado da imagem. Pretende fazer um quadro, mas não tem data. Talvez espere terminar a angústia que já dura 136 dias. A contagem diária é dela mesma. Representa o tempo em que o principal suspeito pelo assassinato de Priscila continua na rua.

Era noite do domingo, 29 de janeiro, quando Priscila foi alvejada duas vezes na cabeça enquanto assistia ao ensaio da Escola de Samba Rosas Douradas, na Vila Cerne, Bairro Harmonia, em Canoas.

Dois homens teriam chegado ao local, em frente à associação dos moradores, de moto. O carona desceu armado e caminhou até a jovem, que não teve reação.

Para a família, não resta dúvida de que um ex-namorado de Priscila, inconformado com o fim do relacionamento, foi o mentor do crime. A mãe guarda gravações de telefonemas ameaçadores recebidos por Priscila dias antes de morrer.

- Filhos também sofrem ameaças

Ela também havia registrado ocorrência contra o ex por agressão. No entanto, Priscila teria retirado a queixa. Segundo Sheila, o homem havia chantageado-a e ameaçado os irmãos.

- Naquele dia, ela foi sozinha até o ensaio e aconteceu a desgraça. Só queremos justiça - desabafa a mãe.

Um desejo que representaria não só o final da apuração de um homicídio, mas a segurança da família.

- Esse homem tinha agredido um dos meus filhos também. Ele ainda ronda a vila e, por um bom tempo, meus dois guris estavam com medo. É difícil viver com isso entalado na garganta - diz Scheila.

Um sujeito já está na mira

A polícia não revela a identidade do principal suspeito, mas a prisão preventiva dele foi decretada pela Justiça e há alertas em todo o país. O homem é considerado pelos investigadores da DP de Imbé o pivô de um assassinato cruel em janeiro desse ano.

Conforme o inquérito, a aposentada Regina Maria Antoniazzi, 65 anos, foi vítima de um latrocínio (roubo com morte) cometido por, pelo menos, um homem, que seria pedreiro e teria prestado serviços na casa dela.

- O objetivo dos criminosos era o carro e o dinheiro da vítima. Temos indícios da participação de mais gente - diz o delegado da DP de Imbé, Álvaro Buttelli.

O principal suspeito teria sido intimado, mas não se apresentou e teria sumido do Litoral. Seu depoimento é considerado fundamental.

Cenário foi assustador

Os investigadores também aguardam o resultado da perícia do material coletado na casa da aposentada.

- Havia cabelos e impressões digitais pelos cômodos - conta o policial.

A cena encontrada na casa no começo da noite de 19 de janeiro foi assustadora. Regina estava deitada na cama com as mãos amarradas. O fio de náilon que prendia os punhos subia pelas costas até o pescoço, enforcando-a. O carro dela, um Fiesta azul, foi levado. Horas depois, foi achado em Tramandaí, intacto.

Dois pedidos negados pela Justiça

A polícia e o Ministério Público compartilham da convicção de Sheila. Tanto que o suspeito foi denunciado. A prisão preventiva dele foi pedida duas vezes. Em ambas, a juíza Lourdes Helena Pacheco da Silva entendeu que não havia provas suficientes para mandar o homem à cadeia.

- Consideramos uma das nossas prioridades e seguimos colhendo dados que reforcem a denúncia - explica o delegado Erick Seixas.

Pelo menos uma parte foi resolvida. Identificado e com prisão decretada, Bruno dos Santos Reck, 21 anos, foi pego em abril pela Brigada. Ele é o suspeito de ser o atirador. Um revólver foi apreendido na casa do irmão dele.

Corpo carbonizado vira dilema

O amanhecer de 9 de maio de 2012 fugiu à normalidade no distrito da Costa do Ipiranga, zona rural de Gravataí. Um carro foi encontrado incinerado, com o corpo de um homem carbonizado dentro. Um mês depois, o caso virou um mistério para os investigadores da 1ª DP da cidade.

- O carro foi identificado, mas não tivemos retorno positivo de exames para a identificação da vítima. O caso está aberto - afirma o chefe de investigações, Jair Gonçalves.

- Arcada dentária não coincidiu

Dias depois do crime, surgiu a suspeita de que se tratasse de um homem desaparecido em Novo Hamburgo. Ele seria responsável pela segurança em casas noturnas do Vale do Sinos. O carro, um Gol, era mesmo da família. Seria da irmã, como ficou comprovado pela identificação do chassi. Mas a arcada dentária não teria batido com a do corpo.

O homem estaria amarrado e deitado no banco de trás. Este foi um dos dez corpos carbonizados na Região Metropolitana desde o final de abril.

O que aconteceu na casa do Bairro Nonoai?

Passado o primeiro mês da morte do contador Marcelo Henrique Prade, 46 anos, a família ainda espera por respostas que ajudem a entender o que aconteceu na casa dele na noite de 3 de maio.

- A gente só tem como aceitar quando entende. Os nossos pais são os que mais sofrem - contou o funcionário público Marco Prade, 49 anos, irmão da vítima.

A família quer saber por que e por quem Marcelo foi vendado, amordaçado e estrangulado. A casa, no Bairro Nonoai, foi revirada. Estofados foram rasgados e gavetas mexidas. Nada foi levado.

O único bem que sumiu, um Peugeot 307, foi recuperado no dia seguinte no Bairro Bom Jesus. Marcelo, que trabalhava no Sicredi, passara o dia em Osasco (SP). No final da tarde, pegou um avião de volta. Quando chegou no aeroporto da Capital, avisou a noiva, Lisiane Rocha Menna Barreto, 36 anos, que estava desembarcando. Eram 19h. Lisiane estava em um súper e, ao chegar em casa, encontrou a residência aberta. O corpo de Marcelo estava enrolado em um tapete.

Os policiais da 5ª DP seguem investigando o caso. A principal suspeita ainda é de um latrocínio (roubo com morte).

Mistério no caso das jovens executadas

Um crime bárbaro e que chocou os moradores da Ocupação do Hospital ainda é mistério para a Polícia Civil.

No dia 23 de maio, as jovens Samanta Rithiely Bernarbe e Thais Pereira dos Santos, 19 anos, foram encontradas mortas num descampado nos fundos do terreno da Ocupação do Hospital, na Avenida Protásio Alves.

Esfaqueadas, com sinais de agressão física, as duas também haviam sido amarradas e tiveram fogo ateado aos corpos, cercados por galhos e folhas secas.

Segundo o delegado Luciano Peringer, da 2ª Delegacia de Homicídios, do Deic, uma das possibilidades é a de que o crime tenha relação com a volta das duas à vila.

- Elas haviam morado no local. Foram para Gravataí e estavam residindo novamente ali - explica o delegado.

Na época, o que circulava pela Ocupação é que elas teriam sido ameaçadas por traficantes e, por isso, haviam ido embora para a cidade da Região Metropolitana. Os vizinhos, então, contaram que as duas tinham sido vistas de volta à vila para visitar parentes, e que teriam sido executadas.

Uma das jovens foi deixada na entrada da clareira, com as mãos amarradas para trás e o corpo coberto por galhos. O outro cadáver estava mais adiante, no meio da clareira, com sinais de tortura, marcas de ferimentos na cabeça e degolado. As facas ficaram presas aos corpos.

Por enquanto, o delegado Luciano ainda aguarda os laudos periciais para ter mais detalhes na investigação.

Em 2012, já são 529 homicídios* A média, por dia, é de 3,26 assassinatos Nessa média, serão 1.191 mortes no ano

* Números da planilha do Diário Gaúcho, que reúne Porto Alegre e mais 18 cidades da Região Metroplitana e Vale do Sinos


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